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Capital

MPE dá ultimato e desespera 800 famílias com risco de corte de luz

Lidiane Kober | 18/09/2014 17:01
Moradores da favela se desesperam com risco de voltar a ficar sem energia (Foto: Marcos Ermínio)
Moradores da favela se desesperam com risco de voltar a ficar sem energia (Foto: Marcos Ermínio)

Recomendação do MPE (Ministério Público Estadual) para a Prefeitura de Campo Grande não arcar com o pagamento de R$ 8 mil mensais para bancar a energia da Favela Cidade de Deus aumentou o impasse em torno do futuro das 800 famílias, que residem no local.

A administração municipal prometeu manter geradores até amanhã (19) e a Enersul só aceita religar o serviço em troca da regularização da rede clandestina. Diante do impasse, o clima de desespero toma conta dos moradores, temerosos com o risco de voltar a ficar às escuras.

Após incêndio, que destruiu seis barrados, no último dia 11, a Enersul desligou a energia dos barracos. A falta do serviço durou 38 horas e castigou os moradores, que relataram perdas de alimentos e problemas respiratórios, principalmente, em crianças e idosos.

Na madrugada do sábado (13), a prefeitura instalou dois geradores, emprestados por empresários, e prometeu resolver o problema na segunda-feira (15). Mas, em reunião com a Enersul, secretários municipais não fecharam acordo e prometeram segurar os aparelhos na comunidade até amanhã (19).

Nesta quinta-feira (18), o MPE publicou, no Diário de Justiça, recomendação para o prefeito Gilmar Olarte (PP) “não transferir aos cofres públicos os custos das despesas com a energia elétrica a ser consumida pela população habitante da Cidade de Deus II”.

Para o órgão, o pagamento das despesas pode ocasionar crime de improbidade administrativa, além de gerar benefícios a moradores de área ocupada irregularmente e alvos de processo de despejo. Além disso, segundo o MPE, a pactuação com a religação do fornecimento de energia poderá oferecer riscos à comunidade, que usa o serviço por meio de ligações precárias e clandestinas.

Desespero – Sem saída visível, o medo do escuro tira o sono dos moradores. “Estamos entre a cruz e a espada”, resumiu Denise Campos Barbosa de Souza, de 23 anos, que reside na favela há quase três anos. “Não estamos aqui de sem vergonhice, vivemos aqui porque simplesmente não temos outra saída, não temos para onde ir”, completou.

Segundo ela, nas 38 horas que a favela ficou sem luz, a maioria dos moradores viu comida estragar na geladeira e filhos passarem mal. “A gente já tem pouco”, comentou Denise. Ela, por exemplo, é vítima de bronquite e depende de aparelho para respirar em momentos de crise. “Na sexta-feira (12), que ficamos sem energia, parei no hospital por ficar sem a bombinha”, contou.

Dividindo barraco com a mãe de 73 anos e o filho, de 8, Brenda Lili é outra que “teme o amanhã”. “Por causa da poeira, do clima seco e do calorão minha mãe não está conseguindo respirar direito, nem sei o que será de nós no escuro à noite, sem nem um ventilador para espantar os pernilongos e o calor”, comentou. “Só queremos uma vida digna”, emendou.

Para piorar a situação, segundo as moradores, ninguém sabe do destino da favela. “Ninguém fala nada, não sei como vai ser, só sabemos que os geradores de energia vão ficar até amanhã”, contou Brenda. “Se for preciso, vamos para a frente da prefeitura e da Enersul manifestar novamente”, acrescentou.

Os geradores, conforme as moradoras, funcionam das 18h às 5h30 e das 11h30 às 13h. “De dia não tem problema (ficar sem energia), o complicado é ficar de noite, porque o calor é insuportável dentro dos barracos e tem muito pernilongo”, relatou Denise.

Procurados pela reportagem os secretários municipais Rodrigo Pimentel (Governo e Relações Institucionais) e Valtemir Brito (Administração) não atenderam as ligações e nem as retornaram para falar sobre o futuro da favela. Há compromisso de retirar os moradores do local, porém, a prefeitura informou precisar de pelo menos 90 dias para providenciar nova área e estrutura.

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