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Capital

Famílias de região violento põem os pés na rua para pedir paz

Paula Maciulevicius | 24/08/2012 10:37

A Caminhada pela Paz reuniu vítimas da violência presente nos bairros Dom Antônio Barbosa, Parque do Sol, Lageado e Jardim Colorado

O sorriso e um só pedido: pela paz nas escolas, casas por toda Campo Grande. (Foto: Minamar Júnior)
O sorriso e um só pedido: pela paz nas escolas, casas por toda Campo Grande. (Foto: Minamar Júnior)
Caminhada reuniu crianças, professores e famílias pelas ruas do Dom Antônio Barbosa. (Foto: Minamar Júnior)
Caminhada reuniu crianças, professores e famílias pelas ruas do Dom Antônio Barbosa. (Foto: Minamar Júnior)

A Caminhada pela Paz entrou pela rua Lúcia dos Santos, no bairro Dom Antônio Barbosa pela 7ª vez na manhã desta sexta-feira. Uma tentativa de levar a cultura da paz a uma das regiões que registram os maiores índices de criminalidade da Capital. Dos pequenos, que mal sabiam dizer o porquê estavam ali até adultos que pediam por um sentimento gratuito, mas que pela falta, tem custado muito caro.

A frase de uma das crianças que participava da ação pode ser interpretada como um anseio coletivo. “Precisa, porque se tivesse paz eu não teria levado um tiro na perna”. Flávia da Silva Borges, 9 anos, foi atingida por um tiro na coxa quando saía da creche onde estudava, aos 4 anos, no bairro Parque do Sol. Hoje conta a história com normalidade, infelizmente por estar habituada a ouvir o barulho dos tiros ao invés das brincadeiras nas ruas.

“Foi uma troca de tiros e daí pegou em mim”, fala, apontando para a perna. Moradora do Dom Antônio Barbosa desde que nasceu o fato não é isolado. O som dos disparos de armas de fogo é constante na região onde o crime cerca o cotidiano das famílias.

Hoje sorrindo, Flávia Borges pede pela paz que tanto precisa. Ela foi vítima de uma troca de tiros quando saía da creche, aos 4 anos. (Foto: Minamar Júnior)
Hoje sorrindo, Flávia Borges pede pela paz que tanto precisa. Ela foi vítima de uma troca de tiros quando saía da creche, aos 4 anos. (Foto: Minamar Júnior)

“Está precisando de paz, muitas coisas acontecem por aqui. Tiroteio, matança. Esses dias a polícia estava correndo atrás de um cara e ele pulou o muro de casa. Eu fiquei com medo e tranquei tudo”, relata a estudante Fernanda Martins de Oliveira, 12 anos.

A estimativa da Polícia Militar é que tenham participado mil pessoas, entre estudantes, pais e professores. O trajeto saiu da rua Lúcia dos Santos, passou pela Evelina Selingardi, Elídio Pinheiro, até a Anselmo Selingardi.

A caminhada é promovida pela Secretaria de Assistência Social do município, pelo CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) Rosa Adri, escolas e associações de moradores dos bairros Dom Antônio Barbosa, Parque do Lageado, Jardim Colorado, Parque do Sol, José Filho, Aero Rancho e Los Angeles. E contou também com a participação da Banda Mirim da Polícia Militar e apresentações culturais dos colégios.

Gente da própria comunidade que decidiu que não dava mais para fechar os olhos para a violência, diante de tantos homicídios principalmente de adolescentes e jovens. A caminhada de incentivo à cultura da paz pede que o sentimento esteja presente nas casas, no trânsito e nas escolas é bem mais difícil do que seguir os passos pelas ruas do bairro.

“É difícil a gente trabalhar contra valores impostos pela própria família, mas não perde a esperança de que é possível”, diz o organizador do evento, Artêmio Miguel Versoza.

Famílias que imploram pelo sentimento também no trânsito. Que hoje mata mais do que a violência de um disparo. Cleice Aparecida sente até hoje pela morte do irmão, há quatro anos. (Foto: Minamar Júnior)
Famílias que imploram pelo sentimento também no trânsito. Que hoje mata mais do que a violência de um disparo. Cleice Aparecida sente até hoje pela morte do irmão, há quatro anos. (Foto: Minamar Júnior)

O pedido de paz não era apenas contra a violência de armas, roubos e assassinatos. Era também por um trânsito pacífico, que tem feito mais vítimas do que o próprio disparo. De longe, mas acompanhando tudo, uma mulher com dois filhos ainda pequenos e uma camiseta escrita “Gutinho”. Era Cleice Aparecida da Graça, 31 anos.

A homenagem era para o irmão, morto há quatro anos em um acidente de trânsito. “Precisa de mais paz, compreensão, principalmente no trânsito. A violência está demais, a caminhada leva um pouquinho de paz para ver se alguém se conscientiza. As crianças estão crescendo e tendo uma visão errada, os jovens que deveriam mudar o mundo, eles próprios estão fazendo isso, mas para pior”, desabafou.

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