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A teoria "U" e as múltiplas dimensões humanas

Por Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 15/02/2015 09:00

No Brasil, enfatizamos as teorias nem sempre aplicáveis à realidade, em vez de buscar sua adequada adaptação aos problemas reais. Há uma crise cujo motor é a insensibilização do ser humano que está perdendo a capacidade de ver claramente o presente e as tendências que estão formando o futuro. A acelerada e continuada circulação de informações iniciada com a televisão, e que evoluiu com as novas tecnologias de informação, está rompendo o equilíbrio que havia entre o ser humano aparente e o seu eu interior que está sendo sufocado, o que leva à perda da intuição e da visão clara.

Com a perda da intuição, a vida fica vazia, sem sentido. A capacidade de sonhar se esvai. Sem visão clara, o ser humano não consegue definir propósitos concretos. O contentamento e a serenidade deixam de surgir espontaneamente no inquieto raciocínio estimulado 24 horas ao dia. Isso gera a crise, pois a vida perde a sua finalidade maior diante da sintonização voltada prioritariamente para os resultados financeiros e para a satisfação imediata.

Precisamos olhar para o real e aprender com ele, entender o que está se passando; movimentar o corpo e a mente, dando asas à intuição que ficou algemada aos esquemas de rígidas teorias. Se quisermos formar cientistas inovadores e criativos, com os pés no chão, e não nas fantasias teóricas, temos de olhar primeiro para a natureza e aprender com ela. Olhar para o presente e ver que futuro estamos gerando para nós mesmos.

Indiretamente, Otto Scharmer, economista norte-americano e professor no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), propõe isso em seu livro Teoria U. Trata-se de uma teoria inovadora que quer olhar o ser humano em suas múltiplas dimensões, na busca por uma tecnologia social de mudança transformadora, para ajudar os líderes a enfrentar os desafios decorrentes de um futuro cada vez mais complexo e imprevisível. Scharmer reconhece duas fontes diferentes de aprendizagem: aprender com as experiências passadas, e ‘aprender com o futuro tal como ele emerge’, que significa como o futuro se manifesta para nós. O ‘Modelo U’ propõe que sejam abertas as mentes, as emoções e a vontade para chegarmos aos momentos de descoberta e de compreensão mútua. Consideramos isso um importante passo para redespertar a intuição utilizando-a para uma visão abrangente da realidade.

Segundo Scharmer, a atual crise global é consequência dos três principais desníveis. O primeiro deles é questão ecológica; o segundo, refere-se à questão social e econômica, que pode ser exemplificado pela pobreza e desigualdade; e o terceiro centra-se na relação cultural e espiritual, entre o eu atual e o eu emergente, ou seja, a separação entre o que faço no meu ambiente profissional e o meu propósito de vida. Para o economista, esses desníveis levam à exaustão, depressão e até suicídio, e sugere que reinventemos o conceito da sustentabilidade, levando em consideração essas três dimensões.

Não será utilizando apenas o raciocínio analítico que alcançaremos essa sustentabilidade; antes disso temos de colocar a intuição em movimento para que o cérebro e a intuição desenvolvam um trabalho conjunto de qualidade efetivamente humana.

Em resumo, a Teoria U, com foco nos negócios, “observa a liderança e as habilidades sociais de um ponto de vista profundo, que não só leva em conta o que fazem os líderes e como o fazem, mas que enfoca algo que não tinha sido contemplado pelos teóricos: o lugar de onde atuam e sua disposição interior.” Sem dúvida, esse modelo poderá contribuir para movimentar a adormecida intuição, por exigir o esforço para a compreensão do que está ocorrendo efetivamente em consequência das nossas decisões visando projetar um futuro melhor.

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, e associado ao Rotary Club de São Paulo. Realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros “ Conversando com o homem sábio”, “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”, “O segredo de Darwin”, e “2012...e depois?”. E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7

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