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Não à doutrinação professoral!

Por Gustavo Soares (*) | 07/04/2016 16:10

Campo Grande tem passado, nos últimos dias, por uma polêmica quanto ao conteúdo do projeto de lei municipal nº 8.242 , que versa sobre os limites dos professores quando no ato de ensinar, em sala de aula. As discussões se acirraram, estando os reacionários à lei usando o mote: “ensinar é um ato político”. Só essa frase já bastaria para demonstrar quem está com a razão.

A relação na sala de aula se resume a um detentor de conhecimento, referencial e exemplo para os alunos, muitas vezes tarimbado e experiente em discussões, e uma sala de aula formada por crianças e jovens imaturos, ainda em fase de aprendizagem, sem o devido senso crítico, formado ao longo da vida, no decorrer do processo de apreender a realidade que os cerca, podendo ser facilmente cooptados para essa ou aquela corrente de pensamento. A Lei tenta apenas barrar a atuação abusiva de um professor, que, no seu papel de ascendência sobre seus pupilos, utilize suas prerrogativas para angariar sócios para o seu clube.

Não escrevo isso para defender políticos. Sou radical nesse ponto. Acho que não há nenhum dessa espécie inocente. No entanto, não posso correr de me solidarizar à Lei, que é de grande valia, buscando limitar a atuação de um professor ao aspecto eminentemente técnico da pedagogia. Já é um grande feito se, após a vida escolar dos alunos, estes tivessem a noção mínima sobre os diversos campos do conhecimento, o que não se tem visto atualmente, sendo 90% dos alunos saídos do segundo grau analfabetos funcionais. Não é à toa que mais de 500.000 alunos tiraram nota zero no Enem 2014.

Quanto à polêmica mesma, a gritaria maior veio do espectro progressista da sociedade, que se viu tolhido de uma de suas estratégias, a de ocupação de espaços, ensinada pelo político marxista italiano Antonio Gramsci. Tal mecanismo busca, de forma sutil e sorrateira, que se entre em espaços que possam ser usados para influências futuras, como escolas, igrejas, universidades, imprensa, a ponto de se criar o arquétipo do “poder onipresente e invisível de um imperativo categórico”. Ou seja, que as idéias de esquerda adentrem a miscelânea cultural e passem a automaticamente referenciarem as opiniões, decisões, ensinamentos, etc. Já se vê, em diversos níveis, que tal estratégia está presente, estando a agenda progressista aos poucos se impondo, haja vista as discussões sobre aborto, sexualidade, liberação de drogas, etc. Mesmo a suposta afronta aos artigos da constituição federal, em especial o 206, são sem fundamento.

O projeto de lei não impede a discussão sobre o pluralismo político. Incentiva até. Impede que apenas um lado das discussões seja elogiado, cortejado, imposto muitas vezes. Nesse ponto há uma proteção especial aos alunos e aos seus responsáveis, que terão instrumentos para se defender.

À família, o seu papel. À escola, o seu. A delimitação das suas funções é benéfica para ambos os lados. Teríamos alunos mais respeitosos e preparados para o aprendizado e professores atinentes ao seu dever, o ensino técnico. Os países somente progrediram quando a educação foi levada a sério, e a capacitação para as diversas funções foi aprimorada tecnicamente, trazendo benefícios para toda a sociedade. A preocupação com a formação técnica dos alunos foi primordial para que isso ocorresse. E a apropriação da escola para fins políticos só prejudica esse importantíssimo princípio da educação.

Não, ensinar não é um ato político. A própria etimologia da palavra indica que ensinar é “colocar uma marca em, gravar”. E essa marca não pode, de nenhuma forma, ser um carimbo ideológico, ou servir como uma marcação para diferenciar qual bovino pertence a qual rebanho. Não sejamos tão coniventes a ponto de permitir que tal aberração prospere. A lei vem em boa hora. Que vá adiante e seja promulgada.

(*) Gustavo Soares é pai e engenheiro civil.

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