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Artes

Cinema de MS vive bom momento, mas sobrevive da criatividade e persistência

Elverson Cardozo | 18/02/2014 07:24
Gravação do filme "Espera", produzido pela Render Brasil. (Foto: Márcio Padilha)
Gravação do filme "Espera", produzido pela Render Brasil. (Foto: Márcio Padilha)

Produtor e integrante da diretoria do colegiado audiovisual de Campo Grande, Airton Raes, 30 anos, tem uma visão otimista do cinema produzido na cidade. Na avaliação dele, o setor está indo de “vento em popa”. “Estamos em um momento fértil. Temos diversidade e variedades temáticas. Nunca se produziu tanto. Em 2012 tivemos 13 filmes lançados. No ano passado, 2 longas, um média e 15 curtas. Esse ano a previsão é de 19”, disse.

Os números provam que a situação melhorou, é verdade, mas a força de vontade continua a ser o principal “segredo” daqueles que conseguem levar às telas uma arte que encanta, diverte, informa e, acima de tudo, educada. Para fazer tanto com pouco, é preciso ter ousadia, conhecimento e abusar da criatividade.

São pelo menos 13 produtoras que se dedicam ao cinema na cidade e mais de 20 profissionais envolvidos. Na lista do colegiado, nomes como Breno Benetti (Xispa Filmes), Fábio Flecha (Render Brasil), Filipi Silveira (Cerrado Filmes), Helton Perez (Vaca Azul), Giulliano Gondim (Oia Filmes), Rose Borges e Roberto Leite (Zion Filmes), Maurício Copetti (Panapana Filmes), Essi Rafael (Casa de Cinema de Aquidauana), Larissa Anzoategui (Vade Retro Produções), Mendes Junior (Imagem Filmes), Givago Oliveira (T'Amo Na Rodoviaria), Mariana Sena, Alan caferro, Reynaldo Paes de Barros, Marinete Pinheiro, Hélio Godoy, Alexandre Basso, Alexandre Couto, Camila Machado, Marcio Higo e Sidney Morais de Albuquerque.

A persistência tem sido uma aliada e tanto, mas os desafios continuam. Para o diretor e cineasta Fábio Flecha, da Render Brasil, a principal dificuldade é com relação à qualificação. “Não temos muitas fontes para aprender. Não tem uma escola de cinema aqui. O profissional que quer se especializar é obrigado a sair do Estado”, afirmou.

Cena do filme "Enterro", mais uma produção dirigida por Fábio Flecha. (Foto: Kojiro)
Cena do filme "Enterro", mais uma produção dirigida por Fábio Flecha. (Foto: Kojiro)

Outra questão diz respeito ao financiamento, que nem sempre saí. É nessas horas que o amor pelo ofício fala mais alto. Dos 6 filmes produzidos pela Render, desde 2011, dois foram feitos com investimentos próprios. O valor, somado, gira em torno de R$ 120,00 mil.

Na hora de avaliar o cenário local, Flecha diz que a atividade é difícil em “termos de Brasil” e mais complicada ainda quando se trata de Mato Grosso do Sul. “Não temos uma tradição nessa área, mas nos últimos dois anos muita coisa aconteceu. Estamos caminhando para um futuro com maiores produções”, disse.

Airton destaca que Campo Grande, o Estado todo, vive um bom momento, mas nem tudo está perfeito. “O único desafio é fazer os filmes chegar até o público. Tem que levar os filmes para os bairros, fazer exibições na periferia e não só na região central. Quem vai dar noção de qualidade é o público”.

Há problemas, claro, como a falta de qualificação mencionada por Fábio, e os poucos locais de exibições não comerciais – Marco (Museu de Arte Contemporânea), MIS (Museu da Imagem e do Som) e Centro Cultural José Octávio Guizzo -, mas, no geral, já é possível encontrar, aqui, de tudo um pouco, do filme de terror à arte, passando por documentários.

Valorização, conhecimento e criatividade - O Estado tem potencial, sabe fazer e, por isso, o talento da terra deve ser valorizado, observou Fábio. “Precisamos mostrar as pratas da casa. Nem tudo o que vem de fora é bom”, destacou.

Apesar dos desafios, o diretor conta que tenta trabalhar “a toque de caixa”. Não temos uma produção industrial, mas isso não significa que não podemos ser rápidos”. Um curta, com ele no comando, não leva menos de três meses.

Este ano dois filmes estão em processo de finalização: “Desafio de Viola”, voltado à música, e “Enterro”, que conta a história da descoberta de um tesouro por três amigos. Há um terceiro previsto para 2014, o “Sem Fim”. “Vamos fazer um confronto de mitos e folclores de diferentes países. O Saci vai se encontrar com um vampiro estereotipado norte-americano”, adiantou.

Gravação de "Desafio de Viola" (Foto: Douglas Oldegardo)
Gravação de "Desafio de Viola" (Foto: Douglas Oldegardo)

Não há dúvidas de que a criatividade tem sido a chave para o sucesso. “Se a pessoa tem conhecimento, ela escreve roteiros cuja realização e custos tenham compatibilidade”, frisou o diretor. “A criatividade nasce da necessidade”. A frase é do presidente da ACV-MS (Associação de Cinema e Vídeo de Mato Grosso do Sul), Mendes Junior.

Ele sabe que a produção, no Estado, depende muito da persistência, da vontade de fazer, mas a luta, pelo visto, tem dado resultados. “O audiovisual tem crescido muito. O ano de 2013 foi muito promissor. Tivemos um festival de cinema, o Fest Cine Vídeo América do Sul, que proporcionou espaço adequado para exibições de filmes regionais”, disse.

É isso que precisa ser feito. É de iniciativas assim que os profissionais necessitam. “Quando o povo vê o filme e sua cara projetada na tela, tem empatia e abraça. Festivais como esse fazem com que os filmes sejam vistos por mais pessoas. Isso traz o público que a gente precisa”, finalizou.

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