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Cidades

Pai faz "sucesso" ao falar sobre salário baixo de professor da rede privada

Aline dos Santos e Ricardo Campos Jr. | 16/01/2015 16:52
Postagem feita por Vinícius (Foto: reprodução / Facebook)
Postagem feita por Vinícius (Foto: reprodução / Facebook)

Causou espanto e quase 25 mil compartilhamentos, mas o desabafo feito em uma rede social pelo oficial de Justiça Vinícius Siqueira, 38 anos, preocupado com a raquítica remuneração dos professores que dariam aula para sua filha é realidade para grande parcela dos mestres na rede particular de ensino. O valor da hora/aula foi determinante na escolha do estabelecimento de ensino.

Guiado pelos diretores, o pai era convidado e acompanhado em um tour pelas estruturas de laboratórios, salas multimídia, espaços recreativos, etc. Mas, nada disso impressionava Vinícius que, ao fim, questionava: "Qual o valor do salário pago aos professores?".

"Muitos ficavam bravos comigo, diziam que não era um assunto da alçada dos pais. Teve algumas escolas que recusaram. Acho que nunca tinham perguntado isso antes. Em uma das escolas acharam que eu estava pedindo emprego. As reações foram as piores possíveis", contou Siqueira.

O valor girava sempre em torno de R$ 8 a hora/aula. Na escola em que, depois de muita procura, o oficial acabou efetivando a matrícula, são pagos R$ 15 a hora/aula. "Eu ainda acho pouco, mas não achei uma que pagasse mais", afirmou.

"Eu acho que a partir do momento que a escola perceber que está tendo recusa de matrícula por causa do valor da hora aula dela, as coisas melhoram", comenta.

Sobre a quantidade de compartilhamentos que a postagem teve, "todo mundo ficou assustado", diz. "Essa repercussão, eu achei foi pouca em Campo Grande. As pessoas que compartilharam são do Brasil inteiro. Muita gente de fora. Eu queria que essa ideia se disseminasse, que os pais tivessem isso em mente. A gente fica reclamando e falando que professor ganha pouco, mas quando indiretamente você vai contratar um professor, não se preocupa com isso".

Basta uma atitude para começar a mudar o mundo e Vinícius deixa um recado: "que os pais se preocupem não só com seus filhos, mas com os professores que vão ensiná-los".

Indignante - “Tem professor que ganha menos de um salário mínimo por causa da hora-aula. Acontece que hoje, os profissionais trabalham de manhã, tarde e noite. Não têm tempo para preparar aula, não têm tempo para a família”, afirma o presidente do Sintrae (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Setor Privado), Eduardo Botelho. O sindicato tem 2.300 filiados, mas representa oito mil profissionais distribuídos em 34 municípios.

Segundo ele, o valor de R$ 8,19 é para o ensino infantil e ensino fundamental 1 (que vai do primeiro ao sexto ano). Apesar de, especialmente no segmento infantil, a mensalidade ser alta, Eduardo Botelho afirma que a maioria paga esse piso. “Poucas pagam acima, só as maiores escolas”, salienta. Nessas modalidades de ensino, a melhor remuneração chega a R$ 15 por hora-aula.

Com data-base no mês de março, a categoria quer reajuste de 20% no valor de R$ 8,19. Segundo Botelho, a rede pública vem melhorando, com definição de piso salarial e aplicação de um terço de hora-atividade, benefícios que não chegam à rede particular.

“A rede privada não tem nada, tentamos duas vezes no Tribunal Superior do Trabalho ter um terço de hora-atividade. As escolas alegam que estão quebrando, que não tem condições de aumentar. Aí nos vamos só para baixo”, diz o presidente do Sintrae. O sindicato fará assembleia no dia 31 de janeiro para discutir o reajuste salarial.

Presidente do Sinepe (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Mato Grosso do Sul), Maria da Glória Paim Barcellos, afirma que vai se manifestar sobre o pedido de reajuste quando receber a pauta. Quanto às críticas postadas na rede social, ela disse somente que o valor é de conhecimento público e que é muto relativo pai falar de hora-aula.

Salário dos professores é uma triste realidade no país, diz presidente do Sintrae. (Foto: Paulo Francis)
Salário dos professores é uma triste realidade no país, diz presidente do Sintrae. (Foto: Paulo Francis)
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