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Meio Ambiente

Gerenciamento da bacia do Guariroba ignora água subterrânea, diz estudo

Pesquisa da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) mostra importância das águas subterrâneas e indica que um dos aquíferos que abastece a bacia tem mais a água “do que se imaginava”

Izabela Sanchez | 19/01/2019 10:15
Bacia do Córrego Guariroba (Foto: Divulgação/Águas Guariroba)
Bacia do Córrego Guariroba (Foto: Divulgação/Águas Guariroba)

O sistema de gerenciamento da bacia do Córrego Guariroba, responsável pelo abastecimento de 40% da água de Campo Grande, ignora as águas subterrâneas da bacia. É o que aponta uma pesquisa realizada na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). O “Estudo hidrológico, sedimentológico e hidroquímico de águas superficial e subterrânea como suporte ao gerenciamento de bacia hidrográfica (Águas MS)” foi realizado por pesquisadores da Faegn (Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia).

Por meio do Lasac (Laboratório de Águas Subterrâneas e áreas Contaminadas) o projeto investigou a relação entre as águas superficiais e as águas subterrâneas da bacia. A pesquisa indica “como é inadequado e incompleto o gerenciamento das bacias hidrográficas baseado somente em seus recursos superficiais”, conforme aponta a assessoria de imprensa da UFMS.

Coordenadora das pesquisas do Lasac, a professora Sandra Gabas afirma que a falta de informações do manejo da parte subterrânea é realidade na maioria das bacias brasileiras.

“A Secretaria Municipal de Meio Ambiente reconheceu, em apresentação dos resultados do projeto no Conselho Municipal de Meio Ambiente, que futuras atualizações do plano devem conter esses estudos. A grande maioria das bacias brasileiras tem a descarga da água subterrânea na superficial. Então, a importância em se reconhecer e se considerar isso é muito grande”, comentou.

O projeto teve participação de um doutorando, quatro mestrandos, além de acadêmicos que realizam pesquisas de iniciação científica. A pesquisa aplicou estudo hidrogeológico da água subterrânea e da qualidade das águas superficiais e subterrâneas entre os anos de 2014 e 2017.

Durante os levantamentos, a equipe analisou a condutividade hidráulica, com objetivo de determinar a rapidez da infiltração da água no material. Os pesquisadores acompanharam 14 poços tubulares de abastecimento de propriedades, seis pontos de água superficial e duas nascentes, durante 24 meses. Por meio de levantamento geofísico, o subsolo também foi analisado.

“Existem diferenças de comportamento da rocha em relação a corrente elétrica aplicada. Com a presença da água há maior condução de corrente elétrica. Constatamos grande variabilidade da resistividade elétrica no pacote rochoso, formado por arenito e basalto”, explicou a professora.

O destaque, explica a docente, é que a pesquisa buscou saber a importância da água subterrânea para a manutenção dos rios. “Queríamos identificar a relação da água superficial e da água subterrânea na área de proteção ambiental do Guariroba, definir o quanto a água subterrânea é responsável pela manutenção da vazão mínima dos rios”.

Mais água no aquífero – Os pesquisadores também estudaram o volume de água do aquífero Bauru, que abastece a bacia do Guariroba. Eles acreditavam que deveria haver descarga do aquífero Bauru para manutenção do nível de base das drenagens, mas precisavam provar, o que foi feito em tese de Doutorado. Por dois anos foram medidos a variação do nível do aquífero e a vazão das drenagens. Menores vazões estão relacionadas a descarga da água subterrânea.

O Plano Estadual de Recursos Hídricos aponta que a infiltração ou a recarga do aquífero Bauru fosse em torno de 10%. A pesquisa, no entanto, mostrou que a recarga é de 33%. “Isso significa que o aquífero tem mais água do que se imaginava”, afirma a professora.

O aquífero tem espessura de 50 a 100 metros de profundidade nas proximidades de Campo Grande e na calha do rio Paraná chega a 300/400 metros de espessura. Conforme a assessoria de imprensa da Universidade, é considerado o maior aquífero do Estado em utilização porque abastece diversas cidades.

Contaminações – Segundo a professora, a atividade humana na região representa “perigo” para contaminação do aquífero, em especial pelos insumos da agricultura. “Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma aluna de Engenharia Ambiental indicou então que temos alto perigo de contaminação do aquífero por poluentes como o nitrato, agroquímicos, como glifosato, entre outros”.

Os pesquisadores verificaram, entre outros problemas, a existência de fossa, ou de galinheiros e chiqueiros próximos aos poços. Nos casos em que os poços eram rasos, foi detectada a contaminação por nitrato.

“Não esperávamos encontrar essa realidade porque são propriedades de alto poder aquisitivo. Felizmente, não acontece na maioria, mas existem”, declarou a professora.

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