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Major Capilé curava doenças em farmácia, conta neto do pioneiro

Helio de Freitas, de Dourados | 13/12/2015 07:57
Major Capilé curava doenças em farmácia, conta neto do pioneiro
O arquiteto Manoel Capilé, neto de Major Capilé, pioneiro de Dourados (Foto: Chico Leite/Divulgação)
O arquiteto Manoel Capilé, neto de Major Capilé, pioneiro de Dourados (Foto: Chico Leite/Divulgação)

O arquiteto Manoel Capilé, o Maneco, é irmão do ex-prefeito João Augusto Capilé Júnior, o “Sinjão”, e neto do Major Capilé, um dos primeiros farmacêuticos de Dourados, cidade que no dia 20 deste mês completa 80 anos de emancipação. Maneco conta histórias do avô, que trata as pessoas na farmácia, com conhecimento prático.

Maneco nasceu na Fazenda Novilho em Caarapó e só na adolescência se mudou para Dourados. Filha de João Augusto Capilé e Julia Frost, ele conta que o primeiro a chegar ao então Mato Grosso foi o avô, o Major Capilé, em 1913, que primeiro se estabeleceu em Entre Rios, atual cidade de Rio Brilhante. Quando o major já estava instalado em Dourados, veio o pai de Maneco, filho do major.

Manoel Capilé lembra que seu pai João Augusto teve 19 filhos, mas apenas 15 sobreviveram. Quatro morreram de doenças comuns naquela época. “O mais velho, se estivesse vivo, teria 115 anos mais ou menos”, afirma.

Maneco é o mais novo dos irmãos. Sinjão, que foi prefeito de Dourados, morreu no dia 2 de junho deste ano, em Cuiabá (MT), aos 99 anos. O arquiteto se recorda da infância na fazenda do pai. “Aquilo ali para mim era o mundo todo”. Segundo Maneco, nessa época chegar de Caarapó a Dourados e a Ponta Porã era uma aventura de semanas em carro de boi cortando matas povoadas por onças.

Na infância, Maneco morou em frente onde existe atualmente a agência central dos Correios, na Avenida Weimar Torres, onde terminava a cidade. “A Weimar era o limite, de lá para cá era a chácara do seu Câmara”, diz ele, citando a propriedade de João Cândido Câmara, onde ia com os amigos para o meio do mato caçar passarinho. “O primeiro que matei fiquei triste, nunca mais cacei passarinho”.

Lembrança do avô – Maneco conviveu bastante com o avô. Apesar de pequeno, conta que conversava muito com o Major Capilé. Gostava de ir à farmácia, onde o pioneiro tratava as pessoas com seu conhecimento prático. Capilé não era militar, mas ganhou a “patente” de major como muitos da época.

Maneco conta que naquela época muitas pessoas adquiriam estes títulos pela importância que representavam na sociedade e desempenhavam papel de autoridades. “Não deixava de ser uma autoridade, mas não era militar”.

Em 1913, quando Major chegou, Maneco contra que as pessoas eram obrigadas a ter domínio e conhecimento de tudo, por questão de sobrevivência. “Recurso médico não existia e as pessoas tinham que se virar. Remédios eram feitos com vegetais, manipulados pelo meu avô”.

Segundo o arquiteto, Major Capilé ele era farmacêutico, mas não tinha formação, apenas conhecimento prático. “Ali ele curava até leishmaniose. As pessoas muitas vezes vinham de fazendas e sítios para a cidade e ficavam hospedadas com meu avô, que as medicava por vários dias. As pessoas sobreviviam dessa forma e muitas morriam por doenças que na época eram desconhecidas”, afirma ele, completando que boa parte da história era contada pelos irmãos mais velhos, Julio e Sinjão.

No Rio de Janeiro – Aos 11 anos idade, Maneco se mudou para o Rio de Janeiro. O choque com a cidade grande foi inevitável, mas as dificuldades pareciam as mesmas do “meio do mato”, de onde tinha saído. “Para obtermos um telefone em 1947 entramos numa fila da companhia telefônica e ficamos 10 anos. Só em 1957 foi instalado nosso telefone no Rio de Janeiro”.

Segundo Maneco, seus irmãos mais velhos já moravam no Rio quando seu pai vendeu tudo e seguiu com o resto da família para a cidade grande.

De Dourados, onde tinha toda liberdade, Maneco passou a viver em um apartamento no quinto andar, onde passava o dia olhando pela janela. “Era uma gaiola. Isso para um guri douradense de 11 anos!”. Na época não existia o termo, mas Maneco diz que sofreu bullying na escola por parte dos colegas, por causa do sotaque. “Eu sofri, mas sobrevivi”.

Maneco ficou no Rio até 1966, quando se mudou para São Paulo. Em 1980 veio para Dourados, onde chegou junto com a mecanização da lavoura, o que impulsionou o desenvolvimento da cidade. “Não me arrependo, porque hoje não voltaria para São Paulo de jeito nenhum para morar lá”.

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