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Meio Ambiente

Audiência sobre Bonito exclui ambientalistas e propõe pavimentar estradas

Representantes do turismo e setor ambiental criticaram discussão convocada pelo senador Nelsinho Trad (PSD)

Izabela Sanchez | 22/05/2019 12:25
Audiência Pública que discutiu situação de Bonito no Senado (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)
Audiência Pública que discutiu situação de Bonito no Senado (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

Águas turvas e nada cristalinas são, agora, uma das marcas de Bonito, a 257 km de Campo Grande, ao menos desde o final do ano passado. O problema provocou e ainda motiva uma série de debates, propostas de alterar leis e até um decreto estadual foi editado. Agora, a discussão alcançou o Senado, que promoveu uma audiência pública ontem à noite (21) para abordar o tema.

Convocada pelo senador Nelsinho Trad (PSD) e pelas comissões de Meio Ambiente, Agricultura e Reforma Agrária e Desenvolvimento Regional e Turismo, a audiência levou setores do turismo, poder público e agronegócio, mas recebeu críticas por ter deixado de fora o terceiro setor, a ongs e ambientalistas.

Durante a discussão, um dos pontos abordados foi o desequilíbrio climático, o excesso de chuvas, apontado como um dos culpados pelo depósito de sedimentos. Foi o que afirmou, por exemplo, Guilherme Poli, que representou a Atratur (Associação de Atrativos Turísticos de Bonito e Região) na audiência. Conforme publicação do senado, além das chuvas, Poli citou abertura do solo para criação do gado e a expansão urbana desordenada, que ajudam a levar sedimentos aos córregos.

Para um dos pioneiros do turismo na região, Eduardo Folley Coelho, a discussão não alcançou o debate necessário sobre os problemas ambientais e às ameaças aos recursos hídricos de Bonito. Eduardo é pecuarista, dono de passeios ecológicos e fundador da Atratur, mas disse não ter recebido convite para a audiência.

“Inclusive fiquei sabendo dois dias antes. Acho que ela foi muito mal divulgada. Tem quatro ongs ambientalistas com larga atuação: IASB [Instituto das Águas da Serra da Bodoquena ], IHP [Instituto do Homem Pantaneiro], Neotropica e SOS Pantanal, que não participaram, Universidades, que tem muito conhecimento. Outro órgão que faltou chamar é o Conselho Estadual de Recursos Hídricos o Comitê de Bacia do Miranda”, comentou.

Eduardo afirma que, durante a discussão, “deixaram pautar que agricultura está bacana e que o turismo está bacana, mas endereçar a questão do meio ambiente não vimos nada”. “Semagro e Agraer de bonito identificaram vários problemas, tem tido avanços, mas muito lentamente. O Conselho Estadual de Recursos Hídricos estão com esse assunto na pauta e lá a conversa é técnica”, afirma.

Presidente do IHP, Angelo Rabelo disse ter faltado, na audiência, “uma abordagem técnica que contribuísse para a discussão”. “Faltou convidar o Terceiro Setor e o MP [Ministério Público]. Existem iniciativas do governo com relação ao manejo de solo, a comunidade está mobilizada, mas falta decisão com relação aos banhado que seguem ameaçados”, complementa.

Os banhados ou brejões são regiões alagadas, junto às nascentes, que mantem os cursos d’água vivos, mas hoje não têm proteção específica. Nesses locais, drenos e supressões de APPs (Áreas de Preservação Permanente) em propriedades rurais tem representado ameaças para a sobrevivências dos rios, ainda que medidas para conter o depósito de sedimentos e manejos do solo sejam realizadas.

Propriedade rural na região do rio da Prata, onde enxurradas levaram lama para o rio; dois produtores foram notificados em Bonito. (Foto: Semagro/Divulgação)
Propriedade rural na região do rio da Prata, onde enxurradas levaram lama para o rio; dois produtores foram notificados em Bonito. (Foto: Semagro/Divulgação)

Encaminhamentos - Eduardo criticou a falta de encaminhamentos mais efetivos. Pavimentação “ecológica” de estradas e um projeto da Prefeitura de Bonito foram entregues ao senador Nelsinho Trad como providências. No facebook, Nelsinho citou a necessidade de “pavimentação ecológica na rodovia do turismo, cerca de 15 quilômetros de estrada, e na rodovia São Geraldo, cerca de 18 quilômetros de percurso e conclusão pavimentação da rodovia MS 382”.

A Prefeitura de Bonito, por sua vez, entregou um documento de 52 páginas em que apresenta o “Programa de Desenvolvimento Local Sustentável no Centro-Oeste para Indústria do Turismo & do Agronegócio de Bonito /MS”, a ser levado para a Sudeco (Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste).

“O resultado foi tão insignificante que só saiu medida para sair asfalto, que está no facebook, é para asfaltar três estradas, não vi nenhum outro. E aí o seguinte, o pessoal fica minimizando o problema. Lá no balneário a água era muito mais cristalina há 20 anos. Sempre turvou, mas só que turvava menos, limpava mais rápido. Hoje qualquer chuva turva, demora mais para limpar e quando fica vários dias sem chuva não tem a mesma qualidade. Temos mais a presença de micro algas, como está usando mais adubo, como está trazendo mais sedimento para o rio tem mais alimentação para as algas”, reclamou Eduardo.

Nelsinho declarou que a audiência foi uma reunião “onde todos os protagonistas tiveram voz, se manifestaram e entraram num entendimento”. “Isso que foi o mais importante. Tanto da Prefeitura, governo do estado, agronegócio, turismo, ou seja, houve um amplo entendimento de evidenciar os problemas e apresentar as soluções”.”

O senador disse que ambientalistas foram chamados. “A audiência contemplou todos os setores e tiveram representantes do lado ambiental. O senador Fabiano e eu, nós demos um destaque, não foi pautado só em agronegócio, Bonito é um patrimônio divino. Bonito é igual dente da frente, qualquer coisinha aparece”, disse.

Sobre as estradas a serem pavimentadas, comentou que “muitas propriedades abriram estradas para que a população tenha acesso a novos passeios, mas que não foram supervisionadas pelo pode público e gerou essa confusão toda”.

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