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A frustração do oposicionismo

Por Marcos Alex Azevedo de Melo (*) | 02/04/2011 11:00

O cinismo político praticado pelas oposições e alimentado por fúria incomum tentou prevalecer sobre a ética e a verdade na disputa eleitoral de 2010. Um cinismo intransigente. Não admitia qualquer chamado à luz da razão e do bom senso. Num contexto evidente de oposicionismo sistemático, seus subscritores ostentavam cenas cinematográficas de vínculo corporativo, tentando vender imagens de unidade, coesão, harmonia e de virtudes vitorianas, tudo para ganhar o crédito da sociedade para a estigmatização do governo Lula, ao qual destinou sumárias condenações políticas, morais e eleitorais.

O oposicionismo apostou, inclusive, na derrocada da era Lula, aposta que virou tema recorrente da campanha demo-tucana enquanto vigorou a euforia de impedir a vitória de Dilma no primeiro turno. Mas a mentira tem pernas curtas. O eleitor foi às urnas no segundo turno e deu sua resposta, emitiu seu parecer. Passado o processo eleitoral, o que antes era um mar de rosas transformou-se rapidamente em um cenário desértico. Cai a máscara. Em estado falimentar, as oposições veem surgir em seus domínios as fissuras e cisões que até então, ardilosamente, conseguiam encobrir. Agora toma-se conhecimento, por exemplo, e segundo a própria ex-candidata Marina Silva, que o PV possui estrutura antidemocrática e que não permite o livre debate. E que entre os tucanos paulistas Serra e Alckmin há muito mais divergências e conflitos de interesses do que se supunha. E que o convívio de fachada no DEM ruiu.

Ainda assim, e no uso do enfadonho e monocórdico discurso de uma nota só, as oposições insistem na tentativa de justificar seu desmonte responsabilizando o governo e sua base aliada. Querem creditar suas derrotas e seu estágio de penúria à capacidade de superação dos adversários, sem atentar para o errado que fazem e o certo que deixam de fazer. Continuam errando por presunção, soberba. Faltam humildade e autocrítica para enxergar o tamanho da desarticulação e dos enormes buracos que cavaram para si mesmos.

A debandada de Kassab e dos kassabistas e a desfiliação de Índio da Costa evidenciam o superficialismo e as fragilidades de um projeto político que não tem vínculo com a construção do Brasil que os brasileiros e brasileiras querem. Um projeto que, para subsistir, prefere trocar a defesa de seus programas pela disseminação do medo e do preconceito, amparando-se nas mentalidades mais atrasadas da sociedade, incluídos ai segmentos religiosos e a nossa boa e velha mídia corporativa.

Ora, ajuntar-se para disputar uma eleição presidencial de um país que escala degraus de liderança em escala mundial, mas fazendo desse ajuntamento uma fábrica de teses preconceituosas e de factóides, sem sequer apresentar um programa de governo e sem interesse em elevar o nível do debate, não poderia acabar bem. O que acontece apenas reflete o grau de leviandade e de extrema imaturidade que atinge o campo oposicionista. Verdadeiramente, a oposição como projeto político não existe, e isso é ruim, pois piora em muito a qualidade do debate, não-apenas pelo contraponto nos parlamentos e nas esferas de disputa políticas e institucionais, mas em termos de concepção, unidade e formulação de um projeto para o País e para o nosso povo.

A torre de Babel que esperavam que acontecesse do lado governista está acontecendo do outro lado. Os previsíveis rachas entre PT e PMDB, a tão decantada disputas pelas mesas diretoras e pelo comando do Congresso e cisões em votações importantes não ocorreram, deixando os oposicionistas apáticos, sem discurso, neutralizados.

Apostavam na inexperiência de Dilma e em crises de governo e perderam a aposta. Exploraram diferenças de estilo e de personalidades, agarrando-se em diversas elucubrações para incentivar ou vaticinar futuras divergências entre Lula e Dilma. São incapazes de admitir que Lula não lutou e não reivindicou, em momento algum, o terceiro mandato; que ele sempre disse que Dilma iria sucedê-lo e seria a presidenta e realizaria o governo com independência, com sua própria forma de governar. Apesar de tudo, de tantos erros e tropeços, sempre há tempo de fazer a autocrítica e, com essa postura de humildade, quem sabe o oposicionismo se cure de suas frustrações e contribua de fato com a qualificação da democracia brasileira.

(*) Marcos Alex Azevedo de Melo é vereador pelo PT em Campo Grande (MS).

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