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Mario Ramires

Por Gerson Luiz Martins (*) | 18/09/2012 14:35

Mais uma vez vou pedir licença para os leitores e escrever este texto, por razões óbvias, de forma mais pessoal e usar a primeira pessoa do singular ou do plural. Nesta semana, o jornalismo deste estado sofreu uma grande e significativa perda. O falecimento do jornalista, professor, pesquisador, colega, amigo, companheiro Mario Ramires fez apertar o coração de muitos. Esse sentimento tem uma característica muito especial e específica, se posso dizer específica, pois não se resume a uma, mas muitas características.

Escrever sobre um colega jornalista pode parecer sem muito eco na semana que repercutiu mais duas mortes estúpidas em Campo Grande, devido, acredito, a incompetência do poder público em garantir, de imediato, mais segurança à população e a longo prazo uma educação de qualidade no ensino público. A crítica também vai para os órgãos de justiça que falham em coibir a difusão da droga. Ações covardes, como as que vitimaram várias pessoas, são resultados da disseminação das drogas, aliada a pobreza endêmica que se perpetua no país e a uma educação extremamente precária.

Nesse contexto todo, cabe escrever um pouco sobre Mario Ramires e o que este jornalista, como mencionei no Facebook, JORNALISTA em caixa alta, significou e significa para o jornalismo regional. Entre as inúmeras manifestações publicadas no Facebook, algumas características do Ramires ficaram muito contundentes e se repetiram, como generoso, sensato, equilibrado, cortes, justo e instigador.

No jornalismo, preconizamos, apesar de não ser pratica cotidiana no dia-a-dia das redações, o equilíbrio, o bom senso, a justiça, a imparcialidade, a objetividade na produção das notícias. Esses atributos do jornalismo servem adequadamente ao jornalista Mario Ramires. Nas inúmeras vezes que tive a oportunidade de conviver profissionalmente com ele, nas dezenas de reuniões de trabalho, nos debates acadêmicos e profissionais, se mostrou sempre muito equilibrado. O professor da UFMS, o publicitário Marcio Licerre, que o diga. Ramires sempre foi o fiel da balança em muitos debates ocorridos nas reuniões do Curso de Jornalismo. Apesar de contra-gosto, inclusive pessoal, provocava as decisões das reuniões para o dia seguinte, para a semana seguinte. Como relataram alguns alunos e ex-alunos na rede social Facebook. “É assim, mas quem sabe não poderia ser de outra forma”; “e se incluíssemos esses dados, como fica?”; “a minha opinião? O que te parece fulano?”. Um ex-aluno do Curso de Jornalismo, André Patroni, expressou de uma forma singular o “jeito” do Ramires, era “o cara pra quem você levava uma interrogação e voltava com duas mil”.

Ramires era um apaixonado pelo jornalismo e vivenciava as peculiaridades do jornalismo no seu trabalho, como se essas características, essas técnicas não fossem apenas para o objeto de trabalho, mas também para sua vida profissional, incorporando esses preceitos, princípios a cada jornada. Ramires se dedicou de tal forma ao ensino de jornalismo que teve que ser empurrado para fazer o doutorado, exigência da estrutura universitária. Assim, depois de longos anos como professor foi diretamente para o curso de doutorado na Universidade Autônoma de Barcelona. Para que se entenda, o caminho mais comum de um professor universitário é passar, depois da graduação, por um curso de especialização, mestrado e depois doutorado. Em Barcelona, trabalhou muito e produziu uma tese importante para o desenvolvimento do jornalismo que, creio, deverá ser publicada em breve. Importante também ressalvar que Ramires também foi um dos pioneiros do ciberjornalismo em Mato Grosso do Sul. Nos primeiros anos do ciberjornalismo produziu o Campo Grande Online, portal de notícias filiado ao UOL.

O crescimento do jornalismo precisa de profissionais com estas características. Profissionais que incorporem os princípios do jornalismo, equilíbrio, justiça, equidade, imparcialidade, temperança. O exemplo do profissional jornalista Mario Ramires fica para todos nós. O profissional questionador, ponderado que sempre foi, terá ausência sentida por todos.

Companheiro, colega e amigo Mario Ramires! Siga em paz e com os questionamentos, equilíbrio e ponderações que sempre fez e fará em algum lugar deste universo.

(*)Gerson Luiz Martins é jornalista e pesquisador do grupo de Ciberjornalismo da UFMS

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