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Capital

Aos 100 anos, 14 de Julho é palco social e ainda preserva construções antigas

Paula Maciulevicius | 14/07/2011 07:55

Placas escondem a fachada de antigos casarões

(Foto: João Garrigó)
(Foto: João Garrigó)

A rua 14 de Julho sempre foi centro econômico e simbólico também. De desfiles cívicos à procissão religiosa, a via tem ar social, político e até sacro.

No começo da sua história, era a prova a ser vencida por quem quisesse se eleger. A doutora em história Alisolete dos Santos Weingartner viaja no tempo e como quem tivesse vivido na época relembra que na esquina com a Afonso Pena, o político para se reeleger tinha que mostrar força conseguindo lotar aquele trecho.

Além dos movimentos políticos, era na 14 que passava o Carnaval, a coroação do rei momo e da rainha e os desfiles de 26 de Agosto e 7 de Setembro. Alisolete Weingartner lembra que até hoje é para lá que vai quem quer se manifestar.

Os protestos sempre começam, passam ou são o ponto de encontro no mesmo lugar, rua 14 de Julho esquina com Afonso Pena. "Até hoje quem quer ser visto, vem para onde? 14 de Julho", responde.

Recheada de construções antigas, a 14 é tida como símbolo de democracia. O relógio, que hoje está instalado na Calógeras, era e leva o nome de "relógio da 14". Mesmo sem reunir pessoas, ele estava lá e representava progresso.

Retirado com a desculpa de que atrapalhava o trânsito, os historiadores vão além. "Mas por trás disso, nós temos a hipótese de que ele foi retirado porque representava encontro da democracia da população campo-grandense, era considerado um movimento de rebeldia na época da ditadura militar", afirma Alisolete.

Instalado a primeira vez em 1933, representando o marco zero da cidade, foi erguido novamente em 1999, através do movimento rotariano em comemoração aos 100 anos de emancipação política da Capital.

"Mas uma vez acontecido ele não muda. Tirou e podia até construir outro, mas não é aquele na imaginação das pessoas", argumenta a historiadora.

Onde funcionava o Hotel Americano, com comércio embaixo, as lojas mudaram, mas o ramo continuou o mesmo. (Pedro Peralta)
Onde funcionava o Hotel Americano, com comércio embaixo, as lojas mudaram, mas o ramo continuou o mesmo. (Pedro Peralta)

Nas imediações da Praça Ari Coelho estava até 1909 o antigo cemitério, com o arruamento foi retirado e levado até o Santo Antônio, fazendo apenas uma pequena escala na Afonso Pena. "Começava onde é o play ground e ia até a calçada da 13 de Maio", explica Alisolete.

Pelo cenário apesar dos paralimes que cobrem a fachada, por trás se escondem casarões antigos. Na esquina com a Cândido Mariano, funcionou o Hotel Americano, hoje abandonado e com placas para alugar. Em baixo, a farmácia Raia, o comércio tinha matriz na Capital, se mudou para São Paulo e hoje tem uma rede e lojas que alcança até Belo Horizonte.

Apesar de ser outra loja, com pouco menos de 10 anos, o ramo continua o mesmo. "Pode ter trocado várias vezes, mas é sempre o mesmo tipo de comércio, já é tradição", explica a historiadora.

Em frente, a antiga São Bento, da década de 50. O gerente, tem de idade e metade da vida da farmácia, mas sabe como muitos a importância do lugar para a cidade.

São 62 anos da farmácia mais antiga. Ali na esquina, a primeira farmácia recebe até hoje clientes que contam histórias de quando o fundador da rede abria às portas de madrugada para atender os amigos. "Sempre tem gente que fala que comprava com ele na época", conta Lauro André Nascimento Santana, 31 anos.

Antiga construção, foto da fachada da São Bento mais antiga está no interior da loja.
Antiga construção, foto da fachada da São Bento mais antiga está no interior da loja.
Com riso estampado no rosto, Alisolete conta histórias e causos da 14 de Julho. (Foto: Pedro Peralta)
Com riso estampado no rosto, Alisolete conta histórias e causos da 14 de Julho. (Foto: Pedro Peralta)

Quando abriu a empresa, na farmácia tinha o segundo relógio de ponto da cidade ao público. Os anos se passaram mas o comércio abrange um misto de clientes que confirmam a fusão de pessoas que as lojas da 14 proporcionam.

Sobreviventes ao processo de urbanização, muitos dos estabelecimentos mudaram, foram reformados mas se mantém como a referência de onde comprar.

"Tem todo tipo de cliente, de classe, poder aquisitivo, passa de tudo por ser o principal comércio da cidade", acrescenta Lauro André.

A tradição que sobrevive ao processo de urbanização. Para a historiadora 100 anos se passaram "e parece que foi ontem que a rua era antiga, de barro, deixava todo mundo moreno por causa da poeira vermelha e hoje é assim", completa Alisolete.

Hoje, a festa de comemoração começa às 8h, na praça Ary Coelho e segue até a noite, com shows.

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