ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 19º

Artigos

'Um índio descerá no coração da América do Sul'

Por Geraldo Resende* | 07/11/2011 13:35

A equação que resulta em Postos de Saúde em péssimo estado de conservação nas aldeias de Dourados e um complexo esportivo, como a primeira Vila Olímpica Indígena do Brasil, jogado as traças, é simples: é descaso somado ao preconceito da sociedade e de seus representantes políticos. O pensamento que rege as ações para esta população tradicional é sectário, marginal e pouco interessado.

As intervenções nas aldeias Jaguapirú e Bororó, quando discutidas com suas lideranças e apoiadas pela comunidade indígena, geram expectativa ao atendimento de demandas caras aqueles homens e mulheres. A saúde, a educação, a segurança e o lazer são temáticas que gravitam entre as prioridades dos índios Kaiowá-guarani. Mas o desleixo com a implantação de equipamentos públicos naquelas terras demonstra que, as autoridades, não elencam como prioridades as mesmas ações quando voltadas ao tocante da questão indígena.

Quando o produto desta matemática chama a atenção da mídia, por alguns dias, a sociedade se compadece, as autoridades apresentam planos emergenciais, mas passadas algumas semanas, as políticas pontuais, frágeis de origem, voltam a nortear o que poderiam ser ações estruturantes, ora de natureza humanitária, ora para a preservação de riquezas culturais.

A estruturação de políticas voltadas as questões indígenas tem de ser discutidas com esta população e ter como princípio possibilitar que, naquele ambiente, as alternativas eclodam, sem a imposição cultural ou proteção ingênua de suas tradições. Porém, no caso específico das aldeias Jaguapirú e Bororó, algumas atitudes não podem esperar.

Distante de debates antropológicos e culturalistas, acredito que as influências negativas da população não indígena estão colocando em risco a dignidade das populações tradicionais. Além da precariedade do atendimento a saúde, o trafico e consumo de drogas dentro das aldeias estão roubando vidas e favorecendo a corrupção de menores, o vício e a criminalidade.

A segurança pública é pública em todo o lugar. A conseqüência dessas chagas sociais é a violência generalizada e o caos. Como resposta do poder público, uma grande gama de ações integradas deve ser implementada imediatamente. Pensar o índio e a sociedade como um todo é priorizar a sinergia desta complexidade e é o contrário de fazer escolhas e acabar cometendo injustiças.

Este espaço não é para falar de ações, mas sim para dialogar com você, o leitor. Mas no tocante a políticas para a comunidade indígena, todos ficaram sabendo, por meio de minha página na internet, de um projeto piloto interministerial, que abarca ações em segurança, esporte, lazer e saúde.

Temos assegurados um centro de tratamento para dependentes químicos, um posto de policiamento comunitário com veículo e câmeras de monitoramento, além de programa para fomentar o esporte para crianças carentes.

O Projeto Piloto Interministerial tem suas ações temáticas asseguradas pelos mandatários das Pastas responsáveis, mas ainda não foi implementado pela burocracia e pelo desinteresse. Todos dependem de projetos ou demonstração de interesse da administração municipal, decisões que não aconteceram.

Ciente da falta de atenção para a questão, apresentei o projeto e suas justificativas para a Presidência da República, neste momento, aguardo a resposta do gabinete da presidente, esperançoso de que consigamos iniciar o fim da matemática perversa do descaso.

Pois, para Caetano Veloso: “Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante. De uma estrela que virá numa velocidade estonteante. E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante”.

(*) Geraldo Resende é médico e deputado federal - PMDB/MS

Envie seu Comentário

Nos siga no Google Notícias