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Economia

Em 15 anos, número de garagens em "corredor dos seminovos" caiu 40%

Cerca de 48 revendedoras de veículos ainda resistem à adversidades do tempo e mais profissionais aguardam melhora nas negociações.

Anahi Gurgel | 21/07/2018 11:08
Registro da Avenida Bandeirantes, na tarde desta segunda-feira (16), e suas cerca de 48 revendas que ainda "resistem" às adversidades do tempo. (Foto: Fernando Antunes)
Registro da Avenida Bandeirantes, na tarde desta segunda-feira (16), e suas cerca de 48 revendas que ainda "resistem" às adversidades do tempo. (Foto: Fernando Antunes)

Já foram tempos áureos os de uns 15 anos atrás, quando a Avenida Bandeirantes, em Campo Grande, recebia milhares de pessoas todos os meses interessadas em vender ou comprar veículos usados. O tradicional ponto, que já chegou a ter 80 revendedoras espalhadas ao longo de 2 quilômetros de extensão, hoje possui umas 48, “com menos picaretagem, mais profissionalismo e esperança de melhora”.

É dessa forma que definem o atual momento da via, os poucos empresários que ainda resistem às constantes intempéries do mercado local, entre elas crises financeiras, mudança de perfil da clientela e até mesmo a expansão da internet.

Para Fábio Bellini Marin, 46, sócio-proprietário de uma revenda desde 2011, o cenário mudou muito nos últimos anos. “Eu e meu irmão já tínhamos experiência na área. Em 2002 estava fantástico e, hoje, o que conta é a confiança na relação de consumo. Tivemos escândalos por causa de picaretagem, abalou o mercado e deixou o cliente mais exigente. Há mais profissionalismo hoje”, percebe.

“Estamos sobrevivendo, sempre em adaptação aos clientes. Os mais antigos é que dão sustentação ao negócio. Isso sem contar o desafio para conseguir aprovação de financiamento”, descreve.

Fábio Belline no pátio de sua revenda, acredita que o mercado vai melhorar. "Clientes mais antigos sustentam o negócio)". (Foto: Anahi Gurgel)
Fábio Belline no pátio de sua revenda, acredita que o mercado vai melhorar. "Clientes mais antigos sustentam o negócio)". (Foto: Anahi Gurgel)

Ele se refere ao score de crédito, resultado dos hábitos de pagamento e relacionamento do cidadão com o mercado. Quanto mais o cidadão paga suas contas em dia, maior será sua pontuação e as chances de aprovação de financiamento junto aos bancos.

Quem também sente a diferença no mercado é o vendedor Marco Vilalba, 40, há 15 anos no ramo.

“O que mantém as empresas na Bandeirantes são os clientes mais simples, muitos do interior, que preferem esse contato direto com a revenda. Muitos se sentem acanhados em entrar nas concessionárias 'chiques' de outros pontos da cidade. Aqui ficam mais à vontade”, relata.

Ele acredita que a internet com as suas possibilidades de pesquisa prejudica bastante o negócio.

"Tem gente que vê em site o valor de um veículo e chega aqui querendo aquele preço. Mas é preciso fazer uma avaliação completa, condizente com a realidade. Tem muito fake e isso é um empecilho grande", conta.

Por mês, no local onde ele trabalha, são feitas cerca de 14 negociações, "com sacrifício". 

Movimento nas revendedoras de veículos, nesta tarde (16). Está melhorando de dois anos para cá. (Foto: Fernando Antunes)
Movimento nas revendedoras de veículos, nesta tarde (16). Está melhorando de dois anos para cá. (Foto: Fernando Antunes)

So los fuertes sobreviven -  Com média de 770 veículos no pátio, Paulo José da Silva, 49, é um dos mais antigos no ramo na Bandeirantes e se recorda quando houve proposta para mudar o nome da via para “Avenida do Carro”.

“Era uma época muito boa. De 2008, quando uma forte crise assolou a economia geral, a redução nas negociações foi de 50%. Eu vendia uns 68 carros por mês, hoje são cerca de 30”, calcula.

Ele sente que as pessoas pensam mais antes de fechar negócio, batem perna mesmo, fuçam na internet, mas que ainda buscam a credibilidade de uma revenda, em relação à documentação e garantias, por exemplo.

“Vejo com tristeza essa paradeira, mas creio que vai melhorar. Não penso em abandonar o ramo, é paixão, foi aqui que criei minha família”, destaca Paulo, que optou por abrir uma empresa de pisos para equilibrar as finanças.

Paulo José, em frente ao pátio de sua empresa, é um dos sobreviventes do segmento na Bandeirantes. (Foto: Anahi Gurgel)
Paulo José, em frente ao pátio de sua empresa, é um dos sobreviventes do segmento na Bandeirantes. (Foto: Anahi Gurgel)

"Eram garagens" - Foi por volta do ano de 2000 que a Bandeirantes começou a chamar atenção para revenda de veículos. “Um empresário decidiu abrir, deu certo, e outros também seguiram a ideia”, lembra Cláudio Reis, um dos diretores do Sindvel/MS (Sindicato dos Revendedores de Veículos Automotores) e também empresário, há "19 anos, 2 meses e 48 dias", bem contados.

"Houve muita falcatrua, infelizmente. Também crises financeiras apertaram o segmento e “aventureiros” resolveram entrar no setor, deixando a clientela cabreira. Mas vejo que tudo isso fortalece os que ainda estão aqui. Só com profissionalismo e honestidade é possível continuar", pontua.

Ele também descreve que outras adversidades estão na desvalorização de carros usados, que levam pessoas a comprarem carros novos.

“Diminuiu lucro, mas aumentou a confiabilidade. Se todos tiverem consciência disso, o mercado na Bandeirantes pode dar um salto tremendo”, espera, dizendo que houve melhora desde o ano passado.

Hoje, Campo Grande possui cerca de 200 lojas de veículos, com aproximadamente 600 negociações por mês. Na Bandeirantes, as 48 empresas – cerca de 5 a cada duas quadras - comercializam em média 5 mil unidades.

Na Avenida Bandeirantes, carteiro percorre trecho onde diversas revendas estão localizadas. (Foto: Fernando Antunes)
Na Avenida Bandeirantes, carteiro percorre trecho onde diversas revendas estão localizadas. (Foto: Fernando Antunes)
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