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Capital

Com dinheiro do crime, TJMS constrói casa para livrar mulheres das drogas

Bruno Chaves | 18/10/2013 16:24
Casa de triagem recebeu R$ 411 mil de verbas arrecadadas de fianças e penas pecuniárias (multa em dinheiro, imposta a um infrator) (Foto: Pedro Peralta)
Casa de triagem recebeu R$ 411 mil de verbas arrecadadas de fianças e penas pecuniárias (multa em dinheiro, imposta a um infrator) (Foto: Pedro Peralta)

Transformar o dinheiro do crime em projetos sociais que melhoram a vida de várias pessoas. Essa foi a ideia que motivou o Judiciário de Mato Grosso do Sul a desenvolver projetos como a Cepa (Central de Execução de Penas Alternativas), que doa dinheiro adquirido por meio de fianças e penas pecuniárias (multa em dinheiro, imposta a um infrator) para instituições como a Fazenda da Esperança em Campo Grande, que trata da recuperação de mulheres dependentes químicas.

Nesta sexta-feira (18), a Fazenda da Esperança inaugurou a Casa de Triagem, que servirá para o tratamento de 14 mulheres. O espaço começou a ser erguido em julho de 2012 e contou com investimento total de R$ 411 mil, valor repassado pelo TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). Com a nova unidade, a instituição aumentará em 87% a capacidade de atendimento.

“Agora, poderemos melhorar a qualidade do nosso atendimento. Nessa Casa de Triagem ficarão as pacientes recém-chegadas na instituição. Elas receberão atendimento especial, 24 horas, para depois serem transferidas para a outra casa”, conta o tesoureiro Mauro Antônio Zaionc.

Acreditando na ressocialização de dependentes químicos, a cabeleireira Marize Ojeda, 48 anos, interna da Fazenda da Esperança há três semanas, defende que uma comunidade como a que ela está é essencial para que o ex-dependente químico se prepare para um retorno à sociedade.

“Já passei por clínicas de desintoxicação, que deixam você limpa, mas não curada. A comunidade faz outro trabalho, que é voltado para a preparação do indivíduo e o retorno à sociedade, que é muito exigente. A droga é devastadora e te deixa com medo e vergonha. Na comunidade terapêutica, consegui passar por esses problemas e estou limpa há sete meses”, conta.

Marize acredita que trabalho da comunidade terapêutica permitirá a ressocialização de mais mulheres (Foto: Pedro Peralta)
Marize acredita que trabalho da comunidade terapêutica permitirá a ressocialização de mais mulheres (Foto: Pedro Peralta)
Casa conta com nove cômodos, entre salas, quartos, cozinha, espaço para espiritualização e até jardim de inverno (Foto: Pedro Peralta)
Casa conta com nove cômodos, entre salas, quartos, cozinha, espaço para espiritualização e até jardim de inverno (Foto: Pedro Peralta)

Para o juiz da 2ª Vara de Execução Penal, Albino Coimbra Neto, a execução da Casa de Triagem da Fazenda da Esperança é a demonstração da importância de se transformar algo ruim em bom. “Você pega o dinheiro produto de um crime e usa na transformação das pessoas, em projetos sociais”, pensa.

Já o presidente do TJMS, desembargador Joenildo de Sousa Chaves, acredita que a entrega da nova unidade da Fazenda da Esperança representa a satisfação de uma responsabilidade continuada. “Isso engrandece o ser humano e dá uma nova esperança para essas pessoas. É algo surpreendente. Hoje, nós estamos muito preocupados com uma administração voltada para o bem estar e o investimento no ser humano”, comenta.

Fazenda da Esperança – Fundada pelo Frei Hans e Nelson Giovanelli dos Santos, há quase 30 anos em Guaratinguetá (SP), a Fazenda da Esperança é uma comunidade terapêutica de recuperação de dependentes químicos que oferece tratamento baseado no tripé convivência, trabalho e espiritualidade.

Atualmente, 92 unidades da fazenda estão espalhadas pelo mundo. Só no Brasil são 72. Mais de três mil pessoas são tratadas em todas as unidades da comunidade. Em Campo Grande, desde 2011, existe a Fazenda da Esperança Nossa Senhora da Abadia, que é voltada para o tratamento de mulheres dependentes químicas.

A capacidade da unidade da Capital é de 16 vagas. Com a entrega da Casa de Triagem, que possui 350 metros quadrados o número de vagas salta para 30 e a capacidade de atendimento sobre 87%, quase o dobro.

A Casa da Triagem, inaugurada nesta sexta-feira, conta com nove cômodos, entre salas, cozinha, jardim de inverno e quartos, além de um espaço destinado para a espiritualidade das internas. A obra, que teve início em julho de 2012, ficou pronta em 15 meses e contou com a colaboração de detentos do regime semiaberto do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira.

“Participar da obra da casa foi uma boa oportunidade que me deram. Fiquei oito meses trabalhando aqui e participei de todos os processos, desde a fundação até o acabamento”, disse um detento de 28 anos. “É uma oportunidade de reintegração social. Trabalhamos aqui, ganhamos um salário e recebemos uma referência para o futuro em sociedade”, disse um presidiário de 31 anos, que ajudou na pintura da Casa de Triagem.

A Fazenda da Esperança Nossa Senhora da Abadia está localizada na Rodovia MS 010 (depois da UCDB em direção a Rochedinho), Km 02, 1.500 metros à esquerda. O escritório de atendimento fica na Rua Amando de Oliveira, 448 – Cúria Diocesana –, no Bairro Amambaí. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone: (67) 3383-0400.

Presidente do TJMS destaca o pioneirismo do projeto (Foto: Pedro Peralta)
Presidente do TJMS destaca o pioneirismo do projeto (Foto: Pedro Peralta)

Cepa – A Cepa (Central de Execução de Penas Alternativas) foi instituída pelo TJMS em 2008 em já ajudou mais de 40 instituições em Campo Grande. O projeto da Fazenda da Esperança foi considerado o maior executado pelo Tribunal.

Segundo Albino Coimbra, mais de R$ 2 milhões foram doados para instituições sociais da cidade desde 2009. O próximo grande projeto que receberá dinheiro da central é o Hospital Dia, que será construído dentro do Hospital Nosso Lar, que trata de doentes psiquiátricos, além de dependentes químicos. De acordo com a assistente social da Cepa, Luiza Guimarães de Araújo, serão R$ 360 mil encaminhados à instituição.

“Os projetos são elaborados pelas instituições e encaminhados à Cepa, que analisa, faz visita e acompanha para escolher qual projeto será beneficiado”, explica Luiza. Qualquer instituição pode se cadastrar na Cepa para receber dinheiro arrecadado das penas pecuniárias. No entanto, ela deve obedecer alguns critérios. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (67) 3317-3556.

CNJ – O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) considerou o projeto de centralização das verbas vindas do crime e disponibilizadas para entidades sociais como “pioneiro”. A ideia foi aprovada pelo Conselho, que resolveu disseminar o conceito para o restante do País.

De acordo com o desembargador Joenildo, esse é mais um projeto do Estado que vai ser repassado para os demais tribunais do Brasil. “Despertou o interesse de tribunais de Mato Grosso, Pernambuco, Maranhão e outros que já avisaram que pretendem vir aqui para conhecer o funcionamento”.

Para o presidente do TJMS, “o Poder Judiciário de MS é referência a nível nacional que já se destacava pela celeridade e eficiência”, e agora pelo trabalho social.

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