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Carnaval de Verdade no MS - Cordão Valu

Bóris Luiz | 16/02/2013 20:50

Confesso que achei não ser mais possível ver em Campo Grande o carnaval alegre presenciado no Cordão da Valu na terça-feira do carnaval de 2013.

Com 36 anos, sou de uma geração que começou a curtir o carnaval ainda criança, indo fantasiados nas matinês e, um pouco mais velhos, com nossos pais, nos bailes de carnaval no Rádio Clube, no Círculo Militar, no Estoril, no Libanês, no União de Sargentos, na Associação Comercial, dentre outros clubes de nossa Capital.

No início da juventude a onda era outra!

Os carnavais na Capital eram considerados decadentes para os jovens, com isso, quase todos procuravam deslocar-se para Bonito ou para Rio Verde onde existiam os Carnavais de Rua, nos quais eram montados palcos onde Bandas de Axé, o sucesso do momento, faziam shows ao ar livre que também eram disseminados durante o ano pelas chamadas micaretas, notadamente a Micarana, posteriormente chamada de Pantaneta em Aquidauana.

Passada essa época, os mais afortunados começaram a buscar diversão nos grandes centros de Carnaval, Rio de Janeiro e Salvador, tentando achar um tipo de festa que não existia em nossa Capital e em nosso Estado.

Isso significava, tal qual já foi dito um dia de São Paulo, que Campo Grande seria um túmulo do samba e, consequentemente, do carnaval.

Nesse carnaval, contudo, vi o início de uma mudança nesse conceito.

Creio ter conhecido um carnaval de verdade, daqueles que nunca tinha vivido, mesmo na época de criança quando freqüentava os clubes nas matinês!

Instigado por amigos, bem como por matérias publicadas no site Campo Grande News, fui conhecer o Cordão da Valu e me surpreendi positivamente com o que vi e vivi!

No final da tarde da terça-feira de carnaval levei meus filhos, Manoela de 09 (nove) anos e Victor Hugo de 06 (seis) anos para conhecerem o carnaval de rua que ainda não tinham presenciado.

Chegando às imediações da Estação Ferroviária, vi meus pequenos encantados com vários foliões, homens vestidos de mulher e diversas mulheres fantasiadas.

Ouvimos uma banda tocando marchinhas e músicas clássicas de carnaval. Banda essa que puxou o Cordão da Valu ao sair pela Rua 14 de Julho com os foliões atrás. Aliás, vale ressaltar as palavras da organizadora da festa antes da saída, orientando todos com os cuidados que deveríamos ter ao sair pelas ruas e conclamando os foliões a agirem de forma cortez, sem provocar algum motorista apressadinho que, eventualmente, quisesse passar pelo meio do bloco de carnaval.

Ocorre que as crianças não curtiram todo o potencial deste desfile de alegria, pois esta festa de carnaval é quase amadora, pelo que sei, sustentada unicamente pela iniciativa dos organizadores, de forma que os que estão mais longe da banda, ao final da procissão carnavalesca, pouco ouvem a música de qualidade produzida pela banda que alegra a todos (valeria um apoio de patrocinadores ou do Poder Público para melhor distribuição do “som” entre os participantes da festa).

Mas enfim, após esta parte já prazerosa da festa, deixamos as crianças com a Vovó e voltamos, eu, minha esposa e alguns amigos, para conhecer o que era o Carnaval da Valu à noite. Confesso que não me arrependi!

Ao chegar ao local, por volta das 20h, encontrei uma grande aglomeração de pessoas ouvindo um show lindo de tambores, dançando ao som do batuque muito bem coordenado.

Logo após, as já famosas, entre nós, meninas do Sampri ecoaram seu samba com muita alegria e competência, animando a todos. Dançamos, cantamos, curtimos e nos divertimos bastante.

Depois, sempre acompanhadas pelo coro dos foliões que cantavam junto, as bandas se revezavam tocando marchinhas de carnaval, sambas deliciosos, além de outras músicas maravilhosas como o Bêbado e o Equilibrista, de João Bosco e Aldir Branc, que já foi maravilhosamente interpretada por Elis Regina.

Mas, o que mais me encantou foi a democracia da festa!

Não havia cobrança de entrada!

Não era uma festa elitista! Havia gente de todo o “tipo”!

Rostos conhecidos, rostos estranhos!

Famílias, casais heterossexuais e gays, solteiros heterossexuais e gays, gente fantasiada, gente “normal”. Enfim, uma alegria só em clima absolutamente pacífico!

Como disse, a democracia da festa era encantadora!

Além de essa gente maravilhosa, havia música de qualidade, um boteco simples, com as pessoas comprando suas bebidas no “empurra”, mas com muita cordialidade entre todos, e, principalmente, com os foliões aproveitando sem “eu quero tchu, eu que tcha” ou com “gatinha assanhada cê tá querendo o que?”, mas com mais de mil palhaços no salão, divertindo-se de forma sadia, fazendo trenzinho, sorrindo, celebrando nossa festa popular mais tradicional de forma democrática, feliz e respeitosa, participando e vivenciando o verdadeiro carnaval!

Espero que no ano que vem a alegria seja mantida, com o mesmo espírito, com a mesma felicidade e com a mesma paz, pois só depende de nós a manutenção de clima feliz, alegre, divertido e com a alegria verdadeira que o carnaval deve ter.

Creio que o verdadeiro carnaval voltou!

Tomara que não deixemos isso passar e que não tornemos elitizada essa festa popular realizada com alegria genuína e verdadeira do povo campo-grandense e brasileiro, que somos com muito orgulho!

* Bóris Luiz Cardozo de Souza, 36 anos, aquidauanense radicado em Campo Grande desde os 3 anos de idade, Juiz do Trabalho Substituto, atualmente Presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 24ª Região – AMATRA XXIV

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