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Capital

Conselho Tutelar vira alvo, mas Capital tem metade da estrutura que deveria

Campo Grande tem cinco unidades e a mais antiga enfrenta quadro de abandono visível

Aline dos Santos | 13/02/2023 12:28
Cadeiras na área externa do Conselho Tutelar do Aero Rancho, o mais antigo da cidade. (Foto: Aline dos Santos)
Cadeiras na área externa do Conselho Tutelar do Aero Rancho, o mais antigo da cidade. (Foto: Aline dos Santos)

A morte de uma menina de 2 anos e sete meses no último dia 26 de janeiro se tornou uma “ferida aberta” na rede de proteção à infância e muitos dedos em riste se levantaram contra o Conselho Tutelar,  inegavelmente o elo mais fraco numa corrente que inclui Polícia Civil, Ministério Público e Poder Judiciário. Contudo, o outro lado da moeda é que o Conselho Tutelar tem metade da estrutura numérica para atender uma cidade de 916 mil habitantes. São cinco unidades, mas deveriam ser dez.

De acordo com o presidente da Acetems (Associação dos Conselheiros Tutelares de Mato Grosso do Sul), Adriano Vargas, resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente prevê um conselho a cada cem mil habitantes.

Diante da incontornável tragédia da menina, que chegou morta à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Coronel Antonino, teve vereador cobrando que o Conselho Tutelar  tivesse retirado a guarda da criança da mãe, presa pelo crime junto com  o marido, apesar dessa medida ser atribuição do Poder Judiciário. Mas se os parlamentares decidissem também a sair das redes sociais para conhecer a estrutura de atendimento, encontrariam um quadro de muitas dificuldades.

No primeiro Conselho Tutelar criado em Campo Grande, que atende no Bairro Aero Rancho, o mais populoso da cidade, o público é recebido por setas indicativas com direção a seguir e um alerta: “cuidado! grade solta, por favor não se apoiar”. No trajeto, estruturas caídas não deixam dúvidas sobre a validade do aviso.

Com a chuva forte da manhã desta segunda-feira (dia 13), parte da água da chuva escorria por filete de água no piso da área externa. Ao cenário, acrescente cadeiras velhas e rasgadas. Na parte interna, os funcionários não contam com ar condicionado. Nos dias ensolarados, o aquecimento da estrutura metálica faz com que servidores passem mal.

Seta indica a direçao da recepção enquanto cartaz alerta para tomar cuidado com as grades soltas ao longo do trajeto. (Foto: Aline dos Santos)
Seta indica a direçao da recepção enquanto cartaz alerta para tomar cuidado com as grades soltas ao longo do trajeto. (Foto: Aline dos Santos)

Pelo imóvel antigo na Rua Arquiteto Vilanova Artigas, passou metade dos 40 mil atendimentos registrados pelos cinco conselhos tutelares de Campo Grande nos últimos três anos.

A explicação está no adensamento populacional com chegada tanto de condomínios legais como favelas e a vulnerabilidade social encontrada na região do Anhanduizinho, que inclui bairros como Los Angeles, Centro Oeste, Centenário e Alves Pereira.

Nem mesmo a criação do Conselho Tutelar do Bandeira, região que abarca Moreninhas (segunda mais populosa da Capital), Universitário, Tiradentes e Maria Aparecida Pedrossian, conseguiu alterar o volume de atendimentos.

“Levantou-se um clamor em relação ao Conselho Tutelar, mas ninguém aqui está brincando de trabalhar”, diz Vargas.

A maior procura é de pais em busca em vagas nas escolas e creches, atendimento médico  para os filhos e também casos de drogadição, quando os responsáveis pelos menores de idade são usuários de drogas. Também há quem bata na porta em busca de comida, o que leva o conselho acionar a pasta de Assistência Social.

Cada Conselho Tutelar tem cinco conselheiros, um carro e celulares funcionais. A remuneração é de R$ 5.400 por mês e o cargo exige dedicação exclusiva.

Grade solta no Conselho Tutelar do Aero Rancho. (Foto: Aline dos Santos)
Grade solta no Conselho Tutelar do Aero Rancho. (Foto: Aline dos Santos)

O atendimento segue horário comercial de segunda a sexta-feira (7h30 às 11h e das 13h às 17h30), com plantão à noite e fim de semana. Porém, não há atendimento especializado da Polícia Civil fora do horário comercial.

“A delegacia especializada só funciona durante horário normal e durante a semana. Porém, as ocorrências acontecem no seio familiar, quando a família está junto, que é à noite e aos fins de semanas. Se chega uma ocorrência no plantão, acaba indo para uma Depac, onde tem tráfico, homicídio, latrocínio”, diz Vargas.

A rede de proteção também inclui agentes de Saúde e assistência social, que são acionados para manter visitas frequentes às famílias quando há denúncias. “Muitas vezes, o atendimento do Conselho Tutelar é pontual, quem vai fazer o atendimento sistemático com a família é a rede. A gente é um órgão muito mais de meio do que de fim”, afirma o conselheiro.

"Não tenho condições" – A diarista Zayne Kaliwp, 23 anos, mora no Jardim Centenário e buscou atendimento pela primeira vez no Conselho Tutelar do Aero Rancho nesta segunda-feira. Mãe de duas meninas, de 4 anos e outra de 10 meses, ela tenta vaga para as crianças na Emei (Escola Municipal de Educação Infantil).

Ela conta que precisa trabalhar e não tem onde deixar as filhas. Por dia, a babá custa R$ 100, sendo R$ 50 por cada criança. “Não tenho condições”.

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