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Cidades

Juíza Federal que está sob ameaça do crime organizado condenou 700 em um ano

Corte na verba do Ministério da Justiça afetou o contingente da Polícia Federal, comprometendo a segurança dos magistrados.

Ana Paula Carvalho | 03/05/2011 16:20
Juíza de Ponta Porã é uma das prejudicadas por falta de escolta.
Juíza de Ponta Porã é uma das prejudicadas por falta de escolta.

Ameaças de morte contra a juíza Lisa Taubemblatt, de Ponta Porã, começaram no segundo semestre do ano passado e se intensificaram no começo deste ano.

Em fevereiro, ela e a magistrada Lidiane Maria Oliva Cardoso, também de Ponta Porã, passaram 20 dias com escolta de cinco seguranças cedidos pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (SP/MS). “Eles fizeram a nossa segurança no mês de fevereiro e em uns poucos dias do mês de março, mas a verba acabou”, afirma.

O corte virou manchete nacional e um temor para magistrados que atuam na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. As juízas de Ponta Porã estão entre os 300 juízes federais de varas criminais do País que estão sob ameaça do crime organizado, segundo um levantamento feito pela Ajufe (Associação dos Juízes Federais).

“O que nós queremos é a segurança necessária para nos dirigirmos ao nosso local de trabalho”, pede.

Para a magistrada, as ameaças são decorrentes do trabalho realizado pelo judiciário e pela Polícia Federal. Só em 2009, ela proferiu mais de 700 sentenças, na maioria das vezes relacionadas ao tráfico de armas e entorpecentes. “O trabalho da Polícia Federal tem sido muito bom. Com o serviço de inteligência, estamos conseguindo puxar o novelo”, comenta sobre o crime organizado.

A juíza diz que teme pela segurança, mas sabe que a falta de escolta é devido o baixo contingente da Polícia Federal. “Lamentavelmente a Polícia Federal está com um contingente baixo. Posso falar com você ao telefone e ser ameaçada sem saber, por isso é necessário um trabalho de inteligência para identificar essas ameaças”, lamenta.

Segundo a juíza, foi essa inteligência que identificou uma ameaça contra ela e a juíza Lidiane em fevereiro. A ameaça foi veiculada pela imprensa através de uma nota e foi identificada pelos policiais. “Eles fizeram de um jeito que chegasse até a mim”, afirma, sem detalhar o teor.

“Os traficantes têm se tornado mais ousados, porque eles têm mais a perder”, diz a juíza. E esse é um dos motivos para a ameaça. “Estou em Ponta Porã desde 2006. Trabalho principalmente com narcóticos, armas e munições. Tem acontecido um aumento no tráfico de cocaína e os traficantes estão mais descarados na hora de realizar o transporte. Já pegamos grandes quantidades de drogas sendo transportadas para estados brasileiros”, relata.

A juíza garante que não mudou a rotina por causa das ameaças. “Hoje eu sou a juíza federal que mais proferiu sentenças e quando você começa a fazer um bom trabalho, as pessoas começam a ter a atenção voltada para você. Por nossa causa, os interessados no negócio ilícito perdem”, diz.

Segundo a Polícia Federal, contingente foi afetado devido à redução do orçamento deste ano destinado pela União ao Ministério da Justiça. Se não há contingente suficiente, a segurança dos magistrados acaba sendo afetada. “Houve um corte de verba. É inegável que isso vai afetar lá na ponta”, afirma a assessoria de comunicação da Polícia Federal.

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