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CPI do "absurdo"

"Estamos vivendo tempos de manhas e artimanhas" (Dilma Rousseff)

Por Pedro Kemp (*) | 11/05/2016 11:33

Na qualidade de membro titular da Comissão Parlamentar de Inquérito, criada para investigar o Conselho Indigenista Missionário - CIMI, não poderia deixar de expressar minha indignação e revolta quanto ao ocorrido na última sessão da CPI, marcada para a votação do relatório final dos trabalhos. 

Depois de quase sete meses de atividades, reuniões, juntada de documentos e exaustivas sessões de oitivas de testemunhas e investigados, a comissão realizou a última sessão em exatos 5 minutos e 48 segundos para a apreciação dos trabalhos.

Foi uma sessão-relâmpago, a mais rápida de todas, sem a presença de todos os membros titulares, a meu ver, com o claro e evidente objetivo de cercear o direito dos membros que discordaram dos argumentos e encaminhamentos do relator, impedindo-os de proferir voto dissonante.

Em todas as sessões da CPI houve uma tolerância de dez a quinze minutos para a chegada dos parlamentares que compõem a comissão. Estranhamente, a sessão derradeira inicia-se pontualmente às 14 horas e com a presença apenas dos três deputados defensores do relatório final.

Em minha opinião, não é democrático o que fizeram. Fui um dos deputados mais assíduos às reuniões, inclusive possibilitando o quorum mínimo em boa parte delas. Nas pouquíssimas ausências, comuniquei meu suplente para que me substituísse ou apresentei atestado médico à presidente da CPI. Senti-me desrespeitado.

Desde o início, manifestei-me contrário a criação da CPI, por ausência de fato determinado a ser investigado; por se tratar de entidade de caráter privado que nunca recebeu recursos públicos e por envolver assunto - demarcação de terras indígenas - de competência da esfera federal.

Em quase todas as oitivas, protestei de forma veemente manifestações tendenciosas e o cerceamento de minhas prerrogativas como parlamentar. Meus posicionamentos dissonantes da maioria eram conhecidos de todos e era público e notório que não votaria a favor do relatório apresentado. Como sempre fui voto vencido na comissão, não havia motivo para realizarem sessão assaz açodada.

Quando fui derrotado no requerimento contestando a criação da CPI, curvei-me à decisão do Presidente da Assembleia Legislativa que acolheu a propositura apresentada pela deputada Mara Caseiro. Indicado por meu partido para integrar a comissão na condição de membro titular, atuei com a responsabilidade que minha condição de parlamentar exige.

Participei das atividades da CPI com interesse e dedicação. Ouvi atentamente a leitura do relatório proferida pelo senhor relator durante quase seis horas, com dez minutos de intervalo. Mas, ao final, não tive o direito de proferir meu voto.

Mas poderão alegar: você chegou oito minutos atrasado. E eu poderia perguntar: qual foi a sessão que começou pontualmente às 14 horas? Eles teriam que me responder: apenas e tão somente a última, como atestam as atas das demais sessões.

O relatório final apresentado pelo senhor relator é um verdadeiro absurdo, para não dizer uma peça de ficção. Não é amparado em provas ou elementos consistentes. Utiliza-se de depoimentos de autores de livros pseudocientíficos sobre o CIMI, construindo uma tese do caráter conspiratório da entidade, que, com apenas cinco membros atuando no Estado, estaria atentando contra a soberania nacional e propondo a constituição de uma “Nação Guarani” independente.

O relatório omite o fato de a entidade investigada não ter sido notificada no início dos trabalhos, fato que, por si, compromete toda a investigação por coibir o direito de ampla defesa da investigada. Ademais, o relatório utiliza-se de depoimentos de pessoas que se negaram a assinar termo de compromisso, de pessoas que mentiram despudoradamente em suas afirmações e de outras declarações de pessoas que acusaram o CIMI com base em “ouvi dizer”, “tem indícios”, “não tenho certeza, mas...”, “acho que...”.

Com inconsistentes argumentos, o relatório ousou pedir a responsabilização criminal de 13 pessoas integrantes do CIMI ou aliados e a responsabilização civil da entidade e, absurdamente, da Igreja Católica pelos possíveis danos causados aos produtores rurais do Estado.

Sendo assim, manifesto meu repúdio pela forma apressada e antidemocrática como se deu a realização da sessão de votação do relatório final da CPI do CIMI, comissão esta criada com o intuito prévio de criminalizar a entidade e o próprio movimento indígena de Mato Grosso do Sul. Não medirei esforços para que meu voto possa ser conhecido e para que chegue às instâncias competentes.

(*) Pedro Kemp é deputado estadual pelo PT-MS.

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