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Capital

Cidade de Deus: para evitar invasão Emha derruba barracos e mudará 13 famílias

Paula Maciulevicius | 03/01/2012 23:10

“Vi eles chegando e fiquei esperando dentro do meu, eles balançavam até cair tudo”, comenta moradora

No chão os restos de um barraco. Destruídos logo na primeira semana do ano, na Cidade de Deus, no Dom Antônio Barbosa. (Foto: João Garrigó)
No chão os restos de um barraco. Destruídos logo na primeira semana do ano, na Cidade de Deus, no Dom Antônio Barbosa. (Foto: João Garrigó)

Para a Cidade de Deus, no bairro Dom Antônio Barbosa, a primeira semana do ano começou com um episódio de desocupação. Barulhos de marteladas e das tábuas de madeira caindo ao chão podiam ser ouvidos de dentro do barrraco de Simone Rafael de Souza, 25 anos.

“Vi eles chegando e fiquei esperando dentro do meu, eles balançavam até cair tudo”, comenta.

Simone, o marido e a filha de 3 anos estão ocupando parte da comunidade há uma semana. E seguem o padrão da maioria, foram parar lá depois de perder o emprego, não conseguir pagar o aluguel e com a esperança de receber uma casa.

O que Simone ouviu de dentro das quatro paredes erguidas de restos de material de construção foram funcionários da Emha (Agência Municipal de Habitação), juntos da Guarda Municipal, desmanchando casas recém formadas.

Segundo relatos da vizinhança, na segunda-feira à tarde, oito barracos foram destruídos, de famílias não cadastradas no programa habitacional da Emha.

“Antes eles vieram e falaram pode dormir só vocês e acordar com mais de 100 aqui dentro”, conta Juliana de Almeida Silva, 18 anos, sobre o plano de erguer mais barracos já arquitetados pelas famílias.

O que se viu no dia seguinte em relação ao que os novos “inquilinos” disseram foi a ação da prefeitura. “Eles vieram por causa da nova invasão. Pegaram e tiraram os barracos, disseram que não iam mais aceitar. O nosso problema está resolvido, a gente deve mudar logo ou para uma casa ou para um terreno. Mas eles só tiraram os que não tinham nada. O que tinha coisa dentro não mexeram, só avisaram que era para sair”, completa a vizinha.

Derrota atrás de derrota, mãe sente o desespero de viver sob ameaça de ter a casa destruída. (Foto: João Garrigó)
Derrota atrás de derrota, mãe sente o desespero de viver sob ameaça de ter a casa destruída. (Foto: João Garrigó)

O trabalho da prefeitura na tarde da última segunda-feira, segundo o diretor-presidente da Emha, Paulo Matos, foi o de impedir uma nova invasão. “Não podemos deixar um movimento organizado fazer pressão para se beneficiar. Não dá para colocar como regra que para conseguir uma casa é preciso invadir”, ressalta.

A retirada de barracos se restringiu apenas às famílias que não faziam parte do cadastro da Emha. De acordo com o órgão, das 22 famílias cadastradas que ainda estão na região lá, 13 delas já começam a mudar nesta semana.

“Depois de mudar estas famílias que têm o cadastro, vamos pedir reintegração de posse da área”, ressaltou ainda Paulo Matos.

O pedido de reintegração de posse, para que os novos barracos formados saiam de lá não chegou ao conhecimento de Simone e da família. “Se eu tivesse outro lugar, não estaria aqui, se me tirarem eu vou para o meio da rua”, desabafou.

A ponto de perder o teto erguido ainda na semana passada, ela dá o recado. “Este ano tem eleição, a gente tem a chance de retribuir o que eles fazem com a gente. Cadê o direito a moradia que essa tal de Constituição tanto fala, mas que de fato não é cumprida”?

O vocabulário dá indícios de que Simone é estudada. Com ensino médio completo ela já foi vendedora e chegou onde está depois de uma sucessão de derrotas. Perdeu o emprego como doméstica e diarista, mas não a esperança de ter um futuro melhor.

“Me desespera ver o que eu vi, mas não tenho outra opção. Para a gente a gente já quer o melhor, para filho então, é além. É dar o melhor que a gente não teve. É o que eu quero”.

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