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Comportamento

As melhores festas de São João da cidade e a grandeza das coisas simples.

Lenilde Ramos | 05/06/2016 07:20
Festas animadas no São Julião.
Festas animadas no São Julião.

Nasci no dia 21 de junho, no meio de bandeirolas coloridas, quadrilhas, fogueiras e o foguetório das festas de São João. Essa liturgia sempre foi sagrada e acompanha minha vida até hoje.

As festas do Colégio Auxiliadora marcaram época, recriando no pátio do colégio a magia da roça. Mas ali dentro não dava pra fazer uma fogueira de verdade e, como naquela época, os meninos ainda não estudavam ali, algumas de nós fazíamos as vezes dos cavalheiros nas danças.

Só fui sentir o mais autêntico sabor de uma festa junina quando conheci o velho Hospital São Julião.

Já tive oportunidade de contar aqui que a música, a dança e a poesia foram grandes aliadas dos antigos internos no longo período de abandono, de miséria e de preconceito. Mesmo nos piores momentos, eles nunca deixaram de manter vivas suas tradições.

Meus primeiros amigos ali dentro foram Lino Villachá e Ernesto de Arruda. Lino tinha as duas pernas amputadas, mas de sua cadeira de rodas exercia uma fantástica liderança e assim mantinha acesa uma chama de otimismo entre os pacientes.

Seu Ernesto era um autêntico pantaneiro e quando viu que eu poderia ser uma aliada para suas festas, me chamou para conversar.

Ali, à sombra das mangueiras, ele me fez viajar até Corumbá e me contou em detalhes como era um São João de verdade: o andor do santo, todo enfeitado, a procissão com rezas e folia, o banho do santo no Rio Paraguai, as quadrilhas, o casamento caipira...

Os primeiros funcionários e os voluntários italianos se uniram e a cada ano a festa junina do São Julião ficava mais bonita. Pena que tenho poucas fotos daquela época.

A festa começava com uma grande roda ao redor da fogueira. Todos se davam as mãos e tinha que ser todo mundo mesmo, porque a fogueira era muito grande.

Depois o cortejo acompanha os noivos caipiras que seguiam na carroça do Benedito, toda enfeitada. Os músicos iam na frente e quando chegávamos ao salão, o baile começava.

Essas festas foram muito valiosas para a quebra de tabus entre pacientes e as outras pessoas. Hoje continuo fazendo festa e as de São João são as minhas preferidas porque posso reviver o que aprendi com meus velhos amigos.

Esse sentimento passei para a música"São João de Corumbá" que fiz em homenagem a eles.

Hoje também, fico mais feliz ainda em poder compartilhar tudo isso com os novos amigos que me ensinam o valor da união, a importância da memória, da gratidão e a grandeza das coisas simples. 

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