ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  23    CAMPO GRANDE 31º

Capital

Além da violência, trânsito da Capital convive com "pequenos pecados"

Mariana Lopes | 17/04/2013 09:24
Na Afonso Pena, jovem mexe em aparelho celular enquanto espera o semáforo abrir (Foto: Vanderlei Aparecido)
Na Afonso Pena, jovem mexe em aparelho celular enquanto espera o semáforo abrir (Foto: Vanderlei Aparecido)
Na 14 de Julho, motorista fala ao telefone enquanto dirige (Foto: Vanderlei Aparecido)
Na 14 de Julho, motorista fala ao telefone enquanto dirige (Foto: Vanderlei Aparecido)

Seja nos bairros ou no Centro de Campo Grande, o desrespeito às regras de trânsito saltam aos olhos de qualquer um que se dedique a observar a postura dos motoristas por alguns minutos. Das infrações mais graves aos pequenos deslizes, o fato é que dirigir nas ruas da Capital se tornou um desafio além da violência.

Com a onda de smarthphones, não é difícil flagrar motoristas mexendo no celular enquanto esperam o tempo do semáforo abrir. Mas este tipo de infração ainda não é maior do que falar ao telefone enquanto dirige.

Na manhã de ontem, em uma volta pela cidade, o Campo Grande News flagrou alguns motoristas com uma mão no celular e a outra no volante. Um deles foi o aposentado Rubens Saito, 57 anos, que assumiu o erro e tentou justificar. “Só atendi a ligação porque precisava saber o nome do remédio que tenho que comprar para a criança”, explicou.

De acordo com dados estatísticos do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), em 2012, no primeiro bimestre, foram 1.559 multas geradas por motoristas utilizando aparelhos celulares enquanto dirigiam. Neste ano, no mesmo período, já houve aumento de 16,4%, com 1.815 multas pela infração.

Blazer estacionada em vaga para portador de necessidades especiais (Foto: vanderlei Aparecido)
Blazer estacionada em vaga para portador de necessidades especiais (Foto: vanderlei Aparecido)
Na rua Dona Virgilina, dois carros estacionados em local proibido (Foto: Vanderlei Aparecido)
Na rua Dona Virgilina, dois carros estacionados em local proibido (Foto: Vanderlei Aparecido)

Mas esta ainda não é a infração mais cometida pelos motoristas. Estacionar em local proibido também está no páreo de multas geradas pelo Detran. De janeiro a fevereiro de 2012, foram 2.415 infrações computadas no sistema do órgão. Número que caiu até o final do primeiro bimestre deste ano, quando foram registradas 1.476 multas.

Em 20 minutos na manhã de terça-feira, que a equipe de reportagem ficou parada no cruzamento das ruas Barão do Rio Branco e 14 de Julho, no Centro de Campo Grande, pelo menos quatro motoristas estacionaram o carro na vaga exclusiva para portadores de necessidades especiais, sem ter qualquer pessoa dentro do veículo que se encaixasse na categoria.

Enquanto alguns percebiam a presença da imprensa e logo davam um jeito de retirar o carro do local, outros davam uma desculpa qualquer pelo deslize ou tentavam justificá-lo, mas acabavam admitindo que estavam errados.

“Eu só parei aqui rápido para atender ao celular, nem vi que era vaga exclusiva”, tentou explicar a motorista de um Fox, que não quis se identificar. Ela estacionou na vaga para portadores de necessidades especiais e estava com o celular no ouvido quando parou o carro, mas seguiu o trajeto após falar com a reportagem.

Em uma Blazer, que ficou estacionada na vaga exclusiva por mais de 15 minutos, desde que a equipe do Campo Grande News chegou ao local, o motorista tentou desconversar ao ser questionado sobre a infração. Ele se identificou como João da Silva e disse que tinha ido à farmácia, “bem rapidinho”, para comprar um remédio.

Carro estacionado na calçada obstrui passagem de pedestre (Foto: Vanderlei Aparecido)
Carro estacionado na calçada obstrui passagem de pedestre (Foto: Vanderlei Aparecido)

Nos bairros, estacionar em local proibido parece ser ainda mais comum. Na rua Dona Virgilina, no Jardim Alegre, a equipe de reportagem encontrou vários casos que demonstravam bem o “jeitinho brasileiro” que os motoristas costumam dar.

