Prefeita diz que muitos assistentes de autistas não queriam mais o cargo
Troca de assistentes educacionais de alunos por convocados foi inevitável, segundo Adriane Lopes
Apesar do apelo de pais e mães, a troca de assistentes educacionais inclusivos para estudantes autistas feita na terça-feira (2) não tem volta. A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (Patriota), explicou que entende as necessidades dos alunos e estuda formas de melhorar o serviço, mas não havia como evitar a substituição, porque havia profissionais que não queriam continuar no cargo.
Os pais reclamam porque pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) têm dificuldades com mudanças de rotina, que causam estresse e ansiedade. Famílias relataram que as crianças choraram muito no primeiro dia com o novo assistente e houve até vômitos, como reação emocional.
A troca não depende somente de nós. Os profissionais também não aguentam e eles cansam e pedem para sair, porque não é fácil cuidar de uma criança autista. Então, é complicado manter o mesmo profissional, porque, às vezes, até o profissional não quer estar mais na rede”, justificou a prefeita, em entrevista durante o lançamento do projeto Adubando Oportunidades, na manhã desta quarta-feira (3), no Polo Empresarial Oeste.
Novos assistentes - A Semed (Secretaria Municipal de Educação) realizou seleção em que 2.651 profissionais foram aprovados, neste ano, e chamados para entregar documentos. Desses, 318 assistentes educacionais inclusivos foram chamados em abril. O número refere-se a novas contratações e mudanças de contrato, conforme a secretaria.
Atualmente, são 841 assistentes educacionais inclusivos atendendo em 40 horas semanais nos turnos matutino e vespertino, em cada uma das escolas que têm estudantes não somente autistas, mas também crianças com outros transtornos, síndromes e deficiências, com laudo que comprova a necessidade do acompanhamento.
Fila de espera - A Semed não revelou o número de alunos que estão na fila por assistentes, mas, em nota, garantiu que "novas chamadas de profissionais acontecerão durante o ano".
O problema não é novo. Em agosto do ano passado, famílias fizeram protesto em frente à prefeitura pedindo a contratação de assistentes.
Em fevereiro deste ano, mães reclamaram que os filhos iniciaram o ano letivo sem os assistentes e, por isso, servidores de outras áreas estavam acumulando função para auxiliar autistas. Foi então que a secretaria respondeu que já havia uma seleção em curso para contratações.
Faltam recursos financeiros para atender cada um dos alunos como os pais gostariam, segundo a prefeita. Ela lembra que a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) determina que é preciso um profissional para até cinco alunos, portanto, com as contratações, o município vai atendendo a demanda, avaliando grau de necessidade de cada um, no caso do autismo, mas não consegue designar um assistente para cada estudante, por isso estuda meios de instituir novas formas para atender melhor os alunos.
A gente não tem um modelo ideal ainda, nem no Brasil tem. É um desafio construir um modelo. Então, o que estamos buscando, e o secretário de Educação, Lucas Bitencourt, está trabalhando, é para ir compondo essas equipes, mas aquilo de ter exclusividade de ter um profissional por aluno, o município não tem condições financeiras para isso”, comentou Adriane.
A prefeita revelou que a secretaria estuda uma alternativa, que seria ter, em cada uma das sete regiões da Capital, uma escola de referência no atendimento aos autistas, mas destaca que tudo isso ainda está sendo estudado e discutido antes de qualquer iniciativa.