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Capital

Mesmo com lei polêmica, movimento ainda é grande em conveniências

Paula Maciulevicius e Aline dos Santos | 28/11/2011 22:41
Na fotografia tirada de longe, a movimentação transparece. Entre eles se vê até uma criança no empurrando um carrinho de bebê, em meio a aglomeração. (Foto: Pedro Peralta)
Na fotografia tirada de longe, a movimentação transparece. Entre eles se vê até uma criança no empurrando um carrinho de bebê, em meio a aglomeração. (Foto: Pedro Peralta)

A aglomeração não se intimidou nem mesmo com a polêmica lei que está para ser sancionada, de vetar o consumo de álcool em ruas, praças e conveniências da Capital. Em um giro por estabelecimentos as cenas escancaram a necessidade de se tomar alguma providência.

Na rua Anacá, bairro Moreninhas, na Capital, a movimentação no final da semana era tamanha que a Polícia calcula 500 pessoas divididas em três quadras. De crianças com mães até pessoas mais velhas. A maioria consumindo bebida alcoólica e dançando funk pelo som que saía de três carros.

A concentração de pessoas não vai até tarde, porque a Polícia Militar interfere. O Campo Grande News acompanhou a rotina de policiais do reservado da PM que monitoram quem são os provocadores da algazarra.

O que chama a atenção é o comportamento de adolescentes e motoristas de carros que chegam com isopores lotados, para vender bebida na rua, sem qualquer receio.

O Campo Grande News em companhia de um sargento reservado da Polícia de Trânsito ficou no meio da movimentação. Para não causar tumulto, as fotografias foram feitas apenas de longe. Mas de perto o que se vê são crianças até pequenas, acompanhadas de mães, dançando, algumas mais velhas com latas de cerveja em mãos, achando que estão fazendo bonito.

As 500 pessoas só se concentraram ali porque a janela de uma conveniência vendia bebidas a rodo. E quem não conseguia chegar até o balcão, tinha a disposição bebidas em um isopor, na carroceria de uma Pampa vermelha.

Com discrição, o Campo Grande News começou a perguntar às pessoas o que achavam da lei aprovada pela Cãmara. Um grupo de três mulheres, uma delas com uma criança de menos de 5 anos, respondeu que concorda e que está ali porque não tem opção de espaço.

O local não é muito iluminado, mas mostra a presença de adolescentes junto ao consumo de álcool. (Foto: Pedro Peralta)
O local não é muito iluminado, mas mostra a presença de adolescentes junto ao consumo de álcool. (Foto: Pedro Peralta)

“Tem barulho, eu moro aqui mesmo então eu venho. Não tem o que fazer”, disse uma delas. Nenhuma quis se identificar e logo depois da conversa se afastaram da equipe.

O policial que acompanhou o Campo Grande News comenta “o problema mesmo é o som alto. Porque ele é o que chama as pessoas. A maioria deles menores de idade”.

A música é o que conduz dois “bondes”. O grupo de adolescentes se intitula e usa até camiseta. Um escrito “Bond Envolvente” e o outro “Os envolvidos”. Todos menores de idade que dançam uma coreografia ensaiada.

A situação só se tranqüiliza quando as viaturas da Polícia chegam. Bombas de efeito moral e revista pessoal. É assim que termina a noite nas Moreninhas e traz de volta a tranquilidade aos moradores, àqueles que não entram na algazarra.

Antes da batida da PM, um dos carros responsáveis pelo som foi embora. Ele recebeu uma ligação pelo celular, avisando de que a Polícia ia aparecer.

Da chegada dos policiais até o final da concentração de pessoas foram segundos. Os poucos que não conseguiram ir embora rápido, passaram pela revista. Nada de irregular foi encontrado.

“Eu acho que está certo a Polícia vir. Tem muito menor de idade aqui, mas eles não precisam chegar desse jeito”, disse uma jovem.

“A lei pode até ser boa, mas não vai conseguir mudar. A conveniência pode não vender, mas os carros vendem. Tem sempre uma caminhonete F-1000 que chega e abre a carroceira vendendo”, argumenta outra moradora.

