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Capital

Noroeste enfrenta 2ª onda de invasões em terrenos privados e públicos

Bruno Chaves e Edivaldo Bitencourt | 25/09/2013 15:15
Há seis meses, por falta de opção, Lucilene decidiu invadir área no Jardim Noroeste (Foto: Cleber Gellio)
Há seis meses, por falta de opção, Lucilene decidiu invadir área no Jardim Noroeste (Foto: Cleber Gellio)

Uma segunda onda de invasões em terrenos públicos e privados acontece no Jardim Noroeste, região Leste de Campo Grande, e tem causado revolta em proprietários e moradores do bairro. Por outro lado, os ocupantes dos lotes alegam que não têm para onde ir e tomaram posse do local para pressionar o poder público na distribuição de casas populares, por meio de programas habitacionais.

Segundo o dono de um dos lotes, Fernando Simioli Corrêa, as invasões são notórias e corriqueiras, mas, nos últimos dias, a situação saiu do controle. “Está ocorrendo um mutirão de invasores que, desde segunda-feira (23), cercaram três quarteirões alegando que os terrenos são do município, mas são terrenos particulares”, escreveu ao Campo Grande News.

Ele denuncia que um grupo de moradores cercou e loteou os terrenos e, deliberadamente, estão vendendo a posse às famílias humildes. “Isso está ocorrendo de uma forma bizarra, pois são várias famílias ocupando terras alheias (três quarteirões), como verdadeiros esbulhadores”, afirmou.

Fernando ainda escreveu que, no passado, as terras pertenceram ao poder público. No entanto, “hoje pertencem a pessoas do bem e trabalhadoras, que compraram e pagaram pelo terreno, como eu, e agora se veem cercados de bandidos e esbulhadores”.

A reportagem do Campo Grande News procurou a assessoria de imprensa da prefeitura para obter informações acerca das ocupações. No entanto, até o fechamento desta reportagem, nenhuma reposta foi encaminhada ao jornal.

Mais de 60 barracos foram erguidos em torno da Avenida Marechal Mallet (Foto: Claber Gellio)
Mais de 60 barracos foram erguidos em torno da Avenida Marechal Mallet (Foto: Claber Gellio)
Algumas "casas" ainda nem foram terminadas  (Foto: Cleber Gellio)
Algumas "casas" ainda nem foram terminadas (Foto: Cleber Gellio)
Geneci acredita que dificuldades irão trazer vitórias e a casa própria no futuro (Foto: Cleber Gellio)
Geneci acredita que dificuldades irão trazer vitórias e a casa própria no futuro (Foto: Cleber Gellio)

Ocupantes – De acordo com moradores do bairro, a Avenida Marechal Mallet é o local apontado como principal alvo dos ocupantes, cerca de 60 famílias. A dona de casa Lourdes Silva Mendes, 55 anos, garantiu que as invasões são antigas, mas nos últimos meses tomaram proporções maiores.

“Tem famílias que até se instalaram em uma rua, que corta a avenida. Normalmente, eles vêm à noite, começam a limpar o mato e já levantam a casa, colando móveis e tudo”. Poucas pessoas aceitaram a conversar com a reportagem.

A diarista Lucilene Félix do Espírito Santo, 50 anos, foi uma das poucas moradoras “irregulares” que aceitou revelar os motivos da ocupação. Ela contou que está no local há seis meses por falta de oportunidades. “Fiquei doente, tive derrame nos olhos, não pude trabalhar e ficou difícil pagar aluguel. Juntei todas as minhas economias, R$ 800, e construí o barraco aqui”, revela.

Lucilene morava no Bairro Portal Caiobá e disse que foi morar no Noroeste por indicação de um irmão. “Ele contou que as pessoas estavam ocupando aqui e decidi ocupar também”, disse. A diarista disse que não consegue trabalho e sobrevive com a ajuda de um filho. Ela mora em um barraco de dois cômodos e diz que seu sonho é conseguir uma casa da prefeitura.

“Morar aqui não é fácil. Aguardo uma casa da Emha (Empresa Municipal de Habitação) desde 2007. Minha esperança é que esse terreno fosse da prefeitura. Mas fui ao cartório e descobri que ele pertence a uma cooperativa de médicos. A área, de 20 lotes, está avaliada em R$ 200 mil. Agora, vou ficar aqui até conseguir uma casa”, explica.

Há um ano e meio, a diarista Geneci Batista André, 36 anos, decidiu ocupar uma área do Jardim Noroeste. Ela se classificou com a primeira moradora “irregular” da região e disse que foi ao local porque não aguentava mais pagar aluguel.

“Eu não podia mais pagar R$ 300 de aluguel e falei ‘vou invadir mesmo’. Não tinha condições de ficar morando de graça. Com a ajuda do meu irmão vim aqui, limpei o mato e entrei. Pelo menos não pago casa, luz e nem água”, revela.

Geneci até desconfia que a área em que levantou o barraco de dois cômodos seja particular, mas ela afirma que foi a solução mais fácil que encontrou para providenciar uma moradia. “Aguardo há sete anos uma casa da Emha ou da Agehab (Agência Estadual de Habitação). Um mês atrás algumas equipes vieram aqui para cadastrar os moradores, mas só passaram nos barracos que estão na rua”, conta.

“A situação aqui é uma tristeza. Você não sabe como é ruim morar em barraco. Meus filhos pedem para a gente se mudar. Mas seu eu for pagar aluguel, água e luz sobra o que para comer? Abrir a geladeira e não ter nada para comer é uma tristeza. Mas como dizem, para a gente conseguir alguma coisa tem que passar por uma dificuldade. Sei que um dia vou conseguir minha casa e vou poder pagar algo que é meu”, acredita.

Instabilidade e insegurança – Para o presidente do Sivoci-MS (Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul), Marcos Augusto Netto, invasões em área públicas ou privadas geram instabilidade “astronômica” e insegurança na cidade. “Isso em toda a região, o bairro fica afetado e o povo com medo e assustado. É ruim para todos”, explica.

Marcos avaliou as invasões como falta de respeito ao direito de propriedade, que é sagrado em qualquer democracia do mundo. “Abala os pilares da democracia. A pessoa é obrigada a entrar na Justiça, que tem sido positiva e tem expedido ordem de reintegração de posse, mas gera um transtorno”.

Para reiterar o argumento, o presidente do sindicato compara a invasão de terrenos como se apoderar de uma bicicleta ou um carro. “Isso é roubo. Não existe você falar que vai ocupar a bicicleta de uma pessoa, usar por um tempo e depois devolver. Não existe”, opina.

Essa é a segunda onda de ocupação no Jardim Noroeste. A primeira ocorreu no final dos anos 90, quando centenas de famílias invadiram terrenos particulares e públicos no bairro. O problema persistiu por tempos porque o bairro não era urbanizado nem contava com ruas para dividir os lotes.

Casa própria é o maior sonho de Lucilene (Foto: Cleber Gellio)
Casa própria é o maior sonho de Lucilene (Foto: Cleber Gellio)
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