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Artes

Antes de aprender a ler, turma já cria roteiro e tem texto na ponta da língua

Criançada garante que já é boa até em chorar quando o assunto é encenação; Todos fazem parte do coletivo de Artista - Grupo Casa

Danielle Valentim e Alana Portela | 04/10/2019 08:40
Giovanni abraçando a filha Giovana, do lado Tatiana com os filhos Hadassa e Miqueias e, por último, Thais com a filha Talita. (Foto: Alana Portela)
Giovanni abraçando a filha Giovana, do lado Tatiana com os filhos Hadassa e Miqueias e, por último, Thais com a filha Talita. (Foto: Alana Portela)

Que a arte transforma isso todo mundo já sabe. Agora imagina uma criança que ainda não escreve e não lê, mas que já monta uma peça teatral? O roteiro brota da criatividade e o texto é decorado com a ajuda dos pais e professores.

Uma turminha do Grupo Casa conversa como gente grande e deixa até os pais de queixo caído. Em poucos minutos de conversa, os baixinhos chamam a atenção com o desenvolvimento e uma memória de “elefante”.

A pequena Talita Farias Rodrigues, de 7 anos, decorava as próprias criações com a ajuda da mãe. Para esse ano, ele já preparou uma releitura de Chapeuzinho Vermelho.

Primeira peça de Talita teve a ajuda da mãe para decorar. (Foto: Alana Portela)
Primeira peça de Talita teve a ajuda da mãe para decorar. (Foto: Alana Portela)

“A minha primeira peça foi sobre uma bailarina. Como não sabia ler, minha mãe falava e eu repetia até decorar tudo", conta a garotinha. Talita assume que ficou nervosa, mas agora que já sabe como funciona, acredita que será mais tranquilo. "Para esse ano, eu ainda não coloquei no papel, mas o roteiro da peça está na minha cabeça: “A menina que se perdeu na floresta”, inspirada na Chapeuzinho Vermelho", fala. Diferente do original, no roteiro de Talita, a menina conversa com todos os bichos, não só com o lobo. "Eu também dei apelidos para os animais, por exemplo, a aranha é a simpática, a raposa sorridente, a cobra esperta e a barata ligeira. Levei uma semana para elaborar esse enredo. Hoje, em casa, já até ensaiei um pouco”, relata. 

A mãe de Talita, a bióloga Thais Farias, conta que tudo partiu da filha e hoje o teatro trabalha criatividade e o enfrentamento de seus medos. “A gente estava andando no shopping e bem no dia estava tendo uma poesia do Manoel de Barros. Ela disse: Eu conheço Manoel de Barros. Então, a desafiaram a cantar uma música do poeta. Ela subiu e cantou uma canção do Crianceiras", recorda a mãe. "Ela só tem 4 anos, para mim como mãe é super emocionante. Ela sempre gostou muito de se apresentar, então é uma satisfação e um orgulho muito grande”, conta.

Hadassa diz que já e boa em chorar. (Foto: Alana Portela)
Hadassa diz que já e boa em chorar. (Foto: Alana Portela)

Boa parte do grupo foi incentivada depois de assistir outras apresentações. A pequena Hadassa Raphaele de Oliveira Maciel, de 8 anos, já tem dois anos de teatro e garante que ficou “boa em chorar”.

“Fiquei um pouco envergonhada na minha primeira aula, mas achei legal. Primeiro dia, vi as outras pessoas ensinando e foi legal", comenta. A primeira peça que trabalhou foi a da Chapeuzinho Vermelho, com alguns ajustes na história. Hadassa também participou de uma peça chamada "A maldição da banana", junto com o irmão. "Eu era assistente dele, foi uma apresentação bem legal. Nesse ano preparei "A casa do salgadinho" inspirada no meu pai, que ama salgados. Na peça eu sou um salgadinho de esfiha", descreve. Para o espetáculo, até na música a menina pensou. "Eu fiz a letra: 'Quando um salgado cai perto de uma árvore vira uma salgadeira, salgado, salgado, salgado'. Gosto bastante do teatro, porque me faz usar a criatividade. Sou boa até em chorar e já enganei meu pai assim", admite a estudante que quer ser cantora quando crescer. 

Miqueias viu que poderia ser comediante assistindo programas de televisão. (Foto: Alana Portela)
Miqueias viu que poderia ser comediante assistindo programas de televisão. (Foto: Alana Portela)

Irmão da atriz que já sabe até chorar, Miqueias David Maciel de Oliveira, tem 10 anos e dois de teatro. Ele garante que enxergou a comédia dentro de si assistindo a vídeos, só que mesmo gostante da área, resolveu produzir em cima do tema solidão.

“Via comédia na TV e perguntei pra minha mãe o que poderia fazer para mostrar a minha comédia e ela disse: teatro. Ela me levou para ver apresentações e gostei", lembra. No meu primeiro encontro, Miqueias escreveu sobre a solidão e o drama de um menino que sofria bullying baseado na sua própria história, porque na época passou por isso. "Lembro do poema até hoje: 'solidão um amor sem paixão, um coração caído no chão'. Nesse ano vou falar sobre o Big Bang e que a terra tem formato de rosquinha", fala.

A inspiração veio a partir de um vídeo assistido pelo garoto, que prega a teoria de que a Terra é plana. "Nessa peça também me baseio num livro sobre a Teoria do Big Bang. Começo assim: existia um grão de areia que explodiu e criou tudo que você está vendo, até esse poema", reproduz. Entre criar o roteiro e adaptar, foram dois dias de produção. 

A mãe do casal, Tatiana Maciel, admite que não acreditou que eles tinham escrito a primeira peça sozinhos. “Eles falaram que queriam fazer teatro e eu tive que correr atrás. O teatro melhorou muito o desenvolvimento deles. Eles nunca foram tímidos, mas eram estabanados e elétricos demais. E como eles descarregavam a energia aqui usando a criatividade e com dança, passaram a organizar melhor as ideias. Quando vi a primeira peça eu duvidei, mas a professora confirmou. Fiquei impressionada”, conta Tatiana.

Gioivana ainda não lê 100%, mas também já montou peça.(Foto: Alana Portela)
Gioivana ainda não lê 100%, mas também já montou peça.(Foto: Alana Portela)

Com apenas 6 anos, Giovana Villa Alves ainda não lê 100%, mas já prepara uma releitura de Rapunzel e Aurora. “Quando minha irmã estava fazendo teatro eu quis fazer também e me apaixonei. Na primeira apresentação que foi do “Sorvete de Creme com Chocolate” foi bem difícil", recorda. Para o final de semana, Giovana preparou a adaptação "A Princesa da Torre". "Sei escrever mais ou menos e ainda estou aprendendo a ler. Eu posso esquecer alguma coisa, mas eu sempre ensaio", explica. 

O pai de Giovana, o professor Giovanni Ferreira, lembra muito bem da primeira peça da filha. “A irmã da Giovana era tímida e, por isso, decidimos colocá-la no teatro. A Giovana sempre foi mais despachada, mas foi mais no sentido de desenvolvimento. É fantástico isso, porque a Giovana não sabia ler no primeiro espetáculo, mas ela criou o texto e foi incrível o desenvolvimento das duas", frisa Giovani.

Todos fazem parte do coletivo de Artista - Grupo Casa e para continuar com o Eteca (Encontro de Teatro entre Crianças) uma vaquinha virtual foi organizada. O objetivo é arrecadar R$ 49.900 para pagar os 80 profissionais envolvidos no projeto, que é gratuito. A ideia é promover dez apresentações entre 8 e 13 de outubro, em Campo Grande.

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