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Cuba, a corrida e as medalhas

Por Dirceu Cardoso Gonçalves | 02/11/2011 12:13

Em dez das 16 edições dos Jogos Panamericanos já realizadas, Cuba classificou-se em segundo lugar. No ano de 1991, quando sediou os jogos, ficou em primeiro lugar, com 10 medalhas acima dos Estados Unidos, vencedor de 14 edições. Anteriormente, só a Argentina, em 1951, quando abrigou a primeira realização dos jogos, havia conseguido também o maior número de medalhas. Como é que Cuba, um pequeno país, de apenas 11 milhões habitantes, consegue tão expressivas pontuações, a ponto de bater os EUA e outros países numérica e economicamente mais fortes?

Verificando-se o extraordinário rendimento cubano nos jogos em Guadalajara, encontramos atletismo, luta olímpica, judô, canoagem, boxe e remo como os responsáveis pela maioria das medalhas conquistadas. São modalidades individuais ou coletivas de baixo investimento. O Brasil, que já investe em esportes de alto custo, teria um salto de qualidade se também desse força aos esportes básicos, que exigem apenas conhecimento dos fundamentos e não carecem de canchas e equipamentos sofisticados e, muito menos, de técnicos e profissionais de apoio pagos a peso de ouro.

Já que, nas últimas décadas, virou moda brasileiros buscarem exemplos cubanos, poderiam os encarregados do desporto nacional e os governos dar mais atenção ao atletismo. Começar motivando e incentivando a prática da corrida nas aulas de educação física, o que transformaria as escolas públicas em potencial celeiro de atletas. Também poderiam apoiar escolas particulares, empresas e a própria comunidade a cultivarem o hábito da caminhada e da corrida entre seus alunos, colaboradores e membros. Essa simples mudança de postura pode resultar no incentivo e formação de atletas para as demais modalidades, pois todas elas têm o preparo físico como base. Durante a corrida, os professores, monitores ou até olheiros de outros esportes podem buscar os praticantes que mais demonstrem jeito para o futebol, basquete, ciclismo, natação, etc. Tudo a baixíssimo custo e, ainda, com as vantagens de saúde – perda de peso, redução de colesterol e outras – proporcionadas pela prática regular do exercício. Solonei Rocha da Silva, que há dois anos era lixeiro em Penápolis (SP) e acaba de tornar-se campeão panamericano de maratona, é exemplo disso.

Historicamente, somos o “país do futebol”. Temos importantes bolsões da prática de basquete, tênis, vôlei, natação, atletismo e outros esportes. Mas, infelizmente, vivemos mais o lado mercantil do que o esporte. Jovens são levados a praticar o futebol na ilusão de se profissionalizar e o mesmo ocorre em outros esportes já profissionalizados ou de amadorismo marrom. Nada contra aqueles que conseguem ganhar dinheiro com o esporte. Mas seria infinitamente mais interessante se o esporte pudesse estar incutido nas pessoas como um direito e um estilo de vida e bem-estar.

Agora, que o Ministério dos Esportes passará por um reordenamento, seria muito interessante que, em vez de polpudas verbas para ONGs dedicadas aos esportes milionários, fossem garantidos recursos mínimos para a manutenção dos times de bairros e os insumos básicos para os interessados em praticar o esporte dentro da tradicional proposta da “mente sã em corpo são”. Isso poderá criar um clima positivo e até facilitar a participação de empresas e outras fontes na montagem de campeonatos e disputas locais ou regionais. Assim, o esporte voltará a ser prática e direito do povo, não apenas de milionários esquemas profissionais.

Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo)

aspomilpm@terra.com.br

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