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Capital

Grupo quer que rua com homenagem a ditador ganhe nome de índio morto

Luciana Brazil | 17/06/2013 12:03
Avenidas podem receber nome de indígena morto em Sidrolândia. (Fotos:Cleber Gellio)
Avenidas podem receber nome de indígena morto em Sidrolândia. (Fotos:Cleber Gellio)

O nome do índio terena Oziel Gabriel, 35 anos, morto no mês passado, em Sidrolândia, durante conflito entre policiais e indígenas, é uma das sugestões do Comitê Memória Verdade e Justiça de Mato Grosso do Sul para substituir a nomenclatura atual de uma das duas importantes vias de Campo Grande, a avenida Ernesto Geisel e Costa e Silva.

A alteração dos nomes faz parte de um movimento nacional que tenta apagar homenagens feitas a membros da ditadura militar. Na manhã de hoje, durante assembleia do comitê, membros discutiram a proposta.

Entre as sugestões do comitê também estão Honestino Guimarães e Edson Luis, estudantes que se tornaram símbolos de combate ao regime militar no País. Guimarães era estudante da UNB (Universidade de Brasília) e desapareceu em 1973, no Rio de Janeiro. Ele esteve à frente do Diretório Acadêmico da UNB e da Federação dos Estudantes.

Já o paraense Edson Luis foi morto aos 17 anos, no dia 28 de março, 1968. Estudante secundarista no Rio de Janeiro, Edson foi assassinado durante confronto no restaurante Calabouço, no centro da capital carioca.

Ele é considerado o primeiro estudante a ser morto pela ditadura militar. No dia de sua morte, estudantes planejavam uma passeata em protesto contra a alta do preço da comida no restaurante Calabouço.

Apesar de já existirem propostas, a discussão da mudança de nome ainda começa a ter espaço no comitê, segundo Leonardo Machado, representante do DCE (Diretório Central de Estudantes) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e diretor da UNE (União Nacional dos Estudantes), que propôs a mudança.

“A ideia é que as vítimas da ditadura sejam reparadas moralmente”, explicou.

Na Capital, ainda não há uma lei que aprove a mudança, a não ser por três motivos: quando existe algum logradouro com o mesmo nome, no caso de ser homenagem à pessoa viva, o que não é permitido, ou ainda se expõe os moradores ao ridículo.

“Nós vamos procurar vereadores que possam nos ajudar, apresentando um projeto de lei que autorize a mudança”.

Domingos desaprova a mudança de nomes.
Domingos desaprova a mudança de nomes.

Em Campo Grande, a sugestão de Leonardo é fazer uma mobilização popular para a discussão. O grupo pretende reunir nove mil assinaturas para apresentar um projeto de iniciativa popular. A ideia inicial era mudar o nome das avenidas por nomes de personalidades perseguidas aqui no Estado, durante o regime militar, mas o nome do índio terena já surgiu como uma possibilidade.

“Vamos colher assinaturas em atos públicos, universidades, internet e todos os meios possíveis”, frisou Leonardo.

Em São Paulo, a primeira capital a rebatizar o nome de vias que homenageavam autoridades ligadas à ditadura, o prefeito Fernando Haddad promulgou uma lei que autoriza a troca de nomes.

O marechal Artur da Costa e Silva foi o segundo presidente do regime militar instaurado em 1964. Considerado linha dura, foi responsável pela promulgação do AI-5, instrumento que deu ao governo poder de caçar políticos e institucionalizar a repressão e a tortura no Brasil. Já Ernesto Geisel deu início à abertura política e assinou o ato de criação de Mato Grosso do Sul, mesmo assim entrou para a história como homem do regime.

Honestino era estudante da UNB e desapareceu em 1973.
Honestino era estudante da UNB e desapareceu em 1973.

Opinião: A mudança divide opiniões pelas ruas, mas ao mesmo tempo parece não fazer muita diferença para a maior parte dos entrevistados. Para o chapeiro Alexsandro Agostinho, 24 anos, não faz "a mínima diferença". Sem conhecimentos históricos, ele diz que a alteração de nomes só complicaria os endereços.

Já o chefe de prevenção Domingos Sávio, 38 anos, defende a permanência dos nomes. "O que passou, passou. Causaria muito transtorno. É uma mudança desnecessária". Ele ainda lembra a mudança de nome da rua Doutor Paulo Coelho Machado, antiga Furnas. "Ninguém fala o novo nome. Não adiantou nada".

Com coisas "mais importantes para se preocupar", Karina Ortiz, 36 anos, não concorda com a mudança. "Tem muita coisa para se fazer em Campo Grande. Isso não é importante".

A vendedora Lucimara Angela, 40 anos, é a favor da mudança de nomes e afirma: "Tudo vale a pena quando é para melhorar".

Ligada ao momento histórico, a estudante Janaína Persa, 20 anos, é a favor da alteração. "Para quem não liga, ou acha que não faz diferença é porque, com certeza, não tem nenhum familiar que sofreu a ditadura. Se parasse para pensar como foi ruim, faria diferença".

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