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Artes

Vídeo fala sobre mistério de assombração em Castelinho construído por amor

Documentário é projeto de conclusão do curso é mais um trabalho a lembrar da importância histórica do prédio em Porto Murtinho

Thaís Pimenta | 02/05/2018 06:50
Castelinho fica às margens do rio Paraguai e segue inacabado, sem as três das quatro torres previstas para serem construídas. (Foto: Acervo Pessoal)
Castelinho fica às margens do rio Paraguai e segue inacabado, sem as três das quatro torres previstas para serem construídas. (Foto: Acervo Pessoal)

Um casarão no Centro de Porto Murtinho reúne lendas assombradas sobre a história do jovem uruguaio Dom Thomaz Herrera e da nobre austríaca Virgínia, os primeiros moradores do Castelinho, obra datada entre 1910 e 1914, que é hoje um dos símbolos da cidade. Os moradores de lá ouvem desde a infância que ali ocorreu um assassinato e que por isso a construção seria amaldiçoada. São tantas versões, que a porto-murtinhense e jornalista Vanessa Ayala decidiu registrar o que descobriu no trabalho de conclusão de curso na faculdade, e a lenda virou documentário de vinte minutos, com entrevistas dos moradores mais antigos e até atores revivendo o romance. O vídeo será lançado nesta sexta-feira (04), no Museu da Imagem e do Som, às 19h.

A história contada por moradores locais tem mais de 100 anos e relata a chegada do comerciante Thomaz Herrera, que escolheu a inexplorada Porto Murtinho para construir um futuro com Virgínia. Ele conheceu a austríaca durante o tempo que viveu na Europa, estudando em uma universidade francesa. Em pouco tempo, se apaixonou pela moça, que pertencia a uma família de nobres. Porém, para se casar com Virgínia, o rapaz deveria ter muitas posses, já que ela vinha de uma famíliarica.

Os pais de Virgínia não concordando com o relacionamento da filha, resolveram deportar Thomaz Herrera de volta para o Uruguai, já que tinham muita influência na Europa. Thomaz teria prometido a sua amada que um dia iria voltar para buscá-la.

Virgínia dava aulas de piano, como na cena do documentário que será lançado na sexta.
Virgínia dava aulas de piano, como na cena do documentário que será lançado na sexta.

Regressando para o Uruguai, o jovem ficou sabendo do porto em ascensão nesses lados do Rio Paraguai e resolve começar suas atividades econômicas na inexplorada cidadezinha. Mas sempre pensando em sua amada, ele retorna à Europa e decide investir no seu relacionamento, prometendo construir um Castelo para ela, às margens do rio.

Neste período a Europa estava em conflito, com a Primeira Guerra Mundial (1911 a 1914). Esses e outros fatores levaram a família de Virgínia a consentir no casamento com Dom Thomaz Herrera e a mudança da filha para o Brasil.

Logo que chegou a Porto Murtinho, Virgínia era o centro das atenções na pequena vila para onde acabava de se mudar. Sempre com lindos trajes e vestidos importados, fazia grandes festas para suas amigas que a vinham visitar. Mas com o passar dos anos, Dom Thomaz começou a ter dificuldades financeiras, o comércio de exportação de pelos de animais, carne, erva mate e tanino, foi interrompida devido a crises comerciais.

Imagens da gravação com atores no papel de Thomaz e Virgínia. (foto: Acervo Pessoal)
Imagens da gravação com atores no papel de Thomaz e Virgínia. (foto: Acervo Pessoal)
Vanessa em uma das partes mais altas da torre. (foto: Acervo Pessoal)
Vanessa em uma das partes mais altas da torre. (foto: Acervo Pessoal)

O Uruguaio então tornou-se mascateiro (vendia as mercadorias em carro de boi) e ficava fora durante meses para poder comercializar. Longe da família, Virgínia ficou muito solitária e para ocupar o tempo dava aulas de piano e idiomas para os filhos de fazendeiros.

Falido, Thomaz ficou abalado e para piorar a situação Virgínia supostamente o teria traído. Começaram a ter brigas e num desses desentendimentos, segundo conta a população, Thomaz tomado pelo ciúme, tirou a vida da esposa. O corpo foi escondido no porão do Castelinho, segundo a história popular.

Com a tragédia, o Castelinho ficou assombrado pelo fantasma de Virgínia, que desce as escadas com uma vela na mão, mexendo com o imaginário da comunidade local. Em seguida Dom Thomaz para honrar seus compromissos decidiu alugar o Castelo e posteriormente o vender para o senhor Rafael Codorniz, que adquiriu o imóvel ainda inacabado, com apenas uma torre.

Essa é a história que se sabe do castelo, mas Vanessa quis ir além do imaginário popular. "Entrei no Castelinho e não senti medo. Fiquei impressionada com aquela estrutura toda medieval, é muito bonito ali dentro e poucas pessoas têm a possibilidade de conhecer o interior já que o imóvel continua sendo propriedade privada. Parece que eu revivi a história deles, tem um piano lá dentro ainda", explica.

A jornalista teve de ir a fundo e começou o trabalho de pesquisa entrevistando um professor de história da cidade. "Descobri muitas coisas, principalmente, com as pessoas mais idosas. Eu consegui um senhor de 93 anos que conviveu com eles, o seu Jacinto Soares, quando ainda tinha 12 anos, e foi aí que eu consegui visualizar como eles eram fisicamente".

A menina de 23 anos entrou em contato até com as embaixadas uruguaia e austríaca para completar sua pesquisa, que durou um ano inteiro entre idas e vindas a Porto Murtinho.

Vanessa não quis nos adiantar o que descobriu dessa história, mas deixa uma reclamação em relação ao prédio. "Ele precisa muito de revitalização, de conservação. Não está abandonado porque tem uma senhora que cuida dele, mas ele precisa de reforma. A família não tem esse recurso ainda para estar reformando. E acho interessante que a Prefeitura e o Governo se interessem pela questão do tombamento histórico, porque é um prédio lendário para o município", finaliza ela.

Toda a filmagem foi feita com uso de duas câmeras e um celular para a captação de áudio. "É um trabalho acadêmico no qual eu contei com ajuda da minha família, da UCDB, da minha orientadora Cristina Ramos, e da Larissa Neves que me ajudou na produção".

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Um dos grandes lustres do castelo.
Um dos grandes lustres do castelo.
Detalhes achados no interior da lendária construção.
Detalhes achados no interior da lendária construção.
Título de municipalidade de Thomaz, ainda guardado no interior do prédio. (fotos: Acervo Pessoal)
Título de municipalidade de Thomaz, ainda guardado no interior do prédio. (fotos: Acervo Pessoal)

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