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Diversão

Após bomba de gás e baderna, blocos e moradores discutem mudanças no Carnaval

Blocos oficiais saem da Esplanada, mas reunião mostrou que ainda falta muito para acordo entre prefeitura, comunidade e blocos

Thailla Torres | 22/09/2018 08:12
Carnaval na Esplanada Ferroviária reúne cerca de 30 mil foliões. (Foto: Vaca Azul)
Carnaval na Esplanada Ferroviária reúne cerca de 30 mil foliões. (Foto: Vaca Azul)

Uma reunião, para tentar resolver o sofrimento de moradores da Esplanada Ferroviária e estabelecer planos para garantir o Carnaval mais animado de Campo Grande, colocou organizadores de blocos e moradores frente a frente ontem à noite, no Instituto Histórico e Geográfico de MS. O grupo discutiu a recomendação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) para a transferência da festa popular para o Autódromo, na BR 262.

A proposta era fechar acordo entre a comunidade da Vila dos Ferroviários, que defende o fim Carnaval no local e os blocos que só crescem em número de foliões. Mas, após 2 horas e 10 minutos de conversa, ambos continuaram irredutíveis. No entanto, até que haja qualquer decisão judicial, os dias de Carnaval continuarão no espaço, mas com regras.

Cerca de 20 moradores se reuniram com produtores culturais, pesquisadores, o representante da Secretaria Estadual de Cultura e Nilde Brum, presidente municipal de Cultura e Turismo. Logo no início, a novidade informada é que em 2019 a cidade terá novamente o “Carnaval de Rua” organizado pela administração municipal, semelhante ao que ocorria na Avenida Fernando Corrêa da Costa. Um baile com som ao vivo. “O local ainda não está definido, mas não será na mesma avenida por uma questão ambiental. Mas nos comprometemos em fazer o Carnaval gratuito no próximo ano”, diz a secretária.

Reunião foi nesta sexta-feira para um acordo entre blocos e moradores da Esplanada. (Foto: Thailla Torres)
Reunião foi nesta sexta-feira para um acordo entre blocos e moradores da Esplanada. (Foto: Thailla Torres)

A decisão tomada é um paliativo para desafogar a região da Vila dos Ferroviários que, neste ano, chegou a receber cerca de 30 mil foliões por dia. Outra mudança será o remanejamento do desfile de blocos oficiais da Ablanc (Associação dos Blocos, Bandas, Cordões e Corso Carnavalesco Cultural de Campo Grande) para a Praça do Papa, onde acontece o desfile das escolas de samba.

Já Cordão Valu e Capivara Blasé, que levam multidões à Esplanada, não mudam de endereço. 

Apesar da responsabilidade do poder público em se comprometer e fornecer itens básicos de limpeza de área pública e segurança durante o período, o apoio não alterou a opinião dos moradores que continuam insatisfeitos com os problemas ocorridos durante o Carnaval, entre eles, falta de segurança, aglomeração após o horário permitido e falta de banheiros.

Sivana Valu, diretora e fundadora do Cordão, garantiu que vai lutar por todas as reivindicações e se comprometeu a mudar o horário do bloco para amenizar a aglomeração na região. “O espaço é importante para a construção do Carnaval e de uma cidade que tem dificuldade de ocupar os espaços públicos, carente de cultura. Nós entendemos que a grande dificuldade é o depois e isso é uma questão que estamos conversando há muito tempo. Por isso, nos comprometemos em terminar mais cedo. Ao invés de terminar meia noite, a festa terá fim às 22h. Outra coisa que vamos solucionar é os banheiros”.

Silvana Valu prometeu reduzir em duas horas a festa do bloco. (Foto: Thailla Torres)
Silvana Valu prometeu reduzir em duas horas a festa do bloco. (Foto: Thailla Torres)

Ela também esclareceu que em 2018 foi solicitado à Prefeitura cerca de 200 banheiros para os dias de festa, mas somente 60 foram disponibilizados.

