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Nossa fauna está acuada

Por Laerte Tetila (*) | 02/08/2012 06:00

Mal chegou o período seco do ano e já se vêem os estragos das queimadas por toda a parte. E nada mais desolador saber que, em nosso Estado, milhares de animais silvestres, novamente, serão queimados vivos na estiagem que se avizinha. É triste saber que no território sul-mato-grossense que, no passado, notabilizou-se pela sua belíssima e encantadora fauna, as dificuldades têm sido enormes, na atualidade, para se conviver, harmonicamente, com o que sobrou dela. Nossa fauna está acuada.

As queimadas têm avançado impiedosamente sobre os nichos ecológicos e os impactos têm sido cruéis. São queimadas formações arbóreas, arbustivas e herbácias e até áreas de proteção. O uso indiscriminado do fogo na zona rural tornou-se algo sério. E o nosso Estado, infelizmente, já responde por 20% das queimadas do país. Isso é o dobro das regiões Sul e Sudeste. O número de incêndios rurais em Mato Grosso do Sul, registrados até março deste ano, chegou a 436 – ou seja, o dobro do mesmo período do ano passado. As cenas das queimadas são as de um holocausto. O fogo, potente faunicida, martiriza a terra.

Seu efeito é deletério, devastador. Destroi ninhadas, mata filhotes no nascedouro e fere mortalmente todas as formas de vida. Numa queimada, a temperatura pode ir além dos 800 graus centígrados e as chamas deixam marcas dolorosas. Os animais são queimados vivos, quando não lesionados ou intoxicados. Parte deles é volatizada, sem deixar o mínimo vestígio. Os lesionados fogem, sem rumo, para morrerem infectados.

Os sobreviventes, expulsos de seu habitat, enfrentam, em lugares estranhos, a falta de alimento e os ataques dos predadores. O impacto é cruel. O uso do fogo, que faz agonizar a fauna e destroi a biodiversidade, é uma técnica nociva, ultrapassada, da Era Neolítica. E não obstante as queimadas estarem enquadradas como crime ambiental (Lei 9.605/98), e também pesquisas demonstrarem que há técnicas bem mais avançadas do que o fogo para melhorar a produtividade, mesmo assim ainda há os arcaicos, aqueles que ateiam fogo sem a mínima compaixão para com os animais. As queimadas que são tidas universalmente como uma das grandes responsáveis pela extinção das espécies, parece ter chegado ao seu apogeu em terras sul-mato-grossenses.

Por aqui, a destruição dos ambientes naturais é inacreditável. As queimadas continuam ceifando bandos de animais indefesos, apesar de todo ensinamento disponível e de todas as campanhas de conscientização. Não querem entender que a natureza foi divinamente planejada e que os animais que ardem em chamas são resultantes de uma evolução orgânica milenar; que, embora o ser humano tenha chegado à Lua, jamais fabricará um tuiuiú, um lobo guará, uma arara azul ou um pássaro canoro; que não se reconstroi um material genético perdido pela extinção.

Não querem entender que, na natureza, a perda de uma espécie significa uma subtração na engrenagem da vida. Isto é: uma perda eterna para a biodiversidade. Entristece-nos saber que a riquíssima fauna silvestre sul-mato-grossense vem sendo dizimada e, principalmente, pelo fogo, que provoca a mais cruel das mortes. Há que se pensar em mudanças. E nem tanto pelas leis, mas pelas mentes e corações. Não é possível que, em pleno Terceiro Milênio, o fogo ainda continue sendo utilizado como técnica agropastoril. Impossível que não haja uma compaixão pelo pouco da vida silvestre que ainda resta em nossos campos, matas e pantanais.

(*) Laerte Tetila é deputado estadual pelo PT

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