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Capital

Cadeiras de roda ocupam vagas "normais" para destacar direitos

Flávia Lima | 12/05/2015 14:00
Cadeiras traziam dizeres ouvidos por deficientes quando querem utilizar a vaga especial (Foto:Marcelo Calazans)
Cadeiras traziam dizeres ouvidos por deficientes quando querem utilizar a vaga especial (Foto:Marcelo Calazans)

Quem passou pela Rua 14 de Julho, no Centro da Capital, na manhã desta terça-feira (12), ficou surpreso com as 30 de cadeiras de rodas “estacionadas” nas vagas em frente às lojas, destinadas aos motoristas que frequentam a região.

A ação fez parte do Movimento Maio Amarelo, que desde a semana passada realiza abordagens e atividades educativas em diversas vias da cidade. O objetivo é alertar os motoristas quanto a necessidade de reduzir o número de acidentes de trânsito no mundo todo.

Mas a campanha não se restringe a prevenção desse tipo de ocorrência, tanto que até os ciclistas já passaram por blitz educativa. E hoje foi a vez dos cadeirantes ocuparem o Centro para conversar com a população e motoristas sobre a importância de respeitar as vagas especiais. O assunto é tão latente, que diversas novelas já abordaram a problemática e as dificuldades enfrentadas no trânsito por pessoas com deficiência.

As frases fixadas nas cadeiras chamavam atenção para as desculpas que os deficientes mais ouvem no dia a dia quando precisam disputar uma vaga destinada a eles com um motorista que não apresenta a credencial emitida pela Agetran. Alguns dos dizeres selecionados foram “Vou ali e já volto” e “É só um minutinho”.

De acordo com levantamento do órgão, em dezembro de 2014, das 2.458 vagas existentes no quadrilátero central, 120 são destinadas a idosos e 61 a deficientes. Atualmente a Capital tem 2 mil cadeirantes e 200 mil pessoas portadoras de algum tipo de deficiência segundo dados do IBGE.

Apesar dos números expressivos, o desrespeito em relação as vagas ainda é grande, de acordo com o chefe de Núcleo da Divisão de Educação para o Trânsito da Agetran, David Marques. “Infelizmente ainda existe arrogância das pessoas”, diz. Ele acredita que não seja falta de informação, já que sempre há campanhas nesse sentido na Capital, incluindo as ações do movimento “Essa vaga não te pertence nem por um minuto”, criado em 2011 e com alcance nacional.

Cadeirante há 17 anos devido a um mergulho, David já viveu situações constrangedoras, como certa vez em que discutiu com um motorista no estacionamento de um supermercado. “A pessoa disse que eu poderia multá-lo se quisesse, mas não sairia dali”, enfatizou.

A paratleta Adriana Rolon diz que falta respeito. “Informação as pessoas tem”, destaca. Ela também já passou por situações humilhantes, como quando teve a recusa de um motorista em sair da vaga especial dizendo que havia chegado primeiro ao local. Na opinião da paratleta, o baixo valor da multa (R$ 53,00) para quem comete esse tipo de infração, acaba incentivando o mau comportamento de alguns motoristas.

Ano passado a Agetran registrou 847 ocorrências em vagas de deficientes e 456 na de idosos. Do início de 2015 até abril, foram 405 multas para quem estacionou em vaga destinada a idosos e 218 para as vagas para deficientes.

David Marques (centro) e grupo de cadeirantes enfatizaram necessidade de ações conjuntas. (Foto:Marcelo Calazans)
David Marques (centro) e grupo de cadeirantes enfatizaram necessidade de ações conjuntas. (Foto:Marcelo Calazans)
Ação contou com panfletagem e orientação de agentes de trânsito. (Foto:Marcelo Calazans)
Ação contou com panfletagem e orientação de agentes de trânsito. (Foto:Marcelo Calazans)

Mais fiscalização - Para reverter o quadro, David Marques acredita que a solução está na soma de ações de conscientização, como a panfletagem ocorrida esta manhã. “A Agetran não quer apenas multar. O mais importante é conscientizar a população”, ressalta.

Segundo a chefe da Divisão de Educação da Agetran, Ivanise Rotta a fiscalização, que atualmente só pode ser feita nas vias públicas, vai passar também a acontecer em estacionamentos particulares de shoppings e supermercados.

A assinatura do convênio que vai viabilizar a ação será feita no próximo dia 27, entre a Agetan e representantes dos shoppings e supermercados da Capital. A fiscalização ficará a cargo do Ministério Público. “A ideia surgiu justamente devido ao grande número de reclamações relacionadas ao uso inadequado das vagas especiais dentro desses estabelecimentos”, explica.

Apesar do fluxo de clientes que pretendiam estacionar para ir às lojas hoje de manhã ter caído, motoristas e lojistas aprovaram a iniciativa. “É um direito adquirido deles. Melhor isso do que os atos de vandalismo, como pichar os veículos estacionados nas vagas especiais”, diz o vendedor Weiglison de Oliveira Moreira.

O funcionário público Luis Calobrisi e o vendedor Emerson Souza também aprovaram a campanha. "É importante para valorizar essas pessoas que às vezes dependem da boa vontade dos outros, mesmo tendo leis que a amparem”, ressalta Emerson.

Para ter direito a credencial, basta ir a Agetran com os documentos solicitados. Das 2.464 autorizações emitidas em 2014, 2.197 foram para idosos, 259 para cadeirantes e portadores de alguma necessidade especial e oito para renais crônicos. A validade das credenciais é de cinco anos para os dois primeiros casos e dois anos para os renais crônicos.
As denúncias relacionadas ao uso incorreto das vagas podem ser feitas através do número 118.

O funcionário público Luis Calobrisi diz que é preciso mais respeito. (Foto:Marcelo Calazans)
O funcionário público Luis Calobrisi diz que é preciso mais respeito. (Foto:Marcelo Calazans)
"Melhor do que pichar carros", diz Weiglison de Oliveira
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