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Gentileza gera gentileza. E o que gera educação?

Por Ronaldo Mota (*) | 14/09/2014 09:00

Em geral e para muitos, gentil e educado são a mesma coisa. Ainda que coisas parecidas, são conceitos distintos e não totalmente relacionados.

O adjetivo gentil, etmologicamente do latim gentilis, refere-se ao que descende de nobre linhagem, portanto, demonstra elegância, e pela delicadeza e graça desperta empatia, seja pelo encantamento ou requinte de seus comportamentos.

Por educado, define-se aquele que se educou e, portanto, tem polidez e civilidade. Lembrando sempre aquilo que bem afirmou Albert Einstein: “educação é aquilo que fica quando esquecemos o que nos foi ensinado”.

Do ponto de vista da percepção e da ambiência, quando, por exemplo, em uma festa de família, é natural que todos os primos nos pareçam, e são gentis e educados. Quando imersos em ambientes hostis e inóspitos, todos podem nos parecer simultaneamente não gentis e mal-educados. Interessante é observar contextos em que eventualmente um conceito contradiz o outro.

Quando estamos em uma fila, por exemplo, é possível termos comportamentos gentis e mal-educados, bem como o oposto, não gentis, porém, educados. Aquele que com graça estabelece boas conversas pode, eventualmente, ser o mesmo que fura a fila ou é conivente com tal comportamento, sendo gentil ainda que sem ser educado. Da mesma forma, alguém mais fechado e pouco dado às gentilezas, mas que sendo intransigente contra qualquer má-educação, do tipo furar a fila ou outras não civilidades, demonstre educação, mesmo sem ser necessariamente gentil.

Não compartilho com o exemplo porque é generalizante e injusto, mas há quem diga que esta distinção ajuda a entender duas regionalidades: o carioca e o gaúcho. Na visão de alguns, sem meu endosso, o carioca seria claramente mais gentil, mesmo quando não totalmente educado; o gaúcho, por vez, propenso a ser não tão gentil, ainda que, em geral, mais educado.

Estabelecidas minimamente as diferenças, resta discutir os comportamentos que despertam mais uma característica ou outra. É correto afirmar que gentileza gera gentileza. E o que gera educação? O conceito ser educado é mais complexo do que aquilo que fica na esfera comportamental.

Educação vai muito além da escolaridade. Há escolarizados sem civilidade e há não-escolarizados com muita civilidade, ainda que escolaridade seja um dos ingredientes para definir o educado, mas longe de ser exclusivo e talvez não seja o principal. Alguns afirmam que educação vem de berço. Se assim o fosse, os irmãos seriam homogêneos e sabemos bem quão diversos eles são ou podem ser. Mesmo assim, o ambiente doméstico tem a ver com educação.

Em suma, parecer ou ser gentil é mais rápido perceber ou simular. Ser educado é mais complexo de se mensurar e mais profundo de tornar-se. Educação vai além dos limites da escola, da família, do trabalho, das ruas, dos amigos, ainda que contenha o todo. Educação é algo mais permanente, ainda que se reflita nas circunstâncias e nas peculiaridades de cada um e de cada grupo social.

(*) Ronaldo Mota é reitor da Universidade Estácio de Sá e professor aposentado da Universidade Federal de Santa Maria

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