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Economia

Empreendedorismo feminino cresce e mostra o que elas sempre fizeram

Mulheres já são maioria nos empreendimentos iniciais, mas ainda há muita informalidade entre elas

Tatiana Marin | 18/12/2018 08:00
Na maioria das vezes, o empreendedorismo para as mulheres é uma necessidade. (Foto: Pixabay)
Na maioria das vezes, o empreendedorismo para as mulheres é uma necessidade. (Foto: Pixabay)

Elas podem ser mães, com seus trinta e poucos anos, com formação universitária. Para algumas, a abertura de um negócio é a saída para obter renda, outras aproveitaram uma oportunidade do mercado. O empreendedorismo feminino vem crescendo, mas este fenômeno resulta da formalização de algo que as mulheres sempre fizeram, que é batalhar.

Dados da pesquisa realizada pela GEM (Global Entrepreneurship Monitor) divulgada pelo Sebrae-MS mostram que os empreendimentos iniciais têm maior participação de mulheres. Em 2017, a taxa de empreendedorismo inicial (que é a porcentagem da população brasileira de 18 a 64 anos que é empreendedor nascente, ou seja está envolvido na estruturação de um negócio do qual será proprietário, ou novo) aponta que 20,7% compõe-se de mulheres e 19,9% de homens.

Em empresas já estabelecidas, eles ainda são a maioria. A taxa fica em 18,6% para o público masculino e 14,4% para o feminino. Os dados do Portal do Empreendedor confirmam e mostram os homens como maioria dos MEIs (microempreendedores individuais); no Mato Grosso do Sul, eles são 57.426, enquanto as mulheres somam 50.524. Entretanto, no Estado, o Sebrae observa que a participação feminina vem crescendo. A taxa aumentou de 33,44% no segundo trimestre de 2016 para 39,86% no mesmo período de 2018.

Quem são elas

Os números poderiam ser maiores, não fosse a timidez das mulheres em tomarem posse da sua capacidade. Segundo Caroline Reis, consultora empresarial e embaixadora da RME (Rede Mulher Empreendedora) no Mato Grosso do Sul, a busca do público feminino pelo empreendedorismo se sobressai nos últimos 10 anos, mas é algo que as mulheres sempre fizeram.

Caroline Reis, consultora empresarial e embaixadora da RME em MS. (Foto: Divulgação)
Caroline Reis, consultora empresarial e embaixadora da RME em MS. (Foto: Divulgação)

“É aquela mulher que faz bolo, costura, cuida de bebês, são as artesãs. Tem muita informalidade. A mulher não se vê como empresária, mas empreendem desde sempre e estão agora se apropriando disso. A mulher vê isso como uma questão de sobrevivência, de geração de renda, não uma opção de vida”, explica.

Uma pesquisa promovida pela RME realizada com quase 1400 mulheres em 2016 traçou um perfil das empreendedoras no Brasil. A idade média delas é de 38,7 anos, 79% tem formação universitária, 61% é casada ou tem um companheiro e 55% tem filhos.

O principal motivo que as levam a abrir o próprio negócio é sumamente emocional. Trabalhar com o que gostam/realizar um sonho foi citado por 66% das entrevistadas. Flexibilidade de horário e ter uma renda maior foram mencionados por 52% e 40% respectivamente. Já, 35% delas indicaram ter encontrado uma oportunidade.

Caroline ressalta uma das diferenças entre as mulheres e os homens no mercado de trabalho. “O homem, quando vê uma vaga de emprego, ele se candidata, não quer saber se sabe fazer. A mulher só se arrisca se realmente se achar capaz, se ela achar que não cumpre o requisito, nem manda currículo”, define.

A característica se reflete na busca pela capacitação. As mulheres que desejam empreender ou já são empreendedoras são a maioria a procurar a AJE-MS (Associação dos Jovens Empreendedores do Mato Grosso do Sul). De acordo com Sullivan Vareiro Braulio, presidente da entidade, entre os cerca de 2 mil associados, 80% são mulheres. Além disso, elas foram a maioria entre os participantes de cursos oferecidos pelo programa da associação, o Primeira Empresa. “As mulheres se capacitam mais para gerenciar os negócios e, em geral, são mais preparadas”, afirma Sullivan.

Por perceber as dificuldades em torno do mundo feminino, a AJE-MS também criou o programa Batom & Prosa que são rodas de conversa para trocas de experiências. “A mulher tem um desafio a mais para empreender, por ser dona de casa mãe”, explica Sullivan. O Batom & Prosa traz outras empreendedoras, que têm os mesmos desafios, para mostrar, principalmente para as jovens, que é possível vencer”, finaliza.

Da necessidade à oportunidade

Neste mundo de negócios há empreendedores por necessidade e por oportunidade. O primeiro tipo é composto por pessoas que decidiram abrir uma empresa por causa de alguma situação em que se viu obrigado a tal. Já o segundo, são pessoas que perceberam uma chance no mercado.

Sonho em prática - A psicopedagoga Fábia Jacob, de 44 anos, tinha um sonho, mas somente colocou em prática quando, depois de ter trabalhado por 7 anos como funcionária pública em hospitais, se viu na fila do emprego. “Fiquei um ano procurando e não consegui encontrar um emprego. Me vi naquela situação que mostram nos jornais, de filas quilométricas de pessoas procurando por emprego. Tinha que fazer alguma coisa, estava sem salário, precisando pagar contas”, relata.

