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Mesquita e Civita: um jornalismo de combate em defesa da liberdade!

Por Fábio Trad (*) | 31/05/2013 08:22

Em menos de uma semana, entre os dias 21 e 26 de maio, a imprensa brasileira perdeu duas de suas mais notáveis figuras contemporâneas.

Com a morte de Ruy Mesquita, de O Estado de São Paulo, e de Roberto Civita, da Editora Abril, desaparecem dois expoentes de um restrito grupo de empresários da mídia brasileira que, sob toda e qualquer circunstância, sempre colocou a independência editorial acima dos interesses comerciais, e a liberdade de imprensa como valor democrático inegociável – fosse frente a pressões do arbítrio, fosse ante as insinuações de vantagens em troca do silêncio cúmplice ou de louvações hipócritas.

A amarga coincidência que impôs ao Brasil o desaparecimento, em tão curto lapso, desses dois expoentes da imprensa nacional, não só resgata, por via dolorosa, a memória de um passado ainda recente, de combate corajoso, às vezes até quixotesco, contra o obscurantismo prepotente da censura, como também recobra a história de um período extremamente fértil do jornalismo brasileiro.

Nascidos em intervalo de pouco mais de dois anos, o Jornal da Tarde (1966) e a revista Veja (1968) se consagrariam, nas décadas seguintes, como veículos de vanguarda da imprensa brasileira, e, durante a ditadura, como postos avançados na longa luta pelo restabelecimento das liberdades democráticas.

Sob a inspirada direção de Ruy Mesquita, o Jornal da Tarde surgiu como inovação extraordinária ao reproduzir, com a competência de jornalistas então considerados os ‘melhores textos’ do país, o modelo do chamado ‘new journalism’ norte-americano.

Ao temperar informação objetiva com criatividade literária, o ‘novo jornalismo’ do Jornal da Tarde, bancado com entusiasmo pelo ‘Doutor Ruy’, trouxe renovação estética e frescor poético para a reportagem, influenciado inúmeras outras iniciativas editoriais, especialmente semanários focados no combate à ditadura militar.

Mais tarde, ao assumir a direção editorial de “O Estado de S. Paulo”, Ruy Mesquita manteve a honrosa tradição familiar, que confirma a vocação democrática do jornal centenário, como veículo moderno de expressão de múltiplas e díspares opiniões, sem prejuízo de sua inspiração liberal.

Por seu turno, a Editora Abril, que antes já publicara a Realidade, considerada por muitos a melhor revista brasileira de todos os tempos, lançava, em 1968, a Veja. Esta, sob a direção do intrépido Victor Civita, se tornaria um marco da imprensa brasileira, e uma referência permanente do jornalismo contemporâneo.

Ao assumir, com a morte de Victor Civita, a direção da Editora Abril, Roberto Civita levaria para o comando do grupo o patrimônio de conhecimento e sensibilidade que, agora, ao enaltecer sua memória, o diretor-presidente do Grupo Folha, Luis Frias, definiu como “a mais sofisticada combinação de empresário e editor”.

O empenho incondicional de Roberto Civita pela educação como ferramenta insubstituível na construção de uma sociedade plural e fecunda será, por si só, uma referência que honra sua biografia e engrandece sua geração.

Mais do que, pela importância editorial dos veículos que criaram ou expandiram e consolidaram, sem jamais transigir com a garantia da livre manifestação de idéias, o maior patrimônio que Ruy Mesquita e Roberto Civita deixam como herança valiosa, para o Brasil de hoje e do futuro, é a generosa convergência do compromisso de ambos com a democracia, com os fundamentos da modernização social e do desenvolvimento econômico.

Sem nenhum favor, as trajetórias de Ruy Mesquita e de Roberto Civita os colocam, na crônica do Brasil contemporâneo, como combatentes pela liberdade de expressão, quando responderam com coragem e desassombro às agressões e perversões da ditadura.

Afastados os tempos trevosos da ditadura, os dois seguiram em suas trincheiras, empenhados na difícil consolidação da democracia incipiente, comprometidos com o livre fluxo das idéias e com construção dos paradigmas de uma sociedade socialmente mais justa e economicamente mais próspera e plural.

Por tudo isso, Ruy Mesquita e Roberto Civita farão muita falta ao Brasil.

(*) Fábio Trad é advogado e deputado federal pelo PMDB de Mato Grosso do Sul.

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