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Artes

O tempo em que ensinavam cinema na escola e Cine Rialto era aventura de criança

Lenilde Ramos | 31/05/2015 07:56
O tempo em que ensinavam cinema na escola e Cine Rialto era aventura de criança

Antigamente, diversão em Campo Grande era "footing" na 14, clube e cinema. Quanto eu tinha 6 anos, minha família foi morar no Hotel dos Viajantes, enquanto aguardava as obras da casa nova. Esse hotel ficava na Antônio Maria Coelho, ao lado do Cine Rialto e da casa do dr. Koei Yamaki, pai da amiga Hilevi Yamaki Petti.

O gerente do cinema era um homem bonito, filho de italianos, Tarcisio Dal Farra, pai da amiga Denise Dal Farra. O zelador morava com a família nos fundos do cinema e depois da escola eu ia pra lá brincar, correndo pelas poltronas, apreciando a telona adormecida, a vista lá de cima do balcão e entrando na sala das máquinas para ver os técnicos enrolarem grandes rolos de fita.

Algumas vezes ganhávamos pedaços de celuloide e assistíamos testes de filmes. Eu tinha um cinema inteiro só pra mim! Nas matines, seu Tarcísio nos dava passe livre e mesmo quando cresci, nunca paguei ingresso. Eu anotava os filmes numa caderneta e me recordo de ter visto 53 em dois meses. Era filme todo santo dia e, quando não era para minha idade, eu fingia que ia brincar na casa do zelador e me infiltrava no salão escuro.

Uma vez, num filme de terror, me escondi no balcão. A uma certa hora, uma cabeça foi cortada e rolou... e a plateia inteira ouviu um berro... parecia voz de criança... será que era no filme? Não era... porque reconheci o berro da minha irmãzinha. Desci as escadas do balcão aos tropeços para socorrê-la mas, com o alarido do público o maquinista interrompeu o filme e acendeu as luzes do salão. Que mico... O castigo foi grande, mesmo assim continuei a burlar a vigilância e voltei às sessões na surdina.

Quando fiz 12 anos, Irmã Silvia, professora no Auxiliadora, inventou uma matéria chamada Educação Cinematográfica e conseguiu inclui-la no currículo. Aprendemos a fazer máquina fotográfica com caixa de papelão e a simular pequenos roteiros.

Quando ela começou a trazer figuras de São Paulo para ministrar cursos, meu pai teve que me autorizar a ver filmes de Bergmann, Buñuel, Glauber Rocha, Jean Renoir, Fellini e Rosselini e não parei mais. Sou apaixonada por cinema e por isso, fico feliz quando, ao lerem minhas histórias, as pessoas dizem: "Pô, Lenilde... sua vida é um filme!". Tenho que concordar!

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