Fábia criou um espaço lúdico para crianças. (Foto: Divulgação)
Fábia criou um espaço lúdico para crianças. (Foto: Divulgação)

Fábia abriu o espaço lúdico Pedacinho de Vida para crianças a partir de 4 meses até 5 anos. O estabelecimento, que há tem 3 anos, é algo entre uma creche e uma escola e hoje atende quase 30 crianças, onde elas aprendem com jogos e brincadeiras, de acordo com a idade.

“Comecei em uma casa pequena e fui fechando convênios. Depois tive que mudar de endereço, para um local maior”, conta. “O primeiro ano foi difícil, com os impostos e contas. Inicialmente abri a empresa com uma amiga, mas ela desistiu por conta das dificuldades. Realmente não é fácil abrir uma empresa. Mas dei continuidade, chamei meu namorado para a sociedade e hoje ele é meu marido”.

Tempo para o filho - Desde que se tornou mãe, há 7 anos, Glaciele de Figueiredo, de 38, já fazia os bolos de aniversário do filho. Mas foi quando sofreu um acidente de moto e precisou consertar seu único meio de condução é que ela viu maior necessidade de empreender.

Glaciele de Figueiredo empreendeu em algo que já sabia fazer, a confeitaria. (Foto: Divulgação)
Glaciele de Figueiredo empreendeu em algo que já sabia fazer, a confeitaria. (Foto: Divulgação)

“Comecei a fazer amendoim torrado com chocolate que a minha mãe fazia. Meus amigos me incentivaram e comecei a vender. Deu bastante resultado”, relembra a empresária. Há três anos Glaciele vende bolos e amendoim, já tem empresa constituída e planeja a abertura de uma loja.

“Não sabia como ia ser, mas comecei a ver resultado. Com isso fui adquirindo mais conhecimento”, declara. Seu carro chefe é a confeitaria e por enquanto ela é a única a tomar conta das encomendas e da divulgação nas redes sociais. Ainda assim, é o meio pelo qual ela consegue cuidar da família. “Se não fosse isso, não teria tempo para estar cuidando do meu filho. Hoje estou mais próxima dele e da minha mãe, que precisa da companhia”.

Nas férias - Juliana Vieira, de 34 anos, já era formada em zootecnia e cursava medicina veterinária quando, num período de férias cuidou do cavalo da família e percebeu uma grande oportunidade. “Comecei a mudar a alimentação dele e o resultado foi muito bom”, relembra. “Depois disso, minha tia conversou comigo e me incentivou a abrir um negócio voltado a esse público”, acrescenta.

Juliana Vieira Medina, que viu na nutrição equestre uma oportunidade de empreender. (Foto: Divulgação)
Juliana Vieira Medina, que viu na nutrição equestre uma oportunidade de empreender. (Foto: Divulgação)

Em janeiro de 2017 ela iniciou os trabalhos com nutrição para cavalos atletas. “Comecei atendendo alguns cavalos aqui (em Campo Grande). Desenvolvi outras técnicas, inseri produtos. Passei a atender não só em Mato Grosso do Sul, como no Paraná e Rio de Janeiro. Em dois anos consegui crescer e entrei para o universo dos cavalos como referência no aspecto de nutrição para hipismo”, conta. Ela ainda tem planos de abrir uma filial da Nutri Equus no interior de São Paulo e no Nordeste no ano que vem.

Com a expansão da empresa e o aumento da equipe, Juliana pretende retomar o curso de medicina veterinária, que precisou interromper para cuidar dos negócios. Assim ela poderá, além de atuar na área de nutrição comportamental, realizar atendimento fisioterápico para cavalos atletas.

Paralelamente, outra ideia da empresária toma forma. “Começou com a ideia de um ‘Tinder’ para cavalos, mas virou rede de relacionamento equestre, que tem o objetivo de conectar pessoas ligadas a cavalos, proprietários, veterinários, atletas”, descreve. O aplicativo Horse4U está em desenvolvimento e deve ser lançado em março de 2019.

Para Juliana, o empreendedorismo teve um desafio a mais pelo fato de ser mulher. “O trabalho com cavalo ainda é um mundo masculino demais, mas com jeitinho feminino, hoje as pessoas confiam muito em mim, principalmente por ser mulher”, afirma e confessa que todos seus clientes são mulheres, que no mercado equestres, segundo ela, lidera muito mais do que os homens e estão na posição de proprietárias, veterinárias, treinadoras, donas de centro equestre e apresentam uma dinâmica diferente.

“Acabei descobrindo as mulheres são mais fortes,
são as mães que acompanham os filhos nas provas
e quando são os homens, sempre tem uma mulher por
trás, uma fisioterapeuta, uma esposa, uma mãe”,
e completa, “se você tem vontade de fazer algo, faça.
O fato de ser mulher não diminui em nada a capacidade
de fazer a diferença. O mundo precisa de pessoas
que façam a diferença, independente de serem
homens ou mulheres”.

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