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20 de novembro de 2015: ...... 320 anos depois

Por Márcia Alvarenga (*) | 20/11/2015 14:05

Nesta data de 20 de novembro de 2015 poderíamos estar comemorando a morte de Zumbi dos Palmares se de fato a vida das pessoas negras tivessem mudado, se de fato houvesse a inserção destas pessoas na sociedade com os mesmos direitos e igualdade de oportunidades. Mas, após 320 anos da morte de Zumbi, estou aqui a pensar se a sociedade brasileira e principalmente a comunidade acadêmica precisa de um dia (apenas um único dia) para refletir sobre a “Consciência Negra”. Importante ressaltar que o primeiro movimento registrado que deu início a esta homenagem data de 1971, pela ação de homens e mulheres do Grupo Palmares, em Porto Alegre, RS (Silva e Silvério. Educação e ações afirmativas: entre a injustiça simbólica e a injustiça econômica. INEP, 2003).

Caso você não saiba quem foi Zumbi, recomendo algo rápido: assistir ao filme Quilombo. Produção de Augusto Arraes e dirigido por Carlos Diegues (1984), com Antônio Pompeo, Zezé Mota, Grande Otelo entre outros (https://www.youtube.com/watch?v=VR2IrSMeQoU). Também pode-se obter outras informações na página da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

E aí começa esta reflexão que não deve ser de um dia (um único dia), pois consciência pode ser minimamente entendida como a capacidade que o homem tem de conhecer valores e mandamentos morais e aplica-los nas diferentes situações; conhecimento; ou capacidade de percepção em geral. Esta definição foi retirada do Dicionário Michaelis, mas é suficiente para compreendermos que quem tem consciência, não pode tê-la somente um dia ou desenvolvê-la em um dia. É preciso tempo. Tempo para nos conhecermos (autoconhecimento), tempo para conhecermos o outro (alteridade), tempo para Ser-mos. E o que somos?

Somos Seres Humanos. Mas, alguém em alguma época achou que não deveríamos ser reconhecidos apenas como Ser Humano, mas como preto, branco, amarelo, índio, cristão, pagão, mulçumano, judeu, homem, mulher, criança, adolescente, velho, novo, homossexual, heterossexual, transexual, baixo, alto, gordo, magro, pobre, rico, e seguem inúmeros substantivos e adjetivos para qualificar, segregar, discriminar o Ser Humano.

Após 320 anos e não sei por mais quantos anos virão, estamos refletindo (em um dia) o racismo e a discriminação racial no âmbito da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Estamos fazendo esta reflexão porque na nossa comunidade acadêmica, infelizmente, o racismo e a discriminação racial e social estão presentes. Presente contra o preto, o índio, a mulher, o homossexual, o transexual, o deficiente, o pobre e contra todo aquele que é diferente. E como todos nós somos diferentes (somos únicos), somos todos afetados quando qualquer Ser agride outro Ser pela intolerância ou pela ignorância.

Alguém em alguma época classificou ou agregou grupo de seres humanos (por terem características comuns) e determinou que este grupo formava ou constituía uma “Raça”. Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, no livro “Racismo e Anti-racismo no Brasil” aborda diversas definições de “raça” e para esta reflexão escolhi o seguinte: “a raça tornou-se uma imagem da diferença absoluta e irredutível entre culturas, grupos linguísticos ou aderentes a certos sistemas de crenças que apresentam também interesses econômicos opostos. A raça tornou-se a figura suprema da diferença”.
Eliane Cavalleiro (Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil) também apresenta vários conceitos de racismo, entre os quais destaco como “uma prática que reproduz na consciência coletiva um amplo conjunto de falsos valores e de falsas verdades e torna os resultados da própria ação como comprovação dessas verdades falseadas. Portanto o racismo apresenta-se como uma ideia que permite o domínio sobre um grupo pautado apenas em atributos negativos”.

Finalizando, deixo os seguintes questionamentos para os membros da comunidade acadêmica da UEMS:
Por que no ambiente acadêmico onde a tônica é o ensino e a pesquisa não conseguimos superar as barreiras da raça e do racismo?

Por que no ambiente acadêmico, mesmo os mais informados (ou titulados) não conseguem romper a reprodução social discriminatória?

Por que a geração mais jovem deixa-se contaminar por velhos conceitos, preconceitos, tabus e falsos discursos moralistas? Por que os jovens também são intolerantes?

Alma Não Tem Cor

Chico César

Alma não tem cor

Porque eu sou branco?

Alma não tem cor

Porque eu sou negro?

Branquinho

Neguinho

Branco negão

Percebam que a alma não tem cor

Ela é colorida

Ela é multicolor

Azul amarelo

(*) Márcia Alvarenga, pró-reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários da UEMS

Verde verdinho marrom

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