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Cidades

“Não casei, não tive filhos e nem tenho onde morar”, diz acolhido por asilo

Christiane Reis | 01/10/2016 07:06
Sr. Antônio diz que só espera o fim da vida. (Foto: Alcides Neto)
Sr. Antônio diz que só espera o fim da vida. (Foto: Alcides Neto)

Uma vida difícil. Sucessivas histórias que, no discurso do aposentado Antônio Francisco de Souza Neto, 81 anos, recebem o tom de abandono. Acolhido no Asilo São João Bosco, em Campo Grande, há pouco mais de um ano, ele agradece a oportunidade de estar ali e diz que agora a perspectiva é “só esperar o fim da vida”. E ainda complementa: “não casei, não tive filhos e nem tenho onde morar. Aqui, me sinto acolhido”. Neste 1º de outubro, Dia do Idoso, ele não parece muito otimista com o que está por vir.

O quarto entre 11 irmãos, ele deixou o Rio Grande do Sul para acompanhar uma família que se mudou para Campo Grande. Chegando ao Estado, trabalhou em fazendas e foi “vivendo a vida dentro do possível”.

Assim o tempo foi passando. Dos 11 irmãos, ele tem notícia de que a maioria já morreu e assume que, embora se sinta bem em estar no asilo, o que queria mesmo era voltar para o Rio Grande do Sul. “Acho que agora é esperar morrer mesmo, talvez fosse o destino ficar aqui, porque depois que tive essa doença braba tudo fica mais difícil”, disse.

A doença classificada como “braba” por seu Antônio Souza Neto é um câncer de próstata, já com metástase óssea. Há cinco anos ele já não consegue andar mais e se desloca com o auxílio da cadeira de rodas. Conformado com as imposições da vida ele conta que uma sobrinha, que já tem 70 anos, foi quem conseguiu levá-lo para o asilo.

Pouco falante, mas incisiva e prática, Francelina Moreira da Silva, 95 anos, também não tem filhos, casou-se mas está viúva há anos. “Não quero falar muito não, só quero dizer que fui eu que quis vir para cá, porque na minha família, todos já estão velhinhos”, disse. Ela vive no asilo desde julho de 2014 e também depende de cadeira de rodas para se locomover, pois já tem muitas dificuldades para ficar em pé.

Envelhecer sozinho ou ficar só após um tempo de convívio com alguém é realidade de muitos idosos que vivem em Mato Grosso do Sul. Os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre estado civil e convivência dos idosos, com idade entre 60 e 80 anos ou mais, remontam a meados da primeira década dos anos 2000, e mostram que 25.300 idosos que viviam no Estado eram solteiros, destes 14.602 além de não serem casados não viviam com companheiros. Em Campo Grande, segundo o IBGE, os números registrados foram 5.663 e 369, respectivamente.

O número de idosos viúvos em todo o Mato Grosso do Sul à época da pesquisa era de 41.286, enquanto que na Capital eles somavam 14.118.

Dona Francelina disse que escolheu ir para o Asilo.(Foto: Alcides Neto)
Dona Francelina disse que escolheu ir para o Asilo.(Foto: Alcides Neto)

Raio x – As dificuldades em lidar com os idosos, falta de estrutura para situações mais complexas ou até mesmo, em alguns casos, ausência de amor. São muitos os motivos que fazem com que as famílias busquem uma vaga no asilo, na leitura do vice-presidente, Thales de Souza Campos. Atualmente são 87 idosos acolhidos no local, que não opera na capacidade máxima, pois embora possa abrigar 100 idosos, financeiramente a entidade não conseguiria se manter.

Thales Campos disse que a despesa do local é de quase R$ 350 mil por mês, enquanto a receita fica em torno de R$ 290 mil mensais. O principal recurso vem das 15 mil pessoas que são doadoras mensalistas e que contribuem com valores entre R$ 1 e R$ 50, além disso, também há convênio com a prefeitura, realização de eventos e doações diretas.

O asilo nasceu no trabalho da Conferência Vicentina Nossa Senhora das Vitórias e conta com 103 funcionários hoje. O número de voluntários é flutuante e há dificuldades em estabelecer uma rotina com eles, talvez por conta da complexidade do trabalho, na avaliação do vice-presidente. “Recebemos muitas visitas, mas voluntários mesmo é bem difícil”.

O local acolhe idosos com diferentes graus de dependência, sendo 5 no grau 1 – não tem dependência, conseguem andar e comer sozinhos, por exemplo-; outros 23 idosos no grau 2 – aqueles que já precisam de algum tipo de ajuda, podem até usar cadeira de rodas, mas levantam – e 59 no grau 3, totalmente dependente, não levanta ou tem algum déficit cognitivo. Esses números são recentes com base em vistoria de rotina feita pela Anvisa. “Essa classificação nos deixou muito preocupados, pois temos de nos mobilizar na questão da estrutura”, disse Thales Campos.

Hoje o asilo abriga 87 idosos. (Foto:Alcides Neto)
Hoje o asilo abriga 87 idosos. (Foto:Alcides Neto)

A enfermeira Mônica Silveira acrescenta que isso quer dizer mudança no tipo de assistência prestada. “Com mais idosos em grau 3, temos de ter mais estrutura, principalmente na área da saúde, o que quer dizer que já não seríamos mais apenas assistencial e que precisamos de cuidados mais específicos na área da saúde”.

Sonho – A atual diretoria está à frente do asilo desde maio de 2015. São 11 pessoas, todas voluntárias. O vice-presidente, Thales Campos, por exemplo, está com 65 anos é economista e escolheu dedicar um pouco de tempo ao asilo depois que se aposentou. Ele conta sobre o trabalho que realiza com os colegas e os sonhos que querem realizar.

“O nosso sonho é transformar o Asilo São João Bosco em referência municipal, estadual e federal em todos os sentidos, oferecendo às pessoas acolhidas a melhor assistência em todos os sentidos”, disse.

Serviço – Informações sobre doações para o Asilo podem ser feitas por meio do telefone (67) 3345-0500

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