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Sabor

Cheiro forte chama atenção em loja com queijo que fica 8 meses enterrado

Tem criança que até pede para sair do lugar, mas o interessante é que não falta história na loja que é especialista em queijos.

Thailla Torres | 24/09/2018 08:04
Esse queijo é o Tulhia. Leva um ano e meio para ficar pronto. (Foto: Thailla Torres)
Esse queijo é o Tulhia. Leva um ano e meio para ficar pronto. (Foto: Thailla Torres)

Quem tem mania de “comer pelo nariz” até desvia da loja de queijos que chama atenção da calçada, toda vez que uma portinha se abre, na Rua Rio Grande do Sul. O cheiro característico que vem de dentro aponta que tem queijo de sobra e há quem encare o lugar só pela curiosidade.

“As pessoas entram pelo cheiro ou porque gostam, mas é engraçado que tem criança que entra, segura o nariz e pede à mãe para sair”, conta a sócio-proprietária Joelma Carmona, de 33 anos, bem humorada e satisfeita com a característica que, na verdade, revela a especialidade da casa.

Desde que abriu o espaço, há poucas semanas, ela imaginava a dificuldade que seria levar o sabor e o cheiro forte dos queijos às ruas. “Porque é muito intenso e quem não está acostumado a comer queijo, acha o cheiro muito forte. Mas eu tenho me surpreendido com o campo-grandense”.

Joelma é sócia-proprietária e apaixonada por queijos. (Foto: Thailla Torres)
Joelma é sócia-proprietária e apaixonada por queijos. (Foto: Thailla Torres)

Ela diz que os clientes curiosos saem apaixonados. Nem todo mundo encara os queijos mais artesanais e exóticos, mas ninguém sai da loja sem um pedacinho na mão.

Joelma vende queijos há três anos, passou muito tempo de porta em porta oferecendo os tipos pasteurizados, até que conheceu o sabor dos artesanais e viu que podia fazer diferente na cidade. “A gente não tem a cultura do queijo aqui, normalmente ele é usado em alguns pratos e os tipos são sempre os tradicionais, mas não é visto como uma experiência gastronômica”.

Mas o que prende a atenção do cliente são as histórias, narradas com sotaque e a diversão da paraense que vive há quatro anos na capital, desde que se casou.

Joelma não só vende como faz questão de contar detalhes da queijaria. O mais exótico da casa, com visual rústico, é o queijo “Toca” de aproximadamente 6 quilos. Ele é produzido em uma fazenda histórica no interior de São Paulo e leva esse nome porque fica 8 meses enterrado, a 20 metros de profundidade, até ficar pronto.

O preço não é barato, custa R$ 186,00 o quilo, mas o valor está à altura de experiência, garante a dona. “É maravilhoso, essa característica rústica é porque ele absorve muita umidade e por isso é bem forte, tem um nível de acidez bem elevado”.

Da mesma propriedade, outro “menininho” da casa como descreve Joelma é o queijo “Tulhia”, também pelo mesmo preço, é especial porque leva um ano e meio para ficar pronto. “E também foi o primeiro queijo do Brasil premiado internacionalmente”.

Esse é o mais exótico da casa, fica 8 meses enterrado. (Foto: Thailla Torres)
Esse é o mais exótico da casa, fica 8 meses enterrado. (Foto: Thailla Torres)
Queijos conhecidos como "Trio Exótico". (Foto: Thailla Torres)
Queijos conhecidos como "Trio Exótico". (Foto: Thailla Torres)
Esse é produzido a 1.200 metros de altura. (Foto: Thailla Torres)
Esse é produzido a 1.200 metros de altura. (Foto: Thailla Torres)
Esse lembra as características do queijo de Tom e Jerry, garante a dona. (Foto: Thailla Torres)
Esse lembra as características do queijo de Tom e Jerry, garante a dona. (Foto: Thailla Torres)

O queijo também carrega parte da história antiga da fazenda, dos tempos coloniais. “Ele é curado nas mesmas prateleiras que eram armazenadas os cafés. E até hoje, lá no fundo, ele carrega aquele toque do café”.

Diferente no jeito de servir, Joelma explica como comer. “Esse não é um queijo de corte, você vai quebrando ele. Por isso é importante explicar, para ninguém pensar que está estragado”.

Colorido, outra opção é o “Trio Exótico”, produzidos na região de Minas Gerais com cerca de 6 meses a 1 ano de cura. “Esse é vendido por peça e a coloração é feita com resina comestível. Mas se quiser descartar, pode”. Cada peça varia de R$ 85,00 a R$ 115,00.

Um dos mais produzidos Serra da Mantiqueira, o “Mantiqueira da Serra” é feito a 1.200 metros de altura e o queijo é tão artesanal, que a produtora só consegue fazer 16 queijos por semana. “Pra se ter uma noção, na fazenda só há 14 vacas e a dona não quer aumentar. Tudo é feito do modo mais rústico possível”. O quilo deste queijo custa R$ 146,00.

E quem se lembra do queijo do desenho animado Tom e Jerry vai se identificar com o “Figueira”, pelo mesmo preço e com toque mais adocicado no final. “Ele tem uma coloração feita com urucum e é cheio de olhaduras. Tem essa característica, por causa das bactérias propiônicas. Mas é uma bactéria boa, todos podem comer”.

Há uma variedade de queijos artesanais, todos com histórias diferentes. (Foto: Thailla Torres)
Há uma variedade de queijos artesanais, todos com histórias diferentes. (Foto: Thailla Torres)
Com alecrim. (Foto: Thailla Torres)
Com alecrim. (Foto: Thailla Torres)
Com carvão vegetal. (Foto: Thailla Torres)
Com carvão vegetal. (Foto: Thailla Torres)

No entanto, o queridinho de Joelma é o “Taiúva”, queijo do interior de São Paulo com nome dado por ela quando foi visitar o local. “É o último queijo lançado em uma das fazendas e me baseei em uma árvore cheia de vincos pretos, pelo fato do queijo ter uma faixa de carvão vegetal no meio”, diz.

A inspiração para esse tipo de queijo é da produção do queijo Comté, produzido na França. “Ele tem carvão porque os antigos quando iam fazer a receita e sobrava massa, eles jogavam uma faixa de carvão jogavam em cima para não estragar, pois não havia geladeira. E quando eles tiravam o carvão, ele ficava com esse detalhe preto”, conta.

Além dos queijos, Joelma e o sócio Andrews Echeverria vendem requeijão, bacon artesanal e vinhos. Mas o que tem deixado a paraense animada é ver o interesse de quem entra surpreso com o cheiro, mas sai querendo harmonizar todo tipo de queijo. “É tão bom saborear a história da gente, eu não tenho vontade alguma de saborear a história dos estrangeiros, quero saber dos nossos sabores, dos nossos queijos, são eles que a gente tem que valorizar”.

Quem quiser conhecer, a loja Artesanais MS fica na Rua Rio Grande do Sul, 1303, Jardim dos Estados, e abre de segunda a sábado.

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Casa também oferece vinhos. (Foto: Thailla Torres)
Casa também oferece vinhos. (Foto: Thailla Torres)
O trabalho é feito em família. (Foto: Thailla Torres)
O trabalho é feito em família. (Foto: Thailla Torres)
Loja é pequena, mas movimentada no fim de semana. (Foto: Thailla Torres)
Loja é pequena, mas movimentada no fim de semana. (Foto: Thailla Torres)
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