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Cidades

"Estamos em guerra" , alertam índios após assembléia

Redação | 08/06/2009 09:27

A comunidade guarani-kaiowá concluiu três dias de reuniões em Juti proclamando: "Estamos em Guerra". Documento assinado pelas lideranças durante o Aty Guasu (assembléia indígena), denuncia truculência de fazendeiros, fraude da Polícia Federal e morosidade na demarcação de terras, elementos que na avaliação deles carrega ainda mais de tensão uma disputa já cercada de violência em Mato Grosso do Sul.

"Somos um povo pacífico. Porém essa realidade faz com que o nosso povo viva o maior índice de violência contra os povos indígenas do Brasil. Temos a pior situação de demarcação de terras indígenas do Brasil, menos de 1% do território do Estado de Mato Grosso do Sul, para a segunda maior população indígena do País, em comparação, vemos outros Estados da Federação, que produzem mais e cuja porção de terra indígena passa dos 10% do território", reclamam em documento assinado ao fim da reunião.

O encontro teve a participação de 300 lideranças de 23 aldeias, na "Terra Indígena Takuara", em Juti. Para ouvir, foram chamados representantes do Ministério Público Federal, Funai e Assembléia Legislativa.

As discussões lembraram os números de assassinatos e estatísticas recentes que colocam sob responsabilidade dos índios crimes que na versão das comunidades são cometidos por fazendeiros.

Ao fim dos debates, uma carta foi elaborada exigindo respostas sobre alguns desses casos. Os principais alvos são proprietários rurais da região de fronteira, em particular nas cidades de Amambai e Coronel Sapucaia.

"Até quando aguardaremos a conclusão do inquérito policial sobre a morte da anciã Julite Lopes, de 73 anos, que foi baleada e morta na frente de mais de 60 pessoas em janeiro de 2007 e que até hoje o assassino continua ameaçando nosso povo ", questionam no documento.

A comunidade também denuncia dois fazendeiros que,segundo os guarani, balearam 4 indígenas em Amambai e depois "botaram a culpa em nossa própria liderança, que teve até decretação de prisão concedida pela Justiça Estadual".

Os índios questionam a forma como é conduzida a investigação sobre a morte de Osvaldo Lopes, no dia 29 de maio. Segundo eles, a Polícia atua de forma fraudulenta em Amambai e Coronel Sapucaia, alegando ter sido atropelamento, "quando temos todos os tipos de provas de que Osvaldo foi assassinado por tiros de pistola a mando de fazendeiros por lutar pela demarcação de nossa terra", argumentam.

Lideranças dizem que depois da morte, têm recebido ligações telefônicas, mensagem e ameaças verbais, "sem que ninguém tome qualquer providência para investigar os criminosos".

Dentro outros itens relacionados durante o Aty Guasu está a investigação sobre "os abusos de autoridade e ameaças contra a comunidade de Passo Pirajú, em Dourados, que vem constantemente sofrendo com as prisões de suas lideranças e membros da aldeia, além dos constantes tiros e ameaças", garantem.

- A luta maior continua pela terra, a origem dos conflitos. As lideranças cobram a imediata conclusão dos procedimentos de identificação das 36 terras indígenas, determinados em portarias publicadas no ano passado e republicadas este ano pela Funai.

Eles lembram do apoio incondicional pela reconquista de territórios como a terra Laranjeira Nhanderu, na fazenda Santo Antônio, em Rio Brilhante.

No mês passado as famílias acampadas na área receberam ordem de despejo, mas recorreram e ganharam mais 90 dias para deixar o local. Nesse meio tempo, a comunidade espera que seja concluído processo de demarcação no local.

Outro ponto disputa no Estado.

Indenização - As críticas também são dirigidas ao governo estadual. "Repudiamos a postura do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul que ao invés de buscar uma solução para a demarcação de nossas terras, conforme a orientação feita pelo Ministério Público Federal, vem empreendendo todos os esforços para que sejam cancelados os trabalhos de identificação de nossos tekohá, pregando mentiras que somente aumentam o racismo e a intolerância contra o nosso povo"

Os índios exigem solução jurídica adequada para o pagamento de eventuais indenizações dos ocupantes não-indígenas de boa-fé.

Nesse ponto, eles também defendem que só devem receber os que respeitam a Legislação Ambiental Brasileira "quanto às áreas de mata que devem ser obrigatoriamente preservadas nas fazendas e os que respeitaram a preservação dos recursos hídricos da região".

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