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Alguns aspectos fundamentais para a viabilização de uma fruticultura sustentável

Por Ivo de Sá Motta (*) | 23/12/2010 16:27

O cultivo de espécies frutíferas pode ser realizada em escala de auto-consumo da família e/ou visando a produção comercial. No caso da produção para o consumo familiar, o pomar deve ser pequeno e diversificado, de preferência com espécies mais rústicas e menos exigentes de tratos culturais. Sempre é interessante verificar na vizinhança, quais as espécies e cultivares que se adaptam melhor às condições locais.

A fruticultura comercial, especialmente para os agricultores familiares, apresenta-se como opção econômica de grande importância, pois são culturas intensivas que geralmente propiciam bom retorno econômico, mesmo em áreas de terra relativamente pequenas, contribuindo para a geração de empregos e renda.

No Estado de Mato Grosso do Sul, em função da diversidade de solo e clima, as culturas de frutas cítricas, banana, abacaxi, acerola, maracujá, manga, mamão, goiaba, uva, abacate, caqui, pinha, entre outras, têm obtido desempenho satisfatório, possibilitando a viabilização econômica em pequenas propriedades. Antes de iniciar a fruticultura em escala comercial, sempre é desejável que o agricultor participe de cursos de capacitação promovidos pelos agentes de assistência técnica e organizações de agricultores.

De maneira geral, para o sucesso da fruticultura comercial, há necessidade de avaliar a viabilidade técnica e econômica da atividade, verificando os seguintes aspectos fundamentais:

1) Potencial do mercado e os possíveis canais de comercialização que garantam a venda da produção de frutas “in natura”, ou processada na forma de doces, geléias, compotas, passas, polpa, sorvetes, sucos, entre outros. É importante considerar o potencial das espécies nativas, como as frutas do Cerrado, tais como: araçá, araticum, baru, buriti, cagaita, gabiroba (guavira), jatobá, jenipapo, e outras, procuradas para a produção de sucos e sorvetes, principalmente;

2) vias de acesso para escoamento da produção e transporte dos insumos;

3) disponibilidade de mão-de-obra, pois a fruticultura é bastante exigente no seu manejo cultural (verificar a possibilidade do treinamento de pessoal);

4) condições locais de clima e solo adequadas às exigências da espécie frutífera escolhida. Consultar os Agentes da Assistência Técnica;

5) infra-estrutura necessária na propriedade, tais como: carreadores, barracão para abrigar máquinas, equipamentos, ferramentas e insumos, além de possibilitar a seleção, lavagem e embalagem das frutas em área coberta;

6) mudas de alta qualidade oriundas de viveiros registrados no Ministério da Agricultura, ou produzidas pelo agricultor, com tecnologia adequada que propiciem elevado vigor e sanidade assegurada. Quando as mudas são produzidas a partir de sementes, como no caso do mamão e maracujá, é recomendável utilizar sementes de cultivares selecionadas e com garantia de sanidade.

Também é necessário utilizar substrato sadio, sem contaminação de doenças (nematóides e fungos) e sem infestação de propágulo de erva problemática como a tiririca. Quando se utiliza rebentos (abacaxi) ou filhotes (banana) que são formas de propagação vegetativa, além do vigor do material, deve-se observar a sua sanidade, evitando a contaminação com pragas e doenças.

Já no caso de mudas enxertadas, é importante o domínio desta prática, para a produção de mudas com qualidade. A qualidade da muda é determinante na produtividade do pomar;

7) capital próprio ou financiado necessário para a implantação e formação do pomar, até iniciar a produção. Algumas espécies frutíferas demoram em torno de um ano para iniciar a produção, outras até três anos;

8) área de terra adequada para o cultivo de fruteiras, evitando a face de exposição sul, solos rasos ou encharcados e áreas declivosas.

Verificada a viabilidade da atividade, a etapa seguinte é a preparação da área. Após a limpeza do terreno, deve proceder o preparo do solo. Quando existir camada sub-superficial compactada, deve-se descompactar a camada adensada. Realizar a calagem e adubação, de acordo com resultados da análise do solo.

Geralmente a adubação para a implantação do pomar é feita em sulcos com profundidade de pelo menos 40 cm, ou covas de 50 x 50 x 50 cm. Neste sulco ou cova deve-se realizar a adubação orgânica e mineral, pelo menos 30 dias antecedendo o plantio, variável conforme a espécie frutífera. A adubação orgânica na cova ou sulco, preferencialmente, deve ser feita com composto ou vermicomposto (húmus de minhoca), que são adubos orgânicos de qualidade superior se comparado com a utilização direta do esterco animal.

