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Medicina no Brasil: uma questão puramente política

Por Felipe Gonçalves de Souza (*) | 19/10/2013 09:00

Não é fácil escrever um texto crítico para aqueles que realmente deveriam lê-lo. Talvez porque aos detentores do poder não seja bom propagá-lo, ou então, não permitam que muitos desinformados do passado tenham consciência de sua ignorância quanto a importância da informação, por exemplo, nesse texto subscrita. Assim viveu inúmeros autores e literatos clássicos, que ainda na vida moderna, são ignorados. Dessa forma, por uma análise contextual, se percebe a dificuldade quase cega do povo de enxergar o real propósito de programas mirabolantes de Governo, como o Mais Médicos. Uma massa facilmente manipulável que se vê "atendida" em seu clamor pelo imediatismo político, sem ter a consciência do perigo do futuro vivido agora no presente.

A Medicina brasileira vem sendo atacada a tiros de metralhadora. E por quê? Tudo veio às claras quando o povo já fatigado, inconformado com inúmeras pendengas e mazelas do Brasil, em especial a Saúde Pública, foi pra rua. A partir daí, toda a parafernalha legal dos bastidores começou a vir à tona: regulação da profissão médica, importação de mão-de-obra médica, reestruturação do curso médico. Seria a solução do problema caótico do SUS... 13 estrelinhas na testa para a nossa excelentíssima e seus secretários! No entanto, se fosse só isso, até mesmo o governo mais incompetente poderia tê-la proposto. Mas porquê só agora no fim do mandato?

Bem, sabe-se que a constituição brasileira em seus artigos 196 ao 200 prima pela defesa da Saúde Pública como dever de Estado. E, na tentativa mais que desesperada pós-revoltas por marketing político para 2014, o PT via Governo Dilma, enviou projetos com finalidade ímpar de demonstar alguma solução para o caos da Saúde Publica. Ou seja, medidas como a reformulação da atividade médica, a contratação de "médicos" estrangeiros sem averiguação de seus conhecimentos por meio do Revalida, e, a exigência de trabalho obrigatório no SUS para os ingressantes em medicina a partir de 2015, foram medidas autoritárias e impositivas que a própria população apoiou e apoia nesses projetos. Não é pra menos, uma vez que quando se está doente é de caráter urgente a necessidade de uma consulta, encaminhamento ou, quiça uma internação. Entretanto, todos os males da Saúde Pública no Brasil estão sendo descaradamente sendo vinculados ao profissional médico, como se só ele resolve-se tudo.

Todos sabemos que para ser atendido em alguma unidade básica de saúde é uma tortura. Primeiro, porque a própria infraestrutura já é desanimadora. Não só para o acolhimento do paciente, mas também o próprio leito (caso seja necessário). As instalações para a manutenção de equipamentos e medicamentos, além do espaço destinado a uma simples consulta também não são motivadoras. Segundo, a falta efetiva de médicos para atendimento. É fato: faltam médicos nos postos e cais para atendimento clínico. Porém, existem médicos para isso? Sim. Então? Um dos reais motivos para isso acontecer é a inexistência de um plano de carreira médica no Estado. Isto é, diferentemente de um formado em Direito, em Engenharia, em Economia, que possuem um plano para progredir dentro da sua carreira, o profissinal médico não entra nessa pauta. Dessa maneira, incentivos como melhores salários e de reciclagem técnica não fazem parte de sua realidade, desestimulando o ingresso no funcionalismo público.

Apesar de saber disso, os poderes Legislativo e Executivo não se mexem para resolver tal questão. Sobra a medida mais simples, portanto, aprovar medidas provisórias ao modo "jeitinho brasileiro" para resolver as coisas. Daí contratar supostos médicos estrangeiros sem a comprovação de diploma (como a barganha cubana). Uma atitude que só governos atrasados e populistas não mostram em seu Plano de Governo, mas põem em prática. Infelizmente, quem impõe tais circunstâncias não usufruem do serviço prestado, uma vez que eles sabem dos riscos. Não obstante, deve-se salientar: a medicina brasileira não é contra a vinda de médicos estrangeiros, mas sim contra a autorização para praticar a medicina sem o devido reconhecimento médico. São vidas que estão sendo levadas em consideração. O bem mais precioso de alguém, que não deve ser entregue a uma pessoa desqualificada. Por isso, a resistência dos CRMs para a expedição do registro dito provisório.

De qualquer forma, é desanimador perceber que a mesma população que até então consultava com médicos de referência, então, os estigmatiza. Não são todos os mal-informados que possuem a possibilidade da informação correta visto que a nossa mídia é extremamente tendenciosa. No entanto, um pouquinho de bom senso vem a calhar... "por qual motivo será que os médicos reivindicam respeito no atendimento público?" Certamente não é pelo bom salário recebido ou a infraestrutura top de linha.... Caso leitor você ainda concorde com o massacre que a medicina vem sofrendo, convido-o para uma breve reflexão: será que se todo esse jogo político que precariza o SUS fosse abatido, resolveria o problema? Talvez. Então, se abater o jogo político que nasce da necessidade de aprovação do eleitor tem que acabar para que, finalmente, pontuar medidas específicas e pontuais nessa área? Cadê os planos para hospitais, postos de saúde, contratações de ambulâncias, pedidos de remédios... triste será ser médico em um país que poucos dão o real valor, em especial aos mais persistentes... se sua vida vale pouco pra você, continue votando em quem está no poder.

(*) Felipe Gonçalves de Souza, é acadêmico de medicina pela UFGD.

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