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Nos tempos do Taveirópolis II

Por Heitor Freire (*) | 17/05/2012 13:44

Um pouco antes de mudarmos para o Bairro Taveirópolis, quando ainda morávamos no edifício Arnaldo Serra, apareceu um dia, uma moça pedindo emprego. O seu nome é Marta.

Começou a trabalhar, relacionando-se muito bem com a Rosaria, minha mulher. Logo depois, quando nos mudamos, ao ver a localização da nossa nova casa, a Marta disse: “Eu não vou morar nessa lonjura”. Ficou 20 anos. E foi de fundamental importância na educação das nossas filhas. A Thaís, nossa filha caçula, tinha acabado de nascer.

A Marta tornou-se membro da família. Somos padrinhos do seu primeiro filho, Rodrigo. Mais tarde, quando resolveu casar, trouxe de Nioaque sua mãe, da. Doralina para ficar em seu lugar. Elas são da etnia terena. Dona Doralina nos chamava de compadres.

Quando nos casamos a Rosaria interrompeu seus estudos em função do casamento. Quando nossas filhas começaram a estudar, ela sempre ajudava nas tarefas e aos poucos foi readquirindo o gosto pelo estudo. Resolveu voltar a estudar no momento em que as crianças já estavam menos dependentes dela.

A Comadre (da. Doralina) ao ver o empenho da Rosaria nos estudos, disse-lhe: “Comadre, a senhora pode estudar que eu tomo conta das crianças até a sua formatura”.

A Rosaria fez o cursinho no Objetivo Dom Bosco, passando no primeiro vestibular que prestou para serviço social, em 16º lugar, numa turma de 120 alunos. Quando concluiu o curso, uma semana depois, dona Doralina chegou-se a ela e disse: “Comadre, cumpri o meu compromisso, estou indo para Guia Lopes”. E para lá se foi.

No período em que trabalhou em nossa casa, aprendemos muito com ela. Fazia sempre questão de assistir ao Jornal Nacional. Quando se encerrava a transmissão – na época tinha como apresentadores Cid Moreira e Sérgio Chapelin –, ela sempre respondia ao boa noite deles. Eu também. Acontecia às vezes de assistir a previsão do tempo, olhando sempre para o céu. Uma vez ela disse: “Eu acho que essa moça não está falando a verdade, o que o senhor acha?”. Eu respondi: “Não sei”. E ela, de novo: “O senhor é doutor e não sabe?”. Era lógica do seu pensamento.

Ela era analfabeta e não sabia olhar as horas. Para saber a hora de começar a preparar o almoço olhava para o sol e assim se orientava.

Na primeira chuva do ano, se colocava em baixo de uma canaleta, de roupa, molhando-se inteiramente. Dizia que era para ter saúde o ano todo.

Tanto ela como a Marta são nossas amigas até hoje, e frequentemente estão conosco.

(*)Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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