Visando a fertilidade do solo, para evitar a sua exposição ao sol, às chuvas e a infestação de plantas espontâneas, deve mantê-lo permanentemente coberto com leguminosas e/ou gramíneas (cobertura viva), nas entrelinhas da cultura, periodicamente roçadas com roçadeira deslocada que joga o capim roçado nas linhas da cultura, embaixo das copas das plantas frutíferas.

Nas linhas da cultura, a utilização de cobertura morta, com palhas (capim, bagaço-de-cana, casca-de-arroz, entre outros), propicia vários benefícios, tais como: melhor aproveitamento da água da chuva ou irrigação, pois diminui a evaporação, inibe a ocorrência de plantas espontâneas e reduz a lixiviação de nutrientes entre outros.

Nesta fase inicial, a implantação de barreira vegetal (quebra-vento), é de importância fundamental, porque além de proteger dos ventos, evitando danos mecânicos, propicia melhor aproveitamento da água pelas plantas e maior sanidade vegetal, reduzindo a disseminação de pragas e doenças sobre as fruteiras e a deriva de herbicidas potencialmente fitotóxicos. Podem ser utilizadas espécies temporárias (ex.: cana e capim-elefante) ou permanentes (ex: sansão-do-campo, hibisco e flor-do-mel).

Para cada espécie frutífera existem as exigências específicas de cultivares, adubação, época de plantio, espaçamento, tratos culturais, controle de pragas e doenças, época de colheita, e atividades pós-colheita, entre outras.

Quanto a cultivares, é desejável que esta, tanto quanto possível, reúna características de alta produtividade, qualidade comercial, resistência a pragas e doenças, porte que facilite a colheita (quando possível), regularidade de produção evitando a bianualidade, entre outras.

No que diz respeito à época de plantio, cada espécie tem suas particularidades, mas de uma maneira geral é indicado o plantio na época das chuvas, pois desta forma evita-se a necessidade de irrigação frequente.

Quanto ao espaçamento, apesar da tendência ao adensamento de plantas por área, é fundamental respeitar a necessidade de espaço de cada espécie, para evitar o auto-sombreamento, causando prejuízos na produção.

Quando se faz consórcios, muitas vezes é interessante adotar-se espaçamento duplo, ou seja, espaçamento entrelinha mais próximo, alternado com mais largo, intercalando a outra espécie. Exemplos: abacaxizeiros ou bananeiras em espaçamento duplo.

Após o plantio das mudas, deverá vistoriar-se frequentemente as plantas no pomar, para verificar a ocorrência de pragas e doenças para proceder ao controle oportunamente. Desta forma, realiza-se o monitoramento de pragas, doenças e inimigos naturais e adota-se a estratégia de proteção das plantas ou manutenção da sanidade da planta mais adequada para cada situação.

Para tanto, é importante potencializar o controle biológico conservativo (natural, promovido pela biodiversidade) ou inundativo (com a introdução de inimigos naturais criados em laboratório) das pragas. Para o controle de doenças, dispõe-se das práticas culturais preventivas, tais como: sementes e mudas sadias, cultivares resistentes, barreiras vegetais, roguing (eliminação de plantas doentes), entre outras. Complementarmente, também podem ser utilizados os ferti e fitoprotetores, tais como: biofertilizantes, as caldas bordalesa, sulfocálcica, viçosa e os extratos vegetais (óleo de nim e rotenona). Para a proteção dos frutos contra a mosca-das-frutas, pode-se fazer o ensacamento dos frutos.

É importante considerar que existem alternativas viáveis e eficientes para o controle de pragas e doenças e é possível evitar a utilização de agrotóxicos. Vistoriar frequentemente o pomar e sempre que necessário consultar a Assistência Técnica.

Deve-se destacar que, para o agricultor familiar viabilizar melhores condições de comercialização, é fundamental organizar-se em associações e cooperativas para o seu fortalecimento, assim alcançar uma economia de escala, tanto para a venda “in natura” como para industrialização da produção, possibilitando inclusive a certificação da produção em grupos.

(*) Ivo de Sá Motta é engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS).

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