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Capital

Mestre e amigo, Juca Ganso fez história conquistando discípulos

Mariana Lopes | 08/07/2013 20:09
Na rádio Cultura AM, emissora na qual o radialista começou e terminou a carreira
Na rádio Cultura AM, emissora na qual o radialista começou e terminou a carreira

A segunda-feira não chegou com boas notícias e hoje o dia foi de pura nostalgia para os corações setentistas. Para quem já ouviu o famoso bordão da rádio do campo “quem ouvir, favor avisar”, no mínimo ficou com um nó na garganta ao saber que a voz matuta do radialista Carlos Achucarro, mais conhecido como Juca Ganso, se calou.

Aos 84 anos e ainda em pleno exercício da profissão, Juca Ganso morreu de parada cardíaca e deixou um legado. De mestre a amigo, ele fez história nas rádios de Campo Grande, conquistando discípulos e fãs.

Os primeiros passos no radiojornalismo foram em 1962, na emissora Cultura AM, onde começou e encerrou a carreira. Mas de lá para cá, Juca Ganso passou por várias outras emissoras, como a Difusora, Guanandi e Capital.

Mas na qual realmente ele se consagrou foi na Educação Rural, quando trabalhou na década de 1970, apresentando o programa “A Hora do Fazendeiro”. A vinheta tocava e logo Juca Ganso cumprimentava “o compadre e a comadre”, que na certa estavam com os ouvidos atentos aos avisos do radialista.

“Dona Jerusa, da Fazenda Graúna, avisa que saiu do hospital e vai descer do ônibus na terça-feira, ao meio dia, na Pontinha do Cocho. Quem ouvir, favor avisar”. Era assim que ele dava o recado na época que a tecnologia ainda estava bem longe de romper as porteiras das fazendas, como bem lembra o advogado João Campo, 66 anos.

“Ele prestava um serviço de utilidade pública inestimável, um programa que foi um fenômeno da comunicação”, define Campos. “O caboclo podia ficar um mês no hospital que alguém ia pegá-lo, porque tinha ouvido com Juca Ganso”, comenta o advogado, que viveu um tempo em uma fazendo no Pantanal e se recorda de quando as pessoas, pontualmente ao meio dia, grudavam o ouvido no rádio para ouvir os avisos do “caipira” que trazia recados. “O público matuto que ele tinha se identificava com a voz dele”, diz João Campos.

Época quando trabalhou na rádio Difusora Pantanal
Época quando trabalhou na rádio Difusora Pantanal

O mestre e amigo – Com a voz embargada pela emoção de contar do privilégio de ter trabalhado com Juca Ganso, o jornalista e radialista Ciro de Oliveira, 64 anos, não economiza elogios àquele que ele considera o seu professor no radiojornalismo.

“Trabalhei com ele na Educação Rural, meu mestre, meu professor, primeiro cara que me ensinou algo sobre rádio. Eu era um garoto, estava começando minha carreira. Lembro que eu entrava na rádio às 4h, acabava dormindo debruçado na mesa, e o Juca ia lá, abria o microfone, batia na mesa e gritava “acorda Ciro”, para brincar comigo”, recorda o jornalista.

Ciro lembra ainda que começou na rádio aos 16 anos, deu voltas por outros veículos de comunicação, e hoje, apresentando um programa da rádio FM 104, ele tinha a satisfação em ter o mestre Juca Ganso como amigo e ouvinte. “De repente eu estava trabalhando com o meu ídolo e até hoje ele às vezes me ligava para falar que estava acompanhando meu programa”, conta Ciro.

De volta à raiz – Em 2009, depois de mais ou menos 5 anos longe das rádios, Juca Ganso voltou à ativa com o programa “Entardecer no Sertão”, transmitido na Cultura AM.

Como havia perdido a visão, motivo pelo qual ele se afastou do ofício de radialista, quando voltou a apresentar tiveram que encontrar um mecanismo para gravá-lo. E assim foi feito. Toda sexta-feira, o produtor do programa, Marco Antonio Marrom, ia até a casa dele e gravava a programação da semana toda.

Com Gravador, “Ele perguntava que dia seria segunda-feira e mandava bala na gravação, tinha um texto muito bom, uma voz de sertanejo, o programa era um bate-papo entre ele, eu e o ouvinte, e a gravação ia ao ar na íntegra”, conta Marrom, que trabalhou durante 4 anos trabalhando com Juca Ganso.

Tempo suficiente para colecionar boas histórias e lembranças. “Ele sempre me explicava as letras das músicas em guarani, era uma pessoa boa de coração, uma criança grande, que só soube fazer amigos, não tem como explicar”, define o companheiro de trabalho.

O último programa gravado foi feito na semana passada. Se a família autorizar, a programação seguirá normal até a próxima sexta-feira (12), indo ao ar das 18h às 19h, antes da Voz do Brasil.

Juca Ganso também foi humorista nas rádios, repórter esportivo, ator de rádio novela e deu vida a vários personagens, inclusivo ao que lhe rendeu o apelido.

Ele morava no bairro Oiti, em Campo Grande. Foi casado com a dona Olga, que faleceu há um ano e dez meses. O casal deixou três filas, cinco netos e uma bisneta.

Velório - O Velório do Juca Ganso começou às 19h, na Pax Real, localizada na avenida Bandeirantes (entre a rua Brilhante e a avenida Salgado Filho). O sepultamento será amanhã (9), às 13h30, no Cemitério Memorial Parque, na Vila Pioneira.

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