E é dessa forma que a noite termina. Com revista pela Polícia Militar. (Foto: Pedro Peralta)
E é dessa forma que a noite termina. Com revista pela Polícia Militar. (Foto: Pedro Peralta)

O problema não se resume apenas a região das Moreninhas. No bairro Universitária, não eram nem 10 horas da noite e o local já estava “fervendo”. A rua Pontalina tem uma conveniência em uma esquina e uma pizzaria com música ao vivo na outra. O chamariz para a aglomeração de pessoas.

Por lá as pessoas já aparentavam embriagues. O hálito exalava álcool e todos com latinhas na mão. A receptividade com a imprensa não é das melhores. É preciso chegar aos poucos para depois iniciar a entrevista. Foto eles não permitiam, mas opinião sobre a lei tinha das mais diversas.

Os primeiros a comentarem são dois irmãos. “Eu sou contra essa lei. Aqui não tem algazarra, quando começa o dono fecha. O que tem que existir é igualdade, pergunta se eles vão fiscalizar o bairro nobre como vai ser na periferia?”, questiona Denilson Machado Benites, de 40 anos.

“Já tem lei seca, era essa que precisava ser cumprida. Som alto, orgia, isso eu sou contra, já passa dos limites. Mas agora todos vão pagar pelo erro dos outros”, comenta Deilson Machado Benites, de 40 anos.

“A lei é certa, mas não é todo mundo assim. Tem vândalo, mas tem gente que vem para relaxar. O certo era multar os motoristas com som alto. Mas o álcool não dá problema só na conveniência. Eu mesmo já bebi e quando cheguei em casa, quis arrumar confusão com o vizinho. Era em casa”, conta Alex Carvalho, de 24 anos.

A lei preocupa os donos de estabelecimentos. Os únicos que se dispuseram a conversar com o Campo Grande News foram o casal Ana Lúcia Vieira e Luiza Andrade.

“Quando começa a dar problema, a gente fecha as portas. Eu dependo disso aqui. Pago alvará e a gente liga para a Polícia, mas quem vai dar segurança para a gente nisso? Estamos fazendo o trabalho da Polícia e eles podem muito bem dar tiro na gente”, relata a dona.

Eles dizem que no Universitária é tranquilo e que o alvará é para funcionar até 23h.

“Quem vai levar com isso somos nós. Os clientes fieis, para onde eles vão? Para casa dormir. Muitos ainda vão fechar, não vão aguentar”, acrescenta o dono.

Legislação - O projeto que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas em conveniências, ruas e praças públicas foi aprovado na semana passada por 14 votos a três, na Câmara Municipal. Agora segue para sanção do prefeito Nelsinho Trad (PMDB) que sinalizou aprovar a lei o quanto antes. O projeto tramitava desde 2009 na Câmara e o texto inicial proibia o consumo de bebida e bagunça nos postos de combustíveis.

Alvará - A legislação municipal estipula que as conveniências podem funcionar até 23 horas, entre segunda e quinta-feira. Às sextas-feiras e fins de semana, o funcionamento vai até meia noite. Contudo, o estabelecimento comercial pode requerer alvará especial para funcionar 24 horas, que é concedido pela Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano). Uma das exigências é que o local ofereça segurança, ou seja, contrate prestadores de serviços de segurança.

O posto Trokar, na avenida Fernando Correa da Costa, tradicional point, perdeu o alvará especial porque houve uma tentativa de homicídio em julho deste ano. “Em casos de crime contra a vida, perde o alvará”, explica o delegado da Deops (Delegacia Especializada de Ordem Política e Social), Antonio Silvano Rodrigues Mota. Na ocasião, uma mulher de 25 anos foi baleada pelo ex-marido.

A Polícia reforça que denúncias contra as boates a céu aberto, como viraram as conveniências podem ser feitas na Deops ou em delegacia dos bairros.

“É importante que a pessoa registre o boletim de ocorrência, para que o dono não alegue estar sendo denunciado por algum concorrente de quem está ‘tomando’ a freguesia”, salienta o delegado.

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