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Cadáver para o almoço

Por Paulo Renato Coelho Netto (*) | 24/10/2013 13:23

Cachorros, gatos e burros já estão no cardápio. Agora, com o agravamento da guerra e a falta de alimento em Damasco, se alimentar de carne humana pode ser uma alternativa para que milhares de pessoas não morram de fome. Este é o saldo da guerra civil.

O alerta para o iminente canibalismo partiu de líderes religiosos que já autorizaram o consumo de animais considerados impuros como a última fronteira para não se morrer de fome na Síria.

Penúltima, pelo visto. O próximo passo, se concretizado, dará a sentença definitiva de que o ser humano é o pior entre os animais que habitam este planeta. A simples possibilidade já é uma aberração por si só: o canibalismo.

Paradoxalmente, a notícia para transformar a carne humana em comida na Síria foi dada na quarta-feira, 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação.

Estimativas da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) revelam que por ano o mundo desperdiça 1,3 bilhão de toneladas de alimentos.

O desperdício começa desde a produção, a manipulação, a colheita e armazenagem (responsáveis por 54% do lixo gerado), bem como aquelas que ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo.

Uma em cada oito pessoas continua sem alimentos suficientes, das quais 24,8% no continente africano.

Nos últimos cem anos o ser humano destruiu o planeta o equivalente que a natureza levou bilhões de anos para construir. Aonde vamos passamos por cima como uma nuvem de gafanhotos.

Comemos golfinhos, peixes, baleias, carnes das mais variadas, batatas, aranhas, saúvas, cobras, escorpiões e lagartos. Também alface, soja e rúcula infestadas de agrotóxicos e agora vamos comer a nós mesmos. A aberração de hoje será corriqueira amanhã. Antropofagia.

Em toda guerra, a fome é voluntária. A notícia sobre o canibalismo na Síria pode ser uma jogada política para atrair ainda mais os olhos do mundo para o conflito.

Para se livrar do ditador Bashar al-Assad, que preside o país desde junho de 2000, o povo sírio sofre há dois anos. Cem mil pessoas já morreram. Dois milhões se refugiaram. Civis estão sendo exterminados diariamente. Tudo ali, no pé da Europa, no calcanhar da Itália.

Ou a gente se desperta para o fato que existe um planeta em convulsão fora da porta de casa ou vamos fazer parte da cadeia alimentar.

A propósito: como faço para mandar alimento para a Síria? E que chegue aos necessitados sem que seja desviado no caminho?

(*) Paulo Renato Coelho Netto é jornalista.

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