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Capital

Pai de membro do PCC morto diz que a droga fez do filho um criminoso

Ian Guilherme Bronzoni foi assassinado nesta terça-feira. Ele e o irmão gêmeo são apontados com lideranças da facção

Marta Ferreira e Viviane Oliveira | 25/02/2020 14:01
Em post no Facebook, professor fez despedida para o filho assassinado nesta segunda-feira. (Foto: Reprodução Facebook)
Em post no Facebook, professor fez despedida para o filho assassinado nesta segunda-feira. (Foto: Reprodução Facebook)

“Fiz o meu melhor, sempre os aconselhei no caminho do bem, nunca exigi serem doutores para que os amasse. Claro que aconselhei no caminho dos estudos, mas jamais condicionei ter diploma para que eu os amasse e os respeitasse. Meu maior pedido sempre foi para que trabalhassem honestamente”. A declaração é do professor de Geografia Gilvano Kunzler Bronzoni, 43 anos, sobre os filhos Ian e Iago, gêmeos de 20 anos envolvidos com o crime desde a adolescência.

Iago está preso desde o fim de 2019, por envolvimento em assassinato durante “tribunal do crime” do PCC (Primeiro Comando da Capital). Ian, que respondia a processos por tráfico de drogas e também era suspeito de participar de execuções, teve destino pior: foi assassinado a tiros nesta segunda-feira de Carnaval, no Parque do Sol, em Campo Grande.

“Ele escolheu a opção errada”, resumiu o pai ao falar de Ian. Sobre o outro filho, diz que vai se esforçar para “tirá-lo desse caminho”. Gilvano atribuiu a trajetória dos gêmeos ao consumo de drogas. Para ele, a entrada no “mundo do crime” começou dessa forma.

Gilvano contou que só trabalhou em escola de periferia - hoje atua no bairro Dom Antônio Barbosa, vizinho ao local de morte do filho. Segundo ele, a situação de Ian repete perfis que vê “todos os dias” na comunidade.

“Sempre deixei claro para eles e para todos os jovens para qual lecionei que o que importa nessa vida é viver de cabeça erguida”, afirmou em resposta à reportagem, junto com a afirmação que abre esse texto. Antes de pedir para encerrar a entrevista, em respeito ao momento de dor, o pai aproveitou para dizer a outros que estejam em situação parecida para ter coragem e não desistir dos filhos, garantindo que não fará isso em relação ao que está preso.

Despedida pública - No Facebook, o pai se despediu de Ian Guilherme dizendo que o olhar “sonhador” do filho ficará como lembrança mais forte. Cita, ainda, “coisas não ditas, tantas outras não vividas, mas muito amor sentido”.

“O tempo não volta, as coisas não podem ser refeitas, fica apenas o vazio de um homem que perdeu uma parte de si”, escreveu.

“Não é nada fácil, descrever o que sinto não tem como, a vontade é apenas dormir. A vontade é escrever um livro de tanta coisa para falar, gritar até o fim do mundo, mas a única coisa que consigo é ficar imóvel”, continuou.

Diante da mensagem pública, o Campo Grande News procurou Gilvano, que além de professor em escola pública municipal, é diretor do sindicato dos professores em Campo Grande e ex-candidato a vereador pelo PPS, para comentar o que, para qualquer família, é uma tragédia.

Pai de seis filhos, ele não chegou a ser casado com a mãe dos gêmeos. Pelo que a reportagem apurou, os jovens viviam com ela em Três Lagoas até em torno de três anos atrás e depois passaram a viver só os dois em Campo Grande.

Ian respondia a dois processos por tráfico e também foi citado em depoimento sobre um “júri” a mando do PCC. Iago está preso por esse motivo. Os dois são apontados, segundo apurado pela reportagem, como lideranças da facção na região sul de Campo Grande.

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