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Comportamento

Posto de gasolina já está no 3° dono, mas ninguém pode demitir Antonio

Pernambucano que chegou a Campo Grande no "pau de arara" comemora 46 anos no mesmo emprego

Thailla Torres | 26/09/2018 08:15
Ele se aposentou em 1997, mas não abre mão de trabalhar no posto de gasolina que "mudou sua vida". (Foto: Marina Pacheco)
Ele se aposentou em 1997, mas não abre mão de trabalhar no posto de gasolina que "mudou sua vida". (Foto: Marina Pacheco)

Quem já foi ao posto de gasolina na Avenida Afonso Pena, ao lado da Prefeitura de Campo Grande, certamente se deparou com a simpatia de seu Antonio Paulino da Silva, funcionário antigo que está no estabelecimento desde os primeiros dias de funcionamento, há 46 anos.

Hoje com 76 anos, o pernambucano chegou a cidade no “pau de arara” quando ainda tinha 16. “Entrei em um caminhão com uma família e vim trabalhar na roça”. A família biológica ficou em Pernambuco, e sobre os detalhes que o trouxeram aqui, ele se mantém reservado. “Essa parte vamos parar por aqui”, pede.

As horas de trabalho são assim, trabalhadas com sorriso, garante o frentista.  (Foto: Marina Pacheco)
As horas de trabalho são assim, trabalhadas com sorriso, garante o frentista. (Foto: Marina Pacheco)

Mas o que ele gosta mesmo é de falar do trabalho e o tempo de ofício que chama atenção de quem entra e quem sai do posto de gasolina. “Às vezes eu estou na rua, o povo me para e diz que trabalhou comigo, eu já nem lembro, mas fico feliz por nunca ter saído daqui”.

A oportunidade surgiu em 1973 quando Antonio trabalhava em uma fazenda de Nioque. “Um amigo mandou recado dizendo que estavam precisando de funcionário no posto ia abrir. Eu resolvi largar tudo e vir”.

O antigo trabalho era mais pesado, Antonio cortava Mato Grosso do Sul levando toras de madeira em uma carreta. Mas quando chegou a Capital, sentiu as mudanças. “Precisei aprender a atender os clientes, ser atencioso, mas educação nunca me faltou”, conta.

Aprendeu tudo com o primeiro patrão que permaneceu como dono do posto durante 19 anos. Quando colocou o empreendimento à venda, o medo de Antonio de perder o emprego se transformou em alegria ao saber as condições do dono. “Ele disse que vendia com a garantia que eu ficasse aqui, que não fosse mandado embora e assim fez o segundo patrão”.

Em poucos anos o posto foi vendido novamente para o terceiro empresário que administra o posto até hoje e por quem Antonio não mede elogios. “É uma pessoa muito boa, me deixou ficar mesmo depois de aposentado, só tenho a agradecer”.

Tem gente que questiona o que faz Antonio permanecer no ofício de frentista mesmo após ter se aposentado, em 1997. “A aposentadoria é pequeninha, não dá para manter tudo, mas a verdade é que eu enlouqueço se ficar parado”.

Além do tempo de trabalho, ele fica satisfeito de ter presenciado grandes mudanças na principal avenida da cidade.  (Foto: Marina Pacheco)
Além do tempo de trabalho, ele fica satisfeito de ter presenciado grandes mudanças na principal avenida da cidade. (Foto: Marina Pacheco)

O tempo de trabalho conquistou amigos e pessoas que o ajudaram em algumas conquistas, uma delas, a compra da casa própria. “Foi meu primeiro patrão que me levou para ver uma casa, há 40 anos, no Santa Fé. Naquele tempo eu fiquei bravo, pensando porque ele estava me levando para aquele barreiro”.

O dono garantiu que o local seria valorizado anos depois e não deu outra, Antonio mora com a família em uma casa simples, mas numa das regiões mais valorizadas da cidade em termos de valores de imóvel.

Já na Afonso Pena, ele acompanhou de perto inúmeras mudanças, viu personalidades, presenciou acidentes que nunca saíram da memória e acredita que está em uma das avenidas mais bonitas. “É a principal, a mais amada”, diz.

Na frente do posto, do outro lado da rua, onde hoje há um prédio sofisticado, Antonio aponta para quem morava ali. “Quando eu cheguei aqui tinha uma casa naquele local, morava o que foi primeiro governador, o Harry Amorim Costa, várias vezes ele passou por aqui”.

O asfalto da avenida também só ia até a Rua Bahia e nos fins de semana, a frente do posto virava algazarra no passado. “Tinha gente que dava cavalinho de pau na esquina, mas isso lá em 1980”.

O local também era rota de famílias que iam aos fins de semana assistir os jogos na Praça Belmar Fidalgo. “Depois a coisa foi mudando, veio a prefeitura, outros comércios, mas a gente ficou”.

Apesar de quase 50 anos de serviço, mas com uma “saúde de ferro”, ele diz que não pensa em deixar o trabalho. “Se eu sair, ninguém mais me contrata por causa da idade”, afirma. “Então só deixo isso aqui se um dia meu patrão me mandar embora. Mas tomara que não seja agora”, ri.

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