O vendedor Luiz Antônio Gomes de Arruda, 54 anos, afirma que deixa, todos os dias, o carro dele estacionado na calçada de loja onde trabalha, e não vê problema nisso, mesmo que o veículo esteja em um local não apropriado. “Não está atrapalhando ninguém”, pontua.

Do outro lado da rua, um veículo está estacionado na faixa amarela e bem próximo à esquina, o que também não é permitido por lei. Poucos metros a frente, ainda na mesma quadra, um Citröen C4 estacionado em cima da calçada obstrui a passagem de pedestres.

E por falar em pedestres, estes também ignoram as leis de trânsito e alguns até complicam o fluxo de carros. Voltando ao Centro da Capital, é comum observar pessoas atravessando as ruas fora das faixas de segurança.

“Estou com pressa”, disse uma jovem que não se identificou e mal parou para conversar com a reportagem. Ela atravessou a 14 de Julho, no meio da rua, e seguiu em sentido à avenida Afonso Pena, cruzando em questão de segundo com uma faixa de pedestre.

Jovem atravessa no meio da rua, a poucos metros da faixa de pedestre (Foto: Vanderlei Aparecido)
Jovem atravessa no meio da rua, a poucos metros da faixa de pedestre (Foto: Vanderlei Aparecido)

Outras infrações comuns no dia-a-dia do trânsito campo-grandense é a falta do uso do cinto de segurança, que também gera multa. Parado no semáforo do cruzamento das ruas Barão do Rio Branco e 14 de Julho, o autônomo Emerson Santos, 39 anos, alegou que estava procurando vaga para estacionar, por isso estava sem cinto.

Estacionar em fila dupla, seja para alguém descer do carro, esperar alguém que está em loja ou descarregar mercadoria, também é fácil de encontrar nas ruas de Campo Grande. Além da infração, o hábito atrapalha o fluxo de veículos. "Sei que não pode, mas não tem vaga para estacionar", justificou o motorista Luiz Duarte, 24 anos, que parou o caminhão na faixa da esquerda, na 14 de Julho, para descarregar fardos de sorvetes.

E a falta de vagas para estacionar é, de fato, um problema no centro da Capital, tanto para carros quanto para motos. Nas ruas do comércio, há vagas destinadas a cada categoria de veículos, mas elas nem sempre são respeitadas. Na manhã de ontem, a flagrou várias motos estacionados entre os vãos dos carros, em local proibido.

Outra situação é que os espaços destinados às motos são pequenos, e o que se pode observar são os veículos amontoados nas vagas, correndo até o risco de derrubar uns aos outros.

Avançar o sinal vermelho também está entre as infrações que lideram o ranking de multas. No primeiro bimestre de 2012, foram 2.918 multas geradas. O número teve um salto de 39,4%, para 4.070, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, conforme estatísticas do Detran.

Diante de tanto desrespeito no trânsito, a explicação dada pelo professor mestre em psicologia e comportamento no trânsito, Renan da Cunha Soares Junior, é simples: “O trânsito é um reflexo do que temos em outros ambientes, que remete a uma crise de valores, quando as pessoas preferem priorizar a si do que pensar em grupo”, comenta.

O especialista ainda destaca algumas situações de desrespeito semelhantes e bem corriqueiras, como furar fila, pegar troco errado e não devolver, ocupar o assento do ônibus que é exclusivo de idoso, entre tantas outras infrações que não geram multa.

“As pessoas sabem a maneira correta de fazer, se perguntar a qualquer um como é que se evita a dengue, todo mundo sabe, mas não faz, porque dá trabalho, e as pessoas preferem evitar a fadiga”, explana Renan.

Confira a galeria de imagens:

  • Moto estacionada entre carros (Foto: Vanderlei Aparecido)
  • Caminhão para em fila dupla para descarregar mercadoria (Foto: Vanderlei Aparecido)
  • Motos ficam amontoadas por falta de vagas (Foto: Vanderlei Aparecido)
  • Camionete estacionada em vaga exclusiva (Foto: vanderlei Aparecido)
  • Motorista estaciona em vaga exclusiva, ao mesmo tempo que fala ao celular (Foto: Vanderlei Aparecido)
  • Mais um carro que estaciona em vaga exclusiva para portadores de necessidades especiais (Foto: Vanderlei Aparecido)
  • Emerson não usa cinto de segurança e alega que estava procurando vaga (Foto: Vanderlei Aparecido)
  • Rubens Saito fala ao celular enquanto dirige (Foto: Vanderlei Aparecido)
  • Campo Grande News
Nos siga no Google Notícias