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Arquitetura

Para realizar o sonho da avó, Solange coleciona antiguidades desde a infância

Thailla Torres | 21/08/2017 06:05
Casa abriga milhares de objetos antigos colecionados por Solange.
Casa abriga milhares de objetos antigos colecionados por Solange.

A casa de Solange já chama a atenção pelo azul forte na fachada, em contraste com o verde intenso do portão. Pelas frestas, é quase impossível enxergar o interior do quintal diante do labirinto de flores que cobre a residência na Região Norte de Campo Grande.

Do lado de dentro, o cenário é ainda mais impressionante. Dona de casa, Solange Gomes Bezerra Nakashima, de 62 anos, é uma apaixonada por antiguidades. Mas o desejo pelas peças ultrapassou limites, e hoje há objetos por toda parte.

Andar pela casa exige passos cuidadosos para não esbarrar em alguma relíquia que tem tamanho valor afetivo. É tanto objeto que ela já perdeu as contas do tanto de bens. "Olha, se for contar mesmo, aqui tem mais de 3 mil peças", diz.

Uma das 9 santas feitas a mão por Solange. (Foto: Marcos Ermínio)
Uma das 9 santas feitas a mão por Solange. (Foto: Marcos Ermínio)
Cristaleira tem mais de 60 anos. (Foto: Marcos Ermínio)
Cristaleira tem mais de 60 anos. (Foto: Marcos Ermínio)

São quatro ambientes cheios de antiguidades. Quarto, sala de estar, jantar e até a cozinha ganharam uma decoração retrô feita por Solange. Apaixonada pelo verde, geladeira e armários foram pintados por ela.

Na sala de jantar, a maioria das peças adquiridas tem mais de 60 anos. Outras são réplicas de modelos clássicos como uma cristaleira semelhante as que existem na famosa cafeteria Colombo no Rio de Janeiro. “Era um sonho ter uma dessa e eu consegui. Depois pintei alguns detalhes de dourado como se fossem ouro”, diz.

O interior da cristaleira é cheio de taças de cristais lapidados a mão. Há também duas taças banhada a ouro, outra conquista da colecionadora. “Essas eu comprei fora daqui, nem me recordo mais quanto paguei”.

Tudo começou por um pedido da avó. “Vovó falou que ia morrer e ninguém daria valor nas coisas antigas dela. Então eu disse que cuidaria e fiquei com as peças”.

Solange prefere não falar em valores. Sabe que o sonho de colecionar antiguidades exige um investimento alto, mas deixa os números de lado por um sonho. “Eu amo cada peça dessa, o preço não importa”.

Jogo de sofá, é o mimo da casa.
Jogo de sofá, é o mimo da casa.
Apaixonada por ver, até a geladeira foi pintada.
Apaixonada por ver, até a geladeira foi pintada.

O trabalho como marchand durante a juventude também lhe rendeu boas aquisições. “Todo meu salário era revertido em mercadoria. Eu trabalhava para isso”, sorri.

Mesas, cadeiras, quadros, decoração, telefones e santos são a maioria entre os objetos, e alguns ainda mais especiais como a cadeira de missa, que também era um sonho de infância. “Sempre fui muito religiosa e antigamente os padres levavam essas cadeiras, era meu sonho ter uma dessa. Ela veio de Mundo Novo, na Bahia”, conta.

Em uma das cristaleiras está uma Nossa Senhora Aparecida, com manto bordado por Solange. Fez parte de uma novena especial dedicada aos amigos. “Bordei nove santas e dei uma para cada amigo que estava precisando de uma graça dela”, diz.

Além de colecionar, o cuidado com as obras se tornaram uma distração para Solange que, há 30 anos, lida com uma das maiores perdas que já teve na vida. “Minha filha morreu em um desastre e até hoje lembro dela”, resume, ao olhar uma das fotografias em destaque na parede.

A filha caçula morreu atropelada aos 10 anos de idade quando morava com a família em Mato Grosso. “Ela estava voltando de uma festa junina, era muito próximo de casa, mas eu ainda pedi para que ela não fosse. Lembro como se fosse hoje, ela atravessou e um caminhão veio”, conta.

Do portão até a sala, Solnage fez um labirinto de flores. (Foto: Marcos Ermínio)
Do portão até a sala, Solnage fez um labirinto de flores. (Foto: Marcos Ermínio)

Em seguida, desvia o assunto e volta admirar as obras que são bem cuidadas graças a sua dedicação. “Eu que limpo tudo. Aliás nunca consegui manter uma funcionária em casa, sempre alguém quebra alguma coisa, então prefiro fazer tudo sozinha”.

No fim do ano, por conta de tanta decoração, a casa vira um espetáculo para a família. “Gosto de decorar cada cantinho, usamos pratarias e as taças da cristaleira. É uma ceia como antigamente, cheia de detalhes e tradições. A família fica encantada”, revela.

Solange diz que alguns acham maluquice tanto objeto, mas ela não se importa. “É tudo meu e bem cuidado. Tem gente que acha velharia, mas eu acho um tesouro. Isso tudo aqui é meu tesouro”.

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Cadeira de missa comprada por ela Salvador. (Foto: Marcos Ermínio)
Cadeira de missa comprada por ela Salvador. (Foto: Marcos Ermínio)
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