Nilde justificou a carência na falta de orçamento. “Quando pegamos a Secretaria não havia um centavo no nosso orçamento para o Carnaval, pedimos ajuda o Governo Estadual que nos apoiou com som, estrutura e outros itens necessários”.

Na voz deles - Para alguns moradores, os problemas transcendem o cheiro e o acúmulo de urina na porta de casa. Historiadora e integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, Maria Madalena Dib Greco expõe que o sofrimento é até com invasões. “O direito de ir e vir são interrompidos. À meia noite, a festa do bloco acaba, mas na madrugada a baderna só acabou com bombas de efeito moral. Eu me pergunto se há normalidade numa festa que precisa desse tipo de ação para acabar. Todos os dias, durante o Carnaval, retiro camisinha usada, papéis e latas de cerveja e tenho que ficar a noite inteira acordada porque eles invadem nossos portões”.

Como representante da Associação de Moradores da Vila dos Ferroviários, Erivaldo Gomes da Silva diz que não é contra a folia, mas se a decisão for acabar com os blocos na região, ele fica ao lado da maioria. “Nós somos contra a baderna que se formou na nossa rua. Porque o Carnaval cresceu muito e não houve organização. Colocaram 10 mil pessoas numa rua que não tem largura. Nossa rua virou um banheiro ambulante”, crítica.

Alguns moradores defendem que blocos como Capivara Blasé, Cordão Valu e Tropicanapa tornaram-se marcas e, diante disto, a mudança não faria diferença para os foliões. Mas é nesse instante que pesquisadores, amigos e produtores culturais rebatem com a importância histórica e cultural da região, principalmente, com a presença do Carnaval.

Vítor Samúdio reivindicou a importância cultural que o espaço tem para os blocos. (Foto: Thailla Torres)
Vítor Samúdio reivindicou a importância cultural que o espaço tem para os blocos. (Foto: Thailla Torres)
Nilde Brum, secretaria da Sectur, prometeu voltar com o Carnaval promovido pela Prefeitura. (Foto: Thailla Torres)
Nilde Brum, secretaria da Sectur, prometeu voltar com o Carnaval promovido pela Prefeitura. (Foto: Thailla Torres)

“Esse tem uma importância não só histórica como cultural muito grande. O que garante isso não é só o prédio ou a história que os concretos contam, mas o que se vive. É muito importante que a gente mantenha uma chama. Até porque vivemos isso aqui independente do Carnaval”, diz Vitor Samúdio, diretor do Capivara Blasé e de uma companhia de teatro que fica na Rua Temístocles, na Esplanada Ferroviária.

Fernando Cruz, diretor do Teatro Imaginário Maracangalha e criador do bloco Evoé Baco, que realiza um cortejo itinerante, avalia que o contexto afetivo e histórico da região faz toda a diferença para o Carnaval. “Estamos em uma comunidade de responsabilidade, que carrega a história de Campo Grande, então é compreensível todas essas preocupações. Mas é preciso cobrar, do poder público, responsabilidades efetivas. Por que a ocupação do espaço público com cultura faz toda a diferença, é transformador”, pontuou.

Professor, pesquisador e ex-integrante do Iphan-MS, João Santos avalia que não se trata de tirar o Carnaval da região, mas de multiplicar melhorias, uma vez que em diversas regiões do País, os carnavais acontecem entre patrimônios históricos e são referências. “O que cabe é discussão de como é planejado, quem vai pagar como isso vai ser multiplicado e dividido”, pontua. “Porque no País inteiro o Carnaval é discutido e organizado, enquanto em Campo Grande estamos discutindo tirar a festa daqui. Entendo todos os lados, mas pra mim o Ministério Público é alheio à cidade, a dinâmica cultural de uma cidade”.

João enfatiza sobre a diferença que faz o plano de ocupação dos bairros. “Assim como os moradores acompanham, eu acompanho há 10 anos, estudando a região, que o Carnaval está trazendo uma galera que nunca pisaria aqui se não fosse pela cultura. É também uma vitrine de conscientização”, finaliza.

Agora, uma nova reunião será marcada e a proposta é montar um plano de carnaval para que os problemas sejam solucionados.

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