ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  26    CAMPO GRANDE 28º

Capital

Imprudência médica ameaça vida de bebê que ingeriu “diabo verde”

Lidiane Kober | 19/09/2013 18:37
Glaucia não tira os olhos da filha para impedí-la de retirar sonda que a alimenta (Foto: Lidiane Kober)
Glaucia não tira os olhos da filha para impedí-la de retirar sonda que a alimenta (Foto: Lidiane Kober)

Há 12 dias, a família da pequena Mirella Carvalho de Oliveira, dois anos, vive em clima de angústia e incerteza. Após ingerir produto de limpeza pesada, popularmente conhecido como “diabo verde”, a bebê foi dispensada do Hospital São Lucas por um clínico geral e por uma pediatra. Em casa, começou o drama dos pais ao ver a menina arder em febre e recusar comida. Agora, ela se alimenta por sonda e luta para vencer infecção no sangue e no esôfago para, depois, fazer exame e conferir o estado dos órgãos internos.

Segundo a mãe, a cozinheira Glaucia Carvalho Serafim, 18 anos, tudo começou num domingo (8), pouco antes do almoço. “Fui até a dispensa para pegar o macarrão e ela me acompanhou, tocou o telefone e sai para atender. Pouco depois, ouvi os gritos e fui correndo até lá, quando a vi com a boca sangrando e espumando”, relatou.

Sozinha na chácara onde trabalha, Glaucia correu até a pia para lavar a boca da bebê, que não parava de sangrar. Ela chegou a procurar a ajuda de vizinhos até sua patroa chegar e levá-la até o Hospital São Lucas. “Como não tinha cartão do SUS (Sistema Único de Saúde), minha patroa achou melhor procurar um hospital particular para a gente não perder tempo”, explicou.

Já na instituição de saúde, enfermeiros minimizaram o problema. “Não está acontecendo nada”, diziam para a mãe. “Pouco depois, um clínico geral a analisou, colocou um palito na boca dela e, sem fazer nenhum exame, disse que a ela não ingeriu o produto e que estava bem”, contou.

Na sequência, a criança passou por avaliação de uma pediatra. “Ela olhou a boca da neném, escutou a barriga dela, receitou um antibiótico e um remédio para dor e mandou a gente voltar em uma semana”, relatou a mãe. “Disse que minha filha poderia comer normalmente, só sugeriu preferência por alimentos gelados”, emendou.

Em casa, depois de a família desembolsar R$ 200 pela consulta e mais R$ 50 por curativo e soro, a criança enfrentou dias de febre de 39 graus e só aceitava beber leite. “No hospital, os médicos falaram que estava tudo bem e mandaram voltar em uma semana, mas, na sexta-feira (13), fomos até a Upa (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Coronel Antonino, onde chegaram a debochar da gente”, disse Glaucia.

Segundo ela, a família foi em busca de encaminhamento para um médico endocrinologista. “Falei que ela ingeriu diabo verde e um enfermeiro mandou esquecer o diabo verde, diabo loiro, diabo azul”, relatou. O produto de limpeza, ingerido pele criança, é à base de amoníaco e soda cáustica, serve para remover sujeiras, gorduras, graxas e desentupir ralos e pias.

Desesperada, a mãe procurou o deputado estadual Marquinhos Trad (PMDB) que a encaminhou até a médica endocrinologista Eduarda Tebet. Depois, a criança foi internada no Hospital Regional e, agora, enfrenta novo desafio. “A Mirella só pode se alimentar por sonda, como sente muita dor já a arrancou duas vezes, ficou três dias sem se alimentar e perdeu dois quilos”, lamentou a mãe.

Novo desafio - De acordo com ela, os médicos avisaram que o canal do nariz até o estômago não aguenta um terceiro procedimento. “Neste caso, a Mirella precisará enfrentar uma nimicirurgia para colocar a sonda no coração, mas, como está muito fraca, pode ser que não resista”, frisou Glaucia. “Não durmo mais para cuidar que ela não tire a sonda”, emendou.

Se conseguir enfrentar o desafio de uma semana, tempo necessário para curar infecção no sangue e recuperar o esôfago, a criança precisará passar por endoscopia para saber o estado dos órgãos internos. “Só assim vamos saber o real estado do intestino, do estômago”, comentou a mãe.

Revoltada com a dor da filha, ela não se conforma com o primeiro atendimento na rede particular. “Saber que minha bebê corre risco por causa da imprudência médica é uma dor sem tamanho”, comentou. Segundo Glaucia, os atuais médicos classificaram como um erro terrível permitir a alimentação da criança. “Se ela tivesse se alimentado por sonda desde o início, não teria infecção no sangue”, afirmou.

Outro caso - Na madrugada de segunda-feira (16), depois de ser rejeitado por dois hospitais, por falta de pediatras, um bebê de 13 dias morreu sem receber atendimento médico. A família da criança buscou ajuda na maternidade Candido Mariano e no hospital El Kadri.

Nos siga no Google Notícias