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A degradação do solo já preocupa a humanidade

Laerte Tetila (*) | 03/11/2012 08:46

Nove milhões de hectares degradados. Esta é a situação dos solos das áreas de pastagens sul-mato-grossenses. Uma área que já equivale à metade do espaço geográfico ocupado pela nossa pecuária (Censo Agropecuário - IBGE). Algo preocupante quando se pensa o solo como recurso natural da mais absoluta importância. Os solos, na verdade, são o suporte da vida. Suporte onde se assentam todas as atividades humanas e econômicas. Todavia, trata-se de um recurso frágil, delicado.

Tal como se vê na pedologia, alguns centímetros de solo podem levar milhares de anos para se formar, mas podem degradar em pouco tempo. O solo é considerado degradado, conforme a Embrapa, quando fica 50 centímetros abaixo de seu potencial produtivo. E isso acontece devido às práticas inadequadas de manejo. Práticas que vão além da sustentabilidade, cujas consequências não se restringem apenas aos desequilíbrios ambientais, envolvendo recursos como os hídricos e a  biodiversidade.

Envolve, também, a vida humana das regiões impactadas. E quando o assunto é degradação dos solos, é, aí, que se percebe, com muito mais nitidez, a estreita relação de dependência que existe entre a sociedade e a natureza. Já é universal o conhecimento de que a degradação dos solos equivale à desintegração das leis da própria sobrevivência. É a vida sendo solapada em seus fundamentos.

Daí o ônus social, pois a queda da produtividade, obviamente, afeta diretamente a oferta de emprego, a renda das famílias, tornando, inevitável, a estagnação, o esvaziamento populacional pela migração, inclusive, sobrando aos municípios afetados os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Lamentável, mas este é um problema que tende a crescer.

A ONU calcula que o total de solos degradados no Planeta já atinge dois bilhões de hectares, cabendo, ao Brasil, conforme Wagner Pires (2011), "a maior área de pastagens degradadas do mundo", cerca de 200 milhões de hectares, segundo a Embrapa. E, a despeito de seu crescimento, a degradação, também, pode evoluir para a desertificação, fenômeno que vem avançando mundialmente - 60 mil km² por ano, já atingindo 33% da superfície terrestre, conforme a ONU. Em Mato Grosso do Sul, os 9 milhões de hectares de pastagens degradadas acham-se, basicamente, nas regiões de solos areníticos.

Na região sudoeste, 50 mil hectares já se encontram em processo de degradação avançada, portanto, susceptíveis à desertificação (cf. Convenção Mundial de Luta contra a Desertificação), o mesmo acontecendo em Camapuã, a nordeste do estado, conforme a Ong Ecoa (Ecologia e Ação).

O problema é sério. No Rio Grande do Sul, os municípios de Alegrete, São Francisco de Assis, Santana do Livramento, Rosário do Sul, Uruguaiana, Quaraí, Santiago e Cacequi já foram atingidos pela arenização, inclusive, com formação de dunas, que, para muitos, já é a própria desertificação dos Pampas. Diferentemente de estados como São Paulo, Paraná e Minas Gerais, onde o relevo é bem mais acidentado, o território sul-mato-grossense conta com a grande vantagem da suavidade topográfica para a implementação de projetos de restauração de áreas degradadas.

Viajando pelo estado, temos visto, como um bom sinal, a adoção das chamadas microbacias hidrográficas, com terraceamentos, curvas de nível, em várias propriedades. E é bom saber que o Governo Federal abriu linha de crédito para o combate efetivo desse problema, tanto quanto o Governo do Estado tem como meta, por meio da Secretaria de Estado de Produção, reduzir em dois milhões de hectares as pastagens degradadas de nosso Mato Grosso do Sul até o ano de 2014. A superação do modelo agrícola atual por um modelo novo, moderno, que contenha os princípios da sustentabilidade, precisa acontecer. Ainda há tempo!

(*) Laerte Tetila é mestre em geografia física pela USP e deputado estadual (PT/